A seleção de características relacionadas ao rendimento de carcaça e cortes nobres faz parte dos programas de seleção desde a década de 1970.
O progresso genético envolvido no desempenho produtivo do frango de corte ao longo das últimas décadas é bem conhecido. Dados da indústria norte-americana nos últimos 50 anos têm mostrado ganhos anuais de 30 a 40 gramas de peso vivo na mesma idade e 1,5 a 2,0 pontos em conversão alimentar (National Chicken Council, 2022). O ganho de peso tem sido consistentemente a principal característica selecionada desde a década de 1950. Atualmente, mais de 50 características, que abrangem todos os aspectos biológicos das aves, são consideradas nos objetivos de seleção, dentre as quais pode-se citar o rendimento e qualidade de carne, a viabilidade e resistência à desafios sanitários, o bem-estar animal e o uso eficiente de alimento.
Aumentar o número de características sob seleção significa dividir a intensidade de seleção e, portanto, diminuir a velocidade de ganho genético em cada uma delas. Mais ou menos como uma pizza dividida para quatro ou oito pessoas, à medida que aumenta o número de pessoas (características) diminui o tamanho de cada pedaço (ganho genético). Portanto, para manter o ganho genético adequado em cada característica, os programas de melhoramento têm investido significativamente em tecnologia de ponta, utilizando equipamentos de última geração e novas técnicas de avaliação individual e metodologia de cálculos dos valores genéticos dos indivíduos candidatos à seleção, permitindo uma maior precisão. A correta definição dos objetivos de seleção e aplicação criteriosa de uma seleção balanceada também tem papel fundamental no progresso genético contínuo e balanceado dessas características.
A seleção de características relacionadas ao rendimento de carcaça e cortes nobres faz parte dos programas de seleção desde a década de 1970. Inicialmente, apenas com uma avaliação visual e palpação do animal, que mesmo sendo uma técnica subjetiva, um selecionador bem treinado pode identificar facilmente uma ave pela conformação do peito, com boa precisão de seu rendimento. Essa técnica deu início ao progresso genético em rendimento de carne, principalmente de carne de peito. Posteriormente, equipamentos desenvolvidos para a área médica como o ultrassom 2D, ultrassom 3D e tomógrafo foram incorporados aos programas de seleção. A Aviagen®, uma das mais conceituadas empresas de genética do mundo, é pioneira no uso da tomografia computadorizada para seleção de suas linhagens. As imagens em 3D produzidas pelo tomógrafo trouxeram significativa melhora na precisão da avaliação, superior a 95% (Souza, 2019), do rendimento e qualidade de carne dos indivíduos candidatos à seleção (Figura 1).
A incorporação de tais tecnologias proporcionaram também benefício na redução da incidência de miopatias peitorais em frangos de corte. Apesar das alterações nos critérios de condenações para miopatias ocorridas no Brasil a partir de 13 de dezembro de 2019 através do Ofício-Circular nº 17/2019/CGI/DIPOA/SDA/MAPA, ainda há perdas econômicas devido à presença em diferentes graus de miopatias dentro das plantas de processamento – destinação para produtos de menor valor agregado.
A miopatia peitoral profunda, também conhecida como doença do músculo verde, faz parte do programa de seleção genética da Aviagen desde a década de 1990. As demais condições como estriações musculares (white striping), peito amadeirado (wooden breast) e peito espaguete (stringy-spongy), foram adicionadas ao programa de seleção em 2012 com a finalidade de melhorar a resistência das aves em expressá-las a campo frente aos diferentes desafios do sistema produtivo.
O processo de seleção baseia-se na combinação das informações de rendimento na planta de processamento dos indivíduos pertencentes a família dos candidatos à seleção e avaliação dos próprios candidatos à seleção, com uso da tomografia computadorizada que permite identificar por densidade, principalmente o peito amadeirado. Os resultados têm sido promissores e mesmo que baixo componente genético (Bailey et al., 2015), em poucos anos, haverá uma diminuição ainda mais significativa das condenações no frigorífico. No entanto, deve-se observar que é improvável que a incidência de miopatias peitorais cheguem a zero somente devido à seleção genética, já que a maior parte da variação, acima de 65%, deve-se a fatores não genéticos (Bailey et al., 2015), que se identificados corretamente e corrigidos promovem rápido impacto na redução de sua incidência.
A saúde esquelética e metabólica é um pré-requisito para qualquer produto comercial de sucesso. Ao mesmo tempo que o frango de corte moderno adquire maior potencial de crescimento, eficiência alimentar e rendimento de carne, é essencial um desenvolvimento no mesmo ritmo dos sistemas musculoesquelético e cardiorrespiratório. Para isso, é fundamental manter o balanço entre a melhoria da eficiência biológica e as características relacionadas a saúde e o bem-estar animal. Isso se consegue mediante a seleção de múltiplas características, inclusive na presença de antagonismos genéticos, para melhorar tanto as condições físicas como o desempenho das aves, desde que ambos os grupos de características sejam incluídos em um programa de seleção amplo e balanceado (Figura 2).
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Figura 2. Avanços nos últimos anos para qualidade de pernas e viabilidade relacionados à melhora no peso vivo. Cada linha colorida representa a relação entre o valor genético do peso vivo com a qualidade de pernas ou viabilidade dentro de um ano. A linha pontilhada representa a direção conjunta do valor genético médio das duas características no gráfico. Fonte: Souza, 2019.
Resistência óssea e deformidades esqueléticas fazem parte das preocupações dentro das plantas de processamento, uma vez que podem ter impacto no processo desde a pendura até a classificação do produto final. Carcaça com baixa resistência óssea pode apresentar quebra óssea já no processo de retirada das penas, com a movimentação dos dedos de borracha da máquina, podendo impactar ainda a evisceração e principalmente a desossa automática das carcaças. A ausência de ossos em determinados produtos torna-se tão importante que algumas empresas utilizam equipamentos de raio X como um ponto crítico de controle (PCC) para detectar a presença de resíduos como micro ossos nas carnes. Esse procedimento auxilia no atendimento aos padrões de seus produtos e contribui para a qualidade entregue ao consumidor.
O programa de melhoramento genético da Aviagen tem uma longa história de seleção de características relacionadas à saúde das pernas e qualidade do esqueleto. Desde a década de 1970, todo e qualquer indivíduo candidato à seleção é avaliado quanto a deformidades angulares (valgus e varus). Isso permitiu não apenas a identificação de indivíduos que expressavam o problema, mas também das famílias com alta incidência, permitindo uma seleção eficaz contra uma ampla gama de deformidades (dedos tortos, deformação femoral, espondilolistese, peito assimétrico, entre outras). Adicionalmente, no final da década de 1980, foi introduzido como ferramenta de seleção o Lixiscópio, um aparelho de raio X em tempo real, que permitia detectar a incidência clínica e subclínica da discondroplasia tibial, caracterizada pela assincronia no processo de diferenciação dos condrócitos, levando a formação de uma camada de condrócitos pré-hipertróficos e de uma cartilagem na tíbia proximal que não sofreu calcificação. Atualmente, se faz uso da tomografia computadorizada que permite identificar com muito mais precisão os indivíduos que apresentam a forma subclínica do problema. Outras características relacionadas diretamente a saúde e o bem-estar animal, tais como empenamento e qualidade dos pés, também fazem parte dos programas de seleção.
O aproveitamento e rendimento de pés tornaram-se importantíssimos nos resultados das plantas de processamento com a grande valorização do produto no mercado. China, incluindo Hong Kong, é o principal mercado de destino, com preço muito competitivo e também bastante exigente em qualidade. Assim, quanto menores os “defeitos” no produto final como presença de lesões (pododermatites) e manchas de pigmentação escura, melhor o seu valor de mercado.
A pododermatite ou também calo de pé, é um tipo de dermatite de contato que atinge o coxim plantar das aves, podendo acometer também os coxins digitais acompanhada de erosões e, nos casos mais graves, úlceras (Teixeira et al., 2019). Essas lesões comprometem o bem-estar das aves e por conseguinte o desempenho zootécnico, aumentando as perdas no frigorífico. Embora tenha um fator genético, este tem menor influência que as condições criatórias como qualidade da cama, densidade de alojamento, nutrição e climatização do aviário. As manchas de pigmentação escura nos pés é uma condição genética complexa com vários genes envolvidos. Ainda que os indivíduos candidatos à seleção sejam avaliados na população de pedigree, estas ainda podem aparecer nos frangos de corte, mas com incidência pouca significativa.
A ocorrência de lesões de pele que depreciam a carcaça podem estar relacionadas com problemas de mau empenamento. Este por sua vez, apresenta uma etiologia multifatorial envolvendo, portanto, aspectos nutricionais, hormonais, genéticos e ambientais. A seleção para empenamento faz parte dos programas de seleção desde a década de 1990, utilizando escores de pontuação para classificação na qualidade de cobertura do corpo da ave em diferentes idades. Esse processo de seleção é muito importante para balancear a alocação dos recursos e garantir que a ave tenha uma taxa de empenamento que acompanhe a taxa de crescimento.
A adoção de uma estratégia sólida e aplicação de uma seleção balanceada, pelos programas de melhoramento, tem possibilitado o progresso genético contínuo e concomitante entre eficiência biológica, saúde e bem-estar animal, promovendo um frango geneticamente superior em várias características, inclusive as relacionadas com qualidade de carcaça.
Fonte: Revista do AviSite
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