Com menor interesse de compras por parte dos frigoríficos, a expectativa por uma continuação da alta do boi gordo foi frustrada.
Já ouviu a expressão “voo de galinha”? “Sucesso de curta duração, não duradouro, por falta de condições; êxito breve.” – Ela se encaixa muito bem no mundo da pecuária. Assim como as galinhas, que são aves, têm asas e penas, mas não voam, muitas vezes pensamos que o preço da arroba vai decolar, mas pressões do mercado e poucos negócios podem fazer o valor do boi despencar.
Com as negociações perdendo intensidade, o viés positivo do mercado físico do boi gordo arrefeceu e quatro praças monitoradas apresentaram ajustes negativos no preço da arroba, GO, MS, PA e TO. Em São Paulo, a arroba do boi comum caiu para R$ 285,00, mas com o “boi China” subindo para R$ 295,00/@, a média da região se manteve estável em R$ 290,00/@. Na B3, o contrato com vencimento para dez/22 fechou o dia em R$ 290,85/@, queda de 1,46%.
Durante as duas primeiras semanas de dez/22 foram exportadas 47,78 mil toneladas de carne bovina in natura, uma média de 6,83 mil t/dia, 8,3% inferior à média diária registrada em nov/22. Quando se compara com a média de embarques diários de dez/21, a média de dez/22 encontra-se 23,7% superior, vale lembrar que neste período no ano passado as exportações para a China ainda estavam limitadas.
Se os envios mantiverem esse ritmo durante todo o mês, pode ser registrado um novo recorde mensal para dezembro, que atualmente é de dez/19 com 148,77 mil toneladas vendidas para o mercado internacional.
Analista prevê forte queda no preço do boi
Os preços da arroba do boi gordo deverão oscilar entre R$ 250 e R$ 270 em São Paulo no ano que vem, projeta a consultoria Safras & Mercado. O novo patamar de preços – muito mais baixo que o deste ano, quando houve negócios a R$ 350 – seria resultado da queda da demanda chinesa e do já esperado aumento na oferta de gado.
“Teremos um boi mais firme no começo do ano, mas depois os preços vão cair”, diz o analista Fernando Iglesias. “Algumas pessoas têm a impressão de que as commodities se estabilizam no topo, mas não é assim. E o ciclo do boi está apontando para baixo, com todo aquele investimento que o pecuarista fez em aumento de capacidade produtiva entre 2019 e 2021”.
A boa condição das pastagens no começo do próximo ano tende a ajudar o produtor a reter o gado no campo para ganhar poder de barganha com a indústria. Porém, Iglesias não acredita que esse movimento vá durar muito tempo.
Os frigoríficos já estão diminuindo o ritmo de atividades em algumas unidades e se reposicionando para lidar com o novo cenário, segundo o analista. “Há um esforço brutal do pecuarista neste momento para conseguir vender a R$ 300 em São Paulo”, afirma. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) registrou negócios entre R$ 280 e R$ 290 na semana passada.
Exportações em queda
Para o analista, as exportações, que ajudaram o segmento a contrabalançar o declínio do consumo no mercado interno, não repetirão o desempenho “espetacular” de 2022, já que a China, principal destino dos embarques, reduziu sua dependência externa.
“O Brasil continua sendo a melhor opção global [para os importadores], mas teremos um movimento um pouco mais discreto”, avalia Iglesias. Ele projeta exportações de 2% a 3% menores em 2023.
Os números dos embarques deverão começar a refletir a queda das compras chinesas a partir de fevereiro. “Veremos os efeitos dos lockdowns nos relatórios da Secex [Secretaria de Comércio Exterior] dentro de 45 a 60 dias”, afirma.
As medidas de restrição sanitária para conter a covid-19 na China e uma forte desvalorização do yuan teriam, de acordo com o analista, deflagrado um movimento de renegociação entre importadores chineses e exportadores brasileiros. “É por isso que vemos agora preços médios que são quase a metade do pico que ocorreu em junho”, diz.
Com informações da Agrifatto e Valor Econômico
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