WhatsApp: Ferramenta importante ao produtor, mas cuidado!

Aplicativo faz parte da vida de milhões de produtores, usar com cautela a ferramenta para que as fórmulas mágicas apresentadas não sejam uma cilada.

Por Fabrício Tillmann

Este é um relato e contém minha opinião pessoal e profissional, e no final, tenho um conselho muito importante para todos produtores do Brasil, do pequeno e humilde até o grande empresário do ramo.

Recentemente tenho aproveitado parte do meu tempo livre para observar as conversas em grupos de WhatsApp relacionados à troca de informações entre produtores rurais, (agricultores e pecuaristas), junto com a presença de profissionais técnicos e vendedores de produtos de todo o país.

Acho muito importante esse veículo e essa troca de conhecimento, também participo as vezes, e apoio quem cria e mantém estes grupos sempre em ordem.

Tenho notado, na maioria das vezes é uma belíssima vontade de ajudar e essa vontade é demonstrada pela rapidez com que as pessoas respondem às perguntas dos demais, com recomendações de métodos ou de produtos. Algo que admiro e respeito muito, pois mostra o quanto podemos ser unidos dentro de um país tão grande.

Mas, com base nessa vontade de ajudar e principalmente querer fazer rápido também percebi que muitas vezes a resposta acaba vindo sem a preocupação por trás da realidade da outra pessoa.

Por exemplo, vi um produtor perguntando em um grupo sobre gado, que raça de touro ele deveria usar para cruzar com suas vacas, e a resposta veio quase de imediata de um técnico: Faz inseminação artificial, é muito melhor que usar touro, por isso e por aquilo etc.”. 

Logo após o produtor respondeu: “Moço, eu tenho só duas vaquinhas no meu terreno, e mal consigo mantê-las, só perguntei por que tenho vários vizinhos que me ofereceram seus touros (cada um de uma raça diferente) para eu cruzar com elas em troca de uns litros de leite que eu lhes dou…etc.”, e mesmo assim o rapaz ainda insistiu nos benefícios do método, uma atitude que se tornou um pouco desconfortável ali mas que depois se resolveu.

E isso não só com tecnologias, mas também pessoas fazendo recomendações de produtos que usam ou vendem, como por exemplo formulações de minerais para gado, medicamentos e antibióticos, adubos, corretivos de solo, raças de animais e até espécie de forrageiras, vejam só:

Outro dia um rapaz perguntou o que ele poderia fazer para suprir a falta de forragem desta época, e então, outro rapaz do sul do país rapidamente indicou o plantio de aveia nas áreas de cultura, e complementou: “pode fazer que dá certo!”, só que ele, sem nem perceber ou perguntar, estava recomendando isso pra um produtor do Pará! O cara respondeu na hora que “não sabia nem o que era a tal de aveia”, obviamente, pois essa planta não se desenvolve por lá!

Além disso, percebi cada vez mais a atividade de vendedores recomendando e oferecendo produtos, muitas vezes de alto valor agregado, como melhoradores de desempenho, medicamentos de uso restrito, e até mesmo “super-fertilizantes” que precisam só de poucos litros por hectare etc… todos com a linda justificativa de que aumentará a produtividade da sua cultura ou animal que cria. 

Eu não discordo de que os produtos realmente fazem isso, inclusive já fiz uso de muitos destes, principalmente em testes de comprovação, porém o que gostaria de alertar, tanto à quem oferece quanto à quem pensa em comprar que não adianta você usar um produto relativamente caro, sendo que na maioria dos casos o produtor tem baixa produtividade por questões muito mais simples, como por exemplo falta de água limpa pros animais beberem, ou até mesmo falta de comida!

“É como oferecer um aditivo de combustível de fórmula 1 para o dono de um carro comum com a justificativa de que vai andar mais rápido!” De fato, ele pode até andar mais rápido, um pouco, mas com certeza ele vai quebrar, isso se o dono não falir antes por causa do alto custo do incrível produto”.

Enfim, quero chegar com esse relato aos seguintes pontos:

  • A quem está disposto a ajudar ao próximo, que tome o máximo cuidado para não dizer algo que está totalmente fora da realidade do outro;
  • A quem pede informação, que tome cuidado com as dicas que recebe, tenha certeza de que é isso mesmo que precisa para melhorar sua atividade, antes de fazer para depois não se deparar com um problema ainda maior;
  • A quem oferece produtos “melhoradores” que deixe claro que estes produtos possuem alto valor agregado e que só devem ser utilizados onde a atividade já tenha um mínimo de condições. Por favor, não convença alguém a comprar sabendo disso, lembre-se, você ganhar dinheiro às custas do futuro prejuízo do outro é, além de imoral, um crime!

E para finalizar, meu conselho a todos produtores do Brasil:

Procure sempre o auxílio técnico de um profissional que você tenha alguma referência. Se você é um pequeno produtor, procure os órgãos públicos de pesquisa e assistência técnica da sua região, ou se puderem, se unam em grupos de vizinhos pra dividir os custos de um profissional qualificado, mas façam isso com alguém que vocês poderão cobrar resultados pelo seu investimento.

E aos demais produtores, sua fazenda é diferente da fazenda do seu vizinho, em vários aspectos, você precisa parar de reproduzir todo ano algo novo que viu dar certo por aí, sua empresa só cresce se você planejar, fazer contas, avaliar os riscos e só então depois de ter algumas garantias fazer aquilo com segurança. E para isso vale muito a pena investir em um profissional fixo na fazenda, ou então consultor técnico qualificado para fazer este serviço por você! 

Lembre-se: Mais vale investir mil reais em conhecimento e planejamento do que arriscar meio milhão em prejuízo.

E outra:

Alta produtividade nem sempre significa lucro. tudo tem um custo e deve ser avaliado.

Um abraço a todos produtores do nosso Brasil!

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