Nova Zelândia quer tributar agricultores pelos arrotos e peidos de suas vacas; Primeira-ministra fala que é um primeiro passo para precificar as emissões agrícolas a partir de 2025.
Agricultores da Nova Zelândia foram às ruas, nesta 5ª feira (20.out), para protestar contra o projeto de lei que prevê tributar as emissões de arrotos e gases por gados. A iniciativa foi proposta na última semana e, segundo o governo, tem como objetivo combater a crise climática global, provocada por gases de efeito estufa.
No início do mês, a primeira-ministra de centro-esquerda Jacinda Ardern apresentou um projeto de lei para taxar os gases do efeito estufa emitidos de forma natural pelas seis milhões de vacas e 26 milhões de ovelhas no país. Tratores, jipes e outros veículos prejudicaram o tráfego em cidades como Wellington e Auckland para protestar contra o que é chamado de imposto contra “o arroto e o peido” dos animais.
De acordo com a agência de notícias Ansa, os produtores rurais usaram tratores para se manifestar de forma contrária ao plano governamental. Um dos integrantes do Groundswell NZ, grupo que defende os interesses agropecuários no país da Oceânia, Bryan McKenzie criticou de forma veemente a ideia de se criar uma nova taxa sobre o setor responsável pela produção de alimentos.
“O compromisso ideológico do governo com impostos punitivos e contraproducentes sobre as emissões da produção agrícola ameaça a existência das comunidades rurais”, afirmou McKenzie. Nas redes sociais, além de exibir fotos e vídeos das manifestações, o Groundswell NZ tem criticado abertamente o ministro da Agricultura da Nova Zelândia, Damien O’Connor, que está no cargo desde 2017.
Impostos punitivosBryan McKenzie
“Caro Damien, seu comentário desdenhoso e seu pequeno sorriso foram um insulto aos membros trabalhadores do nosso setor agrícola, o mesmo povo trabalhador que você deveria representar e defender”, reclamou o grupo diante do posicionamento do ministro. O’Connor foi um dos idealizadores do projeto para se taxar o ‘arroto do boi’ na Nova Zelândia.
A Nova Zelândia é um grande exportador de gado e carne, e tem cerca de 10 milhões de bovinos e 26 milhões de ovelhas. A agricultura responde por metade das emissões totais do país, incluindo 91% de suas emissões biogênicas de metano, um potente gás de efeito estufa com mais de 80 vezes o poder de aquecimento global do dióxido de carbono no curto prazo.
“Apresentamos nossa proposta de precificação de emissões”, declarou o ministro em 11 de outubro, dia em que a proposta foi divulgada pelo governo neozelandês. “Apoiamos amplamente o que eles apresentaram: nível de fazenda, gás split, reconhecimento de sequestro e manutenção de gases agrícolas fora do ETS”, complementou o titular da Agricultura da Nova Zelândia.
“Está ficando difícil continuar criando gado e este governo não está realmente nos apoiando. É um trabalho difícil no momento”.
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Caso avance, o imposto impactará o setor que movimenta a economia do país. Atualmente, a agropecuária é responsável por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) da Nova Zelândia. Além disso, a atividade é detentora de 65% das receitas com exportações.
“A maior parte da redução nas emissões da Nova Zelândia será apenas substituída por agricultores estrangeiros menos eficientes” , disse Groundswell NZ
“O imposto agrícola não apenas reduzirá a produção de ovinos e bovinos em 20% e a produção de laticínios em 6%, mas afetará pouco as emissões globais, pois a maior parte da redução nas emissões da Nova Zelândia será apenas substituída por agricultores estrangeiros menos eficientes que entrarão em nossa fatia do mercado”, afirmou, em nota, o Groundswell NZ.