Artigo: Valorização da água no setor agropecuário

Através de diversos usos a água se tornou objeto de valoração sendo colocada como insumo-produto; sem ela não é possível o desenvolvimento de diversos setores

Por Vários Autores* – Diversos procedimentos existentes em nosso planeta se perfazem através da utilização do elemento água, o que torna imprescindível a oferta em quantidade e qualidade desse bem, como na produção e reprodução de vários seres vivos (PALHARES, 2016). Em diferentes circunstâncias e com níveis segundo a demanda necessária, a utilização do recurso hídrico para o consumo humano e animal é atualmente um ponto de discussão e preocupação, haja vista a escassez em diferentes regiões, com possibilidade de que esse bem renovável possa futuramente não ser capaz de suprir a carência em grande escala mundial (RODRIGUES & CRUVINEL, 2019).

Através do uso para fins doméstico, industrial e agropecuário, a água se tornou objeto de valoração sendo colocada como insumo-produto, já que sem esta não é possível o desenvolvimento e consequente engrandecimento econômico em tais setores (MONTOYA & FINAMORE, 2019). Em contrapartida ao que se sugere, a oferta em qualidade e utilização desse recurso por muitas vezes não ocorre de forma ideal, como observado em diversas comunidades carentes em todo o país, onde parte do sistema de saneamento básico é deficiente ou não está presente, interferindo diretamente na saúde pública e nos índices de qualidade de vida da população local, com sugere a Portaria n° 2.914 de 12 de dezembro de 2011 que dispõe dos procedimentos de vigilância e qualidade da água destinada ao consumo humano (BRASIL, 2011).

Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Água e Saneamento Básico (ANA), cerca de 175 milhões de brasileiros tem acesso a água tratada através do sistema de saneamento básico, o que não supri a estimativa populacional de 213 milhões de brasileiros segundo o último censo do IBGE (2021). Atrelado ao consumo humano, o crescente consumo hídrico pelo setor agropecuário, em especial o que é destinado à dessedentação de animais deve considerar a manutenção desse recurso e de preservação ambiental como um pilar para o sucesso das diversas atividades que abrangem o desenvolvimento e sucesso dessa área, já que a escassez de tal recurso também está ligado a impactos negativos relacionados a novas tendências de consumo, como aumento do estresse e decréscimo do bem-estar animal (ITAL, 2020).

Ações para que o uso racional da água possa ser expandido, diminuindo perdas e gerando conservação das fontes renováveis, vem sendo utilizadas por diversas empresas e propriedades do setor agropecuário, onde metas de curto e longo prazo são estabelecidas com base em cada programa operacional dentro da indústria, e junto a isso as mesmas empresas geram apoio a órgãos nacionais e internacionais que tem por objetivo gerar sustentabilidade do uso de recursos hídricos e amparo do meio ambiente (ITAL, 2020).

Não menos importante, a tomada de consciência e implementação de atitudes por parte de médios e pequenos produtores é crucial para que a política ambiental de valorização e conservação das fontes de água superficiais e subterrâneas ocorram da forma mais abrangente possível, pois através de tais ações será possível tornar gradativas e firmadas em todas as regiões do país a manutenção por exemplo Áreas de Preservação Permanentes -APP, descritas em lei, através do Código Florestal Brasileiro (BRASIL, 2012). Mas, também através do quesito socioeconômico, a importância da água e o privilégio de estar em um país com tantas fontes disponíveis deve ser considerado e frisando a economia gerada, independentemente do modelo de produção ou até mesmo de seu produto.

Outro fator que eleva a importância de recursos hídricos é a demanda mundial por alimentos de origem animal, sendo a principal frente de ação da pecuária em nosso país, onde tal produção é um dos grandes destaques mundiais, como descrito pelo levantamento da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), com quantidades de animais em índices crescentes, como descrito na Imagem 1. Cerca de 218 milhões de bovinos demonstram que a bovinocultura é uma das principais atividades do seguimento, o que correlacionado a ingestão diária de água para dessedentação em torno de 50 litros por animal expressa a preocupação em se atentar aos aspectos de oferta, bem como de qualidade de parâmetros do recurso hídrico ofertado a esses animais (PALHARES, 2013).

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2020. (Adaptado pelo autor).
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Agropecuária, Pesquisa da Pecuária Municipal 2020. (Adaptado pelo autor).

Diferentes fontes de água são ofertadas aos bovinos seja na bovinocultura de corte ou leite, e fatores como a genética, idade, tipo de dieta, ingestão de matéria seca, ingestão de sal, taxa de ganho de peso, umidade e temperatura podem influenciar no consumo hídrico dos animais, e diretrizes criadas dentro da criação podem gerar melhor aproveitamento do recurso, tais como gerar indicadores de desempenho hídrico, estabelecer programas operacionais de uso da água, utilizar práticas de manejo para melhoria na qualidade da água, mensurar o impacto econômico do desperdício da água, inserir o manejo dos resíduos hídricos, gerar ações para mantença do sistema e fluxo ambiental local (PALHARES, 2016).

Considerações finais

Implementações de diversas ações relacionadas à melhoria da qualidade dos recursos hídricos, manutenção das fontes subterrâneas e superficiais, bem como o emprego de biotecnologias que visem assegurar a oferta de água em parâmetros indicados aos animais diretamente, devem ser estimuladas a fim de que a água como um dos pilares para o agronegócio possa ser utilizada e mantida para as próximas gerações. Ao saber disso, não importa se será para humanos ou animais, a água de qualidade e em quantidade deve ser ofertada a todos, a fim de que mais que manutenção tecnológica, que possamos ter desenvolvimento da pecuária e melhora na qualidade de vida.

Autores:

Naílla Crystine de Carvalho Dias – Aluna do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia do Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde.

Wolff Camargo Marques Filho – Professor EBBT Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Campus Cristalina.

Marco Antônio Pereira da Silva – Professor EBBT Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Campos Rio Verde.

Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás- FAPEG.

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Referências

PALHARES, J. C., Produção animal e recursos hídricos. EMBRAPA. São Carlos. Editora Cubo, 2016; 11 p. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1048070/producao-animal-e-recursos-hidricos.

RODRIGUES, L. N., CRUVINEL, P. E. Recurso Água. Biomas e Agricultura: oportunidades e desafios / organizadores: Evaldo Ferreira Vilela, Geraldo Magela Callegaro, Geraldo Wilson Fernandes. – Rio de Janeiro: Vertente edições, 2019.


MONTOYA, M. A., FINAMORE, E.B., Os recursos hídricos no agronegócio brasileiro: Uma análise insumo-produto do uso, consumo, eficiência e intensidade. Texto para discussão N° 10/2019. Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativa e Contábeis-Universidade de Passo Fundo.2019. Disponível em: https://www.upf.br/_uploads/Conteudo/cepeac/textos-discussao/10-2019.pdf.

BRASIL- Ministério da saúde. Portaria N° 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Gabinete do Ministro. Brasília, 2011. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e-bebidas/portaria-no-2-914-de-12-de-dezembro-de-2011.pdf/view.

ANA-Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. – Brasília: ANA, 2019.

IBGE -Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pecuária Municipal 2020. Rio de Janeiro. 2020 Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/84/ppm_2020_v48_br_informativo.pdf

BRASIL. Código Florestal Brasileiro. Lei N° 12.651, de 25 de maio de 2012. Presidência da República. Brasília. 2012. Disponível em: https://www.embrapa.br/codigo-florestal/entenda-o-codigo-florestal/area-de-preservacao-permanente

ITAL Indústria de alimentos 2030: ações transformadoras em valor nutricional dos produtos, sustentabilidade da produção e transparência na comunicação com a sociedade. 1. ed. –São Paulo: Ital/Abia, 2020. Disponível em: https://ital.agricultura.sp.gov.br/industria-de-alimentos-2030/4/

PALHARES, J. C. P.; Consumo de água na produção animal. Comunicado técnico 102. EMBRAPA Pecuária Sudeste, São Carlos. São Paulo. 2013. Disponível: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/971085

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