Depois de subir quase 50%, a arroba do boi gordo busca equilíbrio entre a demanda e oferta. Uma coisa é certa, os pecuaristas não vão vender barato!
O mercado segue buscando um equilíbrio devido ao lento escoamento da carne no mercado interno. Exportações seguem em bom ritmo, em novembro o Brasil exportou 155,6 mil toneladas de carne bovina in natura, 2,8% menos do que foi exportado em outubro e 19,2% maior do que em igual período de 2018.
Com a demanda chinesa por proteínas em alta, 2020 deverá ser bom para a exportação. Com o cenário de preços físicos com fortes altas, no começo da segunda quinzena de novembro apareceram negócios no mercado futuro do boi gordo para outubro de 2020 por até R$230,00/@, à vista, sem o Funrural.
No final de novembro, ainda com os preços do boi gordo subindo fortemente, o mercado atacadista teve dificuldade em repassar essas altas para o varejo (mercado doméstico).
Com isto, começaram a aparecer ofertas de compra menores e o gado, que estava retido em razão das valorizações consecutivas, apareceu, não em excesso, mas em maior volume. Isso foi suficiente para que os preços no mercado físico cedessem, assim como os futuros, e os preços exuberantes ficaram para trás.
O ponto é que, mesmo quando o mercado físico trabalhava no patamar de R$230,00/@, os preços futuros não superaram tal marca.
Outubro de 2020 pessimista
Na manhã de 6/12, o mercado futuro para outubro de 2020 aponta para uma cotação 0,4% menor que a de dezembro de 2019, na B3. Aqui usamos preços futuros para dezembro (mês atual) porque o mercado tem se ajustado, com isso, estes valores da B3 já ponderam um valor menor que o vigente no físico (figura 1).
Figura 1. Relação entre o preço de outubro do boi gordo, com dezembro do ano anterior (no caso de 2020, são preços na B3).
Perceba que é umas das piores projeções de variação da série. E se analisarmos os outros anos com quedas no intervalo, vemos que o “cluster” deste bloco não é homogêneo.
Em 2005 tivemos a febre aftosa em Mato Grosso do Sul e o mercado já vinha em queda, com abates de fêmeas crescentes.
Em 2009 tivemos a “marolinha”, que dispensa apresentações e, no setor, quebrou dezenas de frigoríficos.
E 2017? Também não precisa de muita força para puxar pela memória: Carne Fraca, volta do Funrural, delações dos diretores da JBS.
Já 2011 e 2012 foram anos relativamente calmos, mas ocorreram após anos de sucessivas altas, salvo 2009, cujo consumo foi afetado pela crise.
Para 2020, a China deve continuar com bons volumes comprados, mesmo que em preços possivelmente mais calmos.
Um ponto é que o mercado doméstico deve continuar melhorando, possivelmente mais rápido que o esperado no passado recente. Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre vieram positivos e as projeções para a economia devem ser revistas nas próximas semanas.
O bezerro que o boi de 2020 foi um dia
Não é porque um bezerro foi comprado valorizado que o boi vai ser bem vendido anos depois.
No entanto, o bezerro em alta demonstra um cenário de oferta limitada da categoria, o que gera alguma redução na disponibilidade de bois nos anos seguintes. Não é regra, pois a demanda também oscila, mas vale dar uma olhada no histórico.
A figura 2 mostra a relação entre o preço de venda do boi gordo e o preço de compra do bezerro, 24 meses antes, ambos em arroba. A data no eixo refere-se ao momento de venda, com os preços futuros de 6/12, no caso de 2020.
Figura 2. Relação entre a cotação de venda do boi gordo em do bezerro 24 meses antes, valores nominais, ambos em arrobas.
As cotações projetadas para 2020 apontam para valorizações de menos de 20% sobre a arroba do bezerro de 2018.
Em outros momentos de preços em alta, com retenção de fêmeas, tivemos relações de mais de 60% para o boi vendido em meados de 2008 (bezerro de 2006) e de 40% ao final de 2014 (bezerro de 2012).
A título de referência, 20% e 40% de ágio sobre a arroba do bezerro de outubro de 2018 seriam arrobas do boi gordo de 217,00/@ e 253,00/@ para outubro de 2020.
Possíveis estratégias
Como dito, é bem possível que o mercado futuro esteja pessimista com o que acontecerá em outubro e outros meses. É provável que o mercado futuro siga pressionado pelo cenário do físico, mas quando houver a estabilização no mercado do boi gordo, os contratos futuros devem ter ainda mais espaço para reagir.
Com isto, temos algumas possibilidades.
Se o pessimismo de outubro (e outros contratos) for real, há oportunidades para garantir a aquisição de arrobas no mercado futuro, para quem tem reposição a ser feita no segundo semestre de 2020. Quanto à compra de contratos futuros, cabe a advertência de que o mercado físico ainda está se ajustando e isso pode perdurar por algum tempo. Ou seja, adquirir contratos futuros, mesmo que provavelmente interessantes, ainda deve custar ajustes até o cenário firmar de maneira mais sólida.
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Outra possibilidade é a busca por opções de compra (calls). Como o mercado físico atualmente está mais calmo, as opções de compra ficam menos valorizadas. Há também a questão de volatilidade e prazo longo, que as encarecem, mas é algo a ser acompanhado.
Assim como foi 2019, o próximo ano não está indicando um cenário atrativo para travar preços, ainda mais nos patamares futuros atuais. No entanto, se o leitor quiser desconsiderar o cenário positivo esperado e garantir os preços, é uma boa estratégia sempre, apenas não deixe de se manter exposto às altas.
Temos um cenário de mais frigoríficos habilitados à China, em relação ao início de 2019, e estes devem entrar na briga pelo gado a termo em 2020, tentando garantir parte desta oferta de confinamento do segundo semestre.