O cavalo nordestino é reconhecido por sua incrível capacidade de percorrer longas distâncias sem o uso de ferraduras, sendo capaz de alcançar até 70 quilômetros em um único dia. Essa impressionante habilidade de resistência é uma marca registrada dessa raça, que se desenvolveu ao longo dos séculos em resposta às exigentes condições do sertão do Nordeste; conheça esse equino espetacular
Poucas raças de cavalos no mundo podem se orgulhar de uma capacidade inata de percorrer 70 km por dia sem ferraduras, sobrevivendo em terrenos espinhosos e pedregosos sem apresentar sinais de cansaço. O cavalo nordestino é uma dessas raridades, descendente direto do cavalo Barbo, Bérbere ou Norte-Africano, introduzido no Brasil durante o período colonial. Esta raça, moldada pelas adversidades do Nordeste brasileiro, destaca-se não só pela sua resistência e adaptabilidade, mas também pela sua contribuição histórica e cultural.
A introdução dos cavalos no Brasil remonta a 1534, quando Dona Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Souza, trouxe os primeiros animais das ilhas da Madeira e das Canárias. Em 1535, Duarte Coelho iniciou a criação de cavalos em Pernambuco. A documentação concreta sobre a introdução dos cavalos no Brasil data de 1549, com Tomé de Souza recebendo cavalos de Cabo Verde. Garcia D’Ávila, senhor da Casa da Torre no litoral da Bahia, desempenhou um papel crucial na disseminação de bovinos e equinos pelo interior do Nordeste através do Rio São Francisco, em condições extremamente adversas.
Características marcantes
As características do cavalo nordestino destacam-se por sua versatilidade e robustez, tornando-o um valioso aliado no sertão brasileiro. Desde seu porte e conformação até suas aptidões multifuncionais, cada aspecto deste cavalo reflete sua adaptação histórica às exigências do Nordeste.
Porte e conformação: O animal é de porte médio, com altura variando entre 1,30m e 1,50m na cernelha. Ele apresenta uma conformação bem proporcionada, musculatura definida e forte. A cabeça é pequena e larga na frente, com ganachas afastadas e um perfil que varia de retilíneo a subconvexo. O pescoço é de comprimento médio, piramidal e bem implantado, complementando um tronco médio com boas espáduas e uma cernelha levemente saliente.
Pelagem e temperamento: A pelagem é predominantemente castanha, mas também pode ser encontrada em tordilha, alazã, pedrês e baia. Ele possui um temperamento ativo e dócil, o que o torna ideal para várias atividades, incluindo trabalho com gado, esportes e tiro leve. Seus olhos são afastados, móveis e expressivos, e suas orelhas são medianas e bem dirigidas.
Cascos e andamento: Os cascos do cavalo nordestino são rígidos e geralmente pretos, características que contribuem para sua robustez. Ele é conhecido por sua marcha confortável, o que oferece um andar suave e estável para o cavaleiro. Este tipo de andamento é altamente valorizado, especialmente para longas jornadas e trabalhos diários no campo.
Aptidões e usos: O equino demonstra grande aptidão para o trabalho com gado devido ao seu temperamento e resistência física. Além disso, ele é utilizado em diversas atividades esportivas e no transporte de cargas leves. Sua versatilidade o torna um companheiro indispensável para o vaqueiro nordestino, capaz de desempenhar múltiplas funções com eficiência e habilidade.
Resistência e adaptação fenomenal
O cavalo nordestino é um exemplo notável de resistência e adaptação às condições adversas do sertão nordestino. Ao longo dos séculos, essa raça desenvolveu uma notável capacidade de sobreviver em ambientes áridos, quentes e muitas vezes hostis, característicos da região. Sua resistência física é evidenciada pela habilidade de percorrer longas distâncias sem mostrar sinais de cansaço, chegando a percorrer até 70 km por dia, sem a necessidade de ferraduras.
Além disso, sua adaptação ao terreno pedregoso e irregular do sertão é impressionante. Os cascos rígidos e geralmente pretos são capazes de suportar o desgaste causado por essas condições, permitindo que o cavalo nordestino se mova com agilidade e segurança mesmo em terrenos difíceis. Essas características de resistência e adaptação não apenas evidenciam a robustez dessa raça, mas também sua importância histórica e cultural como um símbolo da vida no Nordeste brasileiro.
Esforços para a preservação desses equinos
A conservação e valorização do cavalo nordestino têm sido temas de grande importância para os criadores e entusiastas da raça. Com esforços concentrados em preservar suas características únicas, várias associações, como a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN), têm desempenhado um papel fundamental nesse processo. Através da promoção da criação responsável, do registro genealógico e da participação em eventos de divulgação, essas associações visam garantir a continuidade e a valorização deste patrimônio genético equino brasileiro.
Além disso, a valorização do cavalo nordestino não se limita apenas ao âmbito nacional. Com esforços para atrair interesse e reconhecimento internacional, criadores e associações buscam expandir o alcance e a apreciação dessa raça única além das fronteiras do Brasil. Ao destacar suas qualidades funcionais, sua história e sua importância cultural, esses esforços contribuem não apenas para a preservação da raça, mas também para sua inserção no cenário global equino, garantindo-lhe um lugar de destaque no mundo equestre.
Relação da raça com o Mapa
A relação da raça do cavalo nordestino com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil tem sido marcada por uma busca por reconhecimento e regulamentação. Embora o órgão reconheça a raça e tenha aprovado seu padrão em 1987, há desafios significativos em consolidar uma criação organizada da raça e em atrair mais interesse e investimento.
Em documentos emitidos pelo MAPA, como em 2016, foram destacadas a necessidade de organização da raça e a estimativa de cerca de 500 mil animais vivos, entre puros e mestiços. No entanto, apesar do reconhecimento, há observações sobre a desativação de associações responsáveis pelos equinos ao longo dos anos. Isso sugere a necessidade de um maior engajamento por parte dos criadores e entidades ligadas à raça, além de uma maior coordenação com o MAPA para promover a conservação e o desenvolvimento sustentável do cavalo nordestino.
Importância imprescindível para o Nordeste
A importância do cavalo nordestino para a região do Nordeste do Brasil é gigantesca e multifacetada. Desde os tempos coloniais, esses cavalos desempenharam um papel crucial na vida econômica e cultural da região, sendo indispensáveis para atividades como o trabalho com gado, transporte de carga e deslocamento em terrenos agrestes. Sua resistência excepcional e adaptação ao clima árido e às condições adversas do sertão garantiram sua relevância ao longo dos séculos, tornando-os parceiros confiáveis e valiosos para os vaqueiros e habitantes do campo.
Além de seu papel prático, o cavalo nordestino também possui uma importância simbólica e cultural profunda na identidade nordestina. Eles são celebrados em festividades, festas e manifestações culturais, sendo parte integrante do folclore e da tradição da região. Sua presença é uma lembrança vívida da história e da resistência do povo nordestino, representando uma conexão tangível com suas raízes e uma fonte de orgulho para as comunidades locais. Assim, a preservação e valorização dos equinos não apenas garantem a continuidade de uma raça única, mas também sustentam uma parte essencial da identidade e da herança cultural do Nordeste brasileiro.
Escrito por Compre Rural.
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Juliana Freire sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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