Afirmação do que o país detém mais de 100 milhões de hectares improdutivos é do ator brasileiro Wagner Moura; fala foi reproduzida em vídeo nas redes sociais do MST
“WAGNER MOURA ESTÁ COM O MST!”. A afirmação está nas redes sociais do Movimento Sem Terra (MST), no material publicado no X, antigo Twitter, integrantes do movimento dizem que a mensagem foi enviada pelo ator aos companheiros em apoio a luta luta pela Reforma Agrária no Brasil. O governo de Lula institui nos últimos dias o Programa Terra da Gente e dispõe sobre a incorporação de imóveis rurais no âmbito da Política Nacional de Reforma Agrária, o decreto tem chamado a atenção de proprietários de terras.
Estão dentre as modalidades de obtenção de imóveis rurais previstas no decreto, a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária; a desapropriação por interesse social para promover a distribuição da terra; a expropriação de imóveis rurais com exploração de trabalho em condições análogas à escravidão, a ser regulamentada pelo Incra; a arrematação judicial de imóveis rurais penhorados em execuções, a aquisição mediante autorização judicial de imóveis rurais penhorados em execuções em trâmite na Justiça do Trabalho e a adjudicação de imóveis rurais em execuções relativas a débitos federais tributários ou não tributários.
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Durante a gravação do vídeo Wagner Moura diz que o movimento serve de inspiração para o ator. “Meus amigos, minhas amigas, meus companheiros e companheiras irmãos e irmãs da MST esse movimento pelo qual tenho tanta admiração, que me inspira tanto, que me ensinou tanto na minha vida esse momento de assembleia, eu quero só deixar registrado sempre meu carinho aqui na minha casa, meu carinho, minha admiração e para sempre minha solidariedade sempre a MST que agora reivindica o assentamento de 60 mil famílias o fortalecimento do programa de aquisição de alimentos” – disse o ator.
Em outra parte da declaração a celebridade disse que o “João Paulo” mandou uma mensagem para ele dizendo que o Brasil tem 100 milhões de hectares de terras improdutivas, o que é indecente, que ratifica a histórica desigualdade social no país.
O ator vai mais adiante. “Isso toda começa como a terra é dividida nesse país, por tanto que pelo menos parte desses 100 milhões de hectares de terra volte para os povos originários, para a população indígena, quilombolas, agricultores, famílias, homens e mulheres sem terra nesse país que a gente possa estar sempre junto lutando para que essa desigualdade, para que essa injustiça acabe” – resumiu Wagner.
O João Paulo citado pelo ator é possivelmente João Paulo Rodrigues, coordenador do MST, e uma das lideranças do movimento que recentemente disse que pautas essenciais para o movimento não estão sendo contempladas pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo ele, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra pode promover novas “mobilizações” para “melhorar” a vida de seus integrantes, mas não como forma de “retaliação” ao governo.
O Brasil tem mesmo 100 milhões de hectares de terras improdutivas?
Comprovadamente que não. As informações de que o Brasil tem 100 milhões de hectares de terras improdutivas são do início da década de 2000. Em 2003, no primeiro governo de Lula, o então presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, apresentou dados que a maioria das grandes propriedades rurais do Brasil é improdutiva. Segundo ele, em 2003, o País possuía 58.329 grandes propriedades improdutivas. O que equivale a 133,8 milhões de hectares.
Para se ter uma noção 100 milhões de hectares equivalem a 1 milhão de quilômetros quadrados, o que traz uma Bolívia inteira de terras improdutivas, essa informação contrasta com outra, bem mais positiva. O Brasil, somente nas últimas décadas triplicou suas áreas agrícolas, alcançando 62 milhões de hectares. Lavouras de soja, arroz, cana de açúcar, algodão e outras já ocupam extensão superior a de países como França e Espanha, aponta levantamento do MapBiomas.
Imagens de satélite analisadas pelo MapBiomas revelam que a área ocupada pela agricultura em território brasileiro teve um aumento de 226,3% entre 1985 e 2021. Ainda nesse mesmo período, a silvicultura teve uma escalada ainda maior: um crescimento de 598%. O estudo concluiu que a área total de agricultura mapeada no Brasil passou de 19 milhões de hectares em 1985 para 62 milhões de hectares em 2021.
Desse total, destacam-se as ditas lavouras temporárias, que ocupam quase 60 milhões de hectares, o que configura um crescimento de 3,3 vezes, passando de 18,3 milhões em 1985 para 59,9 milhões de hectares em 2021. Segundo o MapBiomas, esse aumento ocorreu principalmente em municípios do Cerrado e do Pampa, mas também houve avanço na Amazônia, entre municípios de Amazonas, Rondônia, Acre, Roraima e Pará.
O que o Brasil tem são pastagens com baixa produtividade. O Brasil precisa recuperar cerca de 60 milhões de hectares de áreas de pastagens com baixa produtividade para poder evoluir em direção a uma economia verde. No trabalho, a pesquisadora Susian Martins, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), conclui que 50% dos pastos brasileiros estão em processo de degradação. Segundo ela, de modo geral, a causa é o manejo inadequado e deficiências na conservação.
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