Caminhoneiro tenta furtar milho, é humilhado e caso repercute; Imagens provocaram revolta nas redes sociais e fizeram dono da fazenda se manifestar; Confira!
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o gerente de uma fazenda chamou de “ladrão” um caminhoneiro que parou o veículo e pegou cerca de 20 espigas de milho na lavoura, às margens de uma rodovia que corta o município de Cabeceiras, no nordeste de Goiás, a 339 km da capital. Com sotaque sulista, Fernando Rosbach aproveitou o episódio para atacar o que ele chamou de “goianada”.
O gerente gravou a situação no momento em que o caminhoneiro já carregava as espigas de milho nos braços. “Eu vou procurar na internet quem é o dono desta empresa. Aqui o motorista ladrão, roubando meu milho. Parabéns, cara, você acaba de ser notificado como ladrão”, disse o gerente da Fazenda Bianco.
Em geral, os proprietários de plantações permitem que populares peguem poucas quantidades de milho verde para consumo próprio, desde que peçam autorização previamente. Do contrário, o ato é considerado furto simples, com pena de reclusão de 1 a 4 anos.
Ameaças
Depois da repercussão negativa, o caso foi parar na delegacia. No entanto, a investigação não é só para apurar o furto de milho, visto que a quantidade que seria levada pelo homem é muito baixa perto do tamanho da plantação, o que não qualifica crime.
Segundo o delegado Thiago Cesar, a Polícia Civil (PC) procura os suspeitos de ameaçar o gerente, que chegaram a dizer que iriam colocar fogo no milharal, além de produzir vídeos atirando com armas de fogo no local, fazendo menção a Fernando.
“A difamação do gerente em relação ao povo goiano, que inicialmente seria um crime simples, virou algo mais complexo por conta das ameaças que vem ocorrendo com armas de fogo e contra a própria plantação. Neste primeiro momento, estamos tratando o caso como: ameaça, racismo praticado pelo gerente contra o caminheiro e difamação contra a honra dos goianos, no qual depende de alguma alguma denuncia. Ou seja, de um goiano que se sentiu ofendido”, disse.
Veja o vídeo:
Em seguida, o caminhoneiro perguntou se poderia deixar as espigas onde estava, mas Fernando ordenou que fossem deixadas na caminhonete. “Põe lá dentro da caminhonete. Vou passar para polícia”, afirmou o gerente.
“Roubando milho”
“Vou mostrar como faz agora essa goianada roubando milho, não tem vergonha na cara, não tem caráter. Se eu for à sua casa, entrar no seu quintal e pegar alguma coisa, sou ladrão ou não sou?”, questionou Fernando. O caminhoneiro, por sua vez, concordou e pediu “desculpa”.
No entanto, o gerente não parou de gravar nem de atacar o caminhoneiro. “Então, não custa nada pedir. Por que tem que pegar?”, perguntou, de novo, Fernando, antes de o caminhoneiro colocar as espigas na parte traseira da caminhonete.
Repúdio
O vídeo viralizou e repercutiu nas redes sociais. O prefeito da cidade de Cabeceiras (GO), Tuta, reclamou do gerente para o dono da fazenda Bianco e repudiou o caso.
“Boa tarde a todos, foi com muita tristeza que recebi o vídeo desse episódio envolvendo o caminhoneiro e o gerente da fazenda Bianco. Logo em seguida, fiz contato com o proprietário da fazenda, Arno Bruno Vaz, por não ter o contato do gerente Fernando”, diz um trecho da nota. “É inadmissível que uma pessoa se acha no direito de corrigir um erro com exageros e humilhações”, afirmou.
O presidente do sindicato Rural de Cabeceiras, Jacó Rotta, também se pronunciou e manifestou “indignação”. “A atitude tomada extrapolou os limites do bom senso e respeito ao próximo. Não é certo pegar sem permissão, mas não justifica tal atitude. Em nome de todos os produtores, pedimos desculpas pelo ocorrido”, afirmou.
“Atitudes preconceituosas”
Em nota, o dono da Fazenda Bianco, Arno Bruno Weis, disse “não apoiar comportamentos e atitudes preconceituosas como as proferidas pelo gerente ao se deparar com uma pessoa furtando milho em uma das lavouras”. “Uma atitude injustificável”, afirmou.
No entanto, o fazendeiro disse que sofre prejuízos significativos com os exagerados furtos diários de milho. “Já houve casos de pessoas com carga completa de milho em camionetes e pequenos caminhões. Em algumas oportunidades pessoas armadas praticando o furto de milho. Para reduzir os furtos nunca se sabe quem vamos encontrar roubando milho”, disse.
O Compre Rural não conseguiu contato com o gerente da fazenda que fez a gravação e nem o motorista, que não teve a identidade divulgada.
Nota Oficial Fazenda:
Confusão
Como dito pelo delegado, a atitude do gerente não foi bem vista pela população da região. O prefeito da cidade de Cabeceiras (GO), Everton Francisco de Matos (Tuta), chegou a ligar para o dono da fazenda, Arno Bruno Weis, denunciando o gerente. O mandante exigiu que Fernando se retratasse pela fala desrespeitosa, alegando que era inadmissível que uma pessoa se achasse no direito de corrigir um erro com exageros e humilhações.
Procurada, a defesa do gerente disse que a fala não passou de um “mal entendido” e que Fernando é uma pessoa simples, que não mediu as palavras. Já a fazenda onde o homem trabalha disse que não apoio o ato do empregado e que sofre perdas constantes por conta dos furtos. Mesmo depois da repercussão, Fernando continua trabalhando na fazenda.
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Furtar milho é crime?
Sim, mesmo que esteja na faixa de domínio da rodovia, a justiça entende o furto de milho como um furto simples.
“Há entendimento de que quem furta umas cinco espigas para saciar a fome sua e de familiares, trata-se de furto famélico, impunível”.
A pena para os crimes de furto simples varia de um a quatro anos de prisão. No caso de furto qualificado, quando há arrombamento de cercas e portões, a penalização fica entre dois e oito anos de prisão.
Em geral, os proprietários de plantações permitem que populares peguem poucas quantidades de milho verde para consumo próprio, desde que peçam autorização previamente.