Convergência única de fatores estão fazendo com que algumas cooperativas estejam com seus silos abarrotados de grãos impossibilitando receber a safra atual
Na última semana a Frisia Cooperativa Agroindustrial emitiu um comunicado de suspensão temporária de recepção de milho. Segundo o comunicado a cooperativa está em um momento delicado em relação a recepção da safra de verão 22/23. A dificuldade de expedição de grãos, baixa comercialização de safras passadas e uma alta produtividade no campo têm impactado o recebimento nos entrepostos da Frísia.
Por conta deste cenário, a cooperativa precisará suspender temporariamente o recebimento de milho em suas unidades entre os dias 29/03 e 15/04. Ressaltamos que diversas ações têm sido tomadas buscando a melhora do fluxo e capacidade estática.
Nos últimos anos, em vários momentos nós da CompreRural noticiamos empresas e cooperativas armazenando os grãos a céu aberto por falta de espaço nos armazéns e silos. Outro exemplo é Mato Grosso que produz milhões de toneladas de grãos e não tem capacidade para armazenar toda a produção. Em anos normais, boa parte da soja é vendida antes da chegada da segunda safra e os armazéns ficam com espaço para receber o cereal, mas desta vez isso não aconteceu e o jeito foi deixar grandes volumes de grãos a céu aberto.
Essa convergência de fatores têm causado um grande transtorno para empresas de armazenagens e cooperativas de grãos. No vídeo abaixo vemos os grãos literalmente “saindo pelo ladrão” de um dos silos. Não há confirmação que o silo seja da Frísia.
A safra brasileira de grãos segue a passos largos para mais uma colheita recorde. Segundo o mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a temporada 2022/23 está estimada em 310,6 milhões de toneladas, um incremento de 38,2 mi/t em relação ao período anterior. O principal grão cultivado, a soja, deve atingir uma produção de aproximadamente 152,9 mi/t. Entretanto, ao mesmo tempo que estes números impressionam, também causam apreensão e frio na espinha em muitos produtores, com o retorno de um velho pesadelo: a falta de estocagem da colheita. Um problema gerado pelo descompasso entre produção e armazenagem.
Embora o Brasil passe a despontar entre os maiores produtores de grãos do mundo, o país, no entanto, ainda apresenta um sistema de armazenamento insuficiente, com uma capacidade estática capaz de estocar cerca de 60% de uma única safra. Devido ao déficit de capacidade estática o produtor se vê obrigado a vender o produto a preços mais baixos, sem força de competição, diminuindo assim a sua lucratividade na safra.
Além disso, o escoamento dos grãos para os portos fica ainda mais difícil, pois as filas de caminhões aumentam e os cereais ficam armazenados em suas carrocerias por vários dias, enfrentando alterações de temperatura, o que leva à deterioração e perda de qualidade física e química, parâmetro indispensável na comercialização.
Brasil está aumentando sua capacidade de armazenar?
A capacidade de armazenagem agrícola no país chegou a 188,8 milhões de toneladas no primeiro semestre, um crescimento de 3% em relação ao segundo semestre de 2021. Insuficiente para o tamanho da produção brasileira.
De acordo com o levantamento, o número de estabelecimentos que armazenam produtos agrícolas cresceu 2,2% do segundo semestre de 2021 para o primeiro semestre deste ano, totalizando 8.378. Os dados de Mato Grosso não foram coletados devido a dificuldades operacionais, mas a capacidade do estado foi estimada com base nas informações fornecidas no primeiro semestre do ano passado.
Os silos predominam no país, com capacidade útil de 96,1 milhões de toneladas, seguidos pelos armazéns graneleiros, com 70 milhões de toneladas, e armazéns convencionais, estruturais e infláveis, 22,6 milhões de toneladas.
Entre os estados, o Rio Grande do Sul tem o maior número de estabelecimentos (2.183), enquanto o Mato Grosso tem a maior capacidade de estocagem (46,9 milhões de toneladas).
O total de produtos estocados no fim do primeiro semestre chegou a 65,5 milhões de toneladas, uma alta de 10,5% em relação ao armazenado no fim do primeiro semestre de 2021, de 59,2 milhões de toneladas.
Em relação aos cinco principais produtos agrícolas estocados nas unidades armazenadoras, que representam 95,8% do total, os maiores volumes são a soja (35,3 milhões de toneladas), milho (19,3 milhões), arroz (5,1 milhões), trigo (2,3 milhões) e café (800 mil).
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