Agricultor de Mato Grosso, maior produtor de soja, perde 600 hectares de soja e faz relato importante sobre o cenário de prejuízos, dúvidas e incertezas que podem ocasionar uma crise iminente no setor agro brasileiro
A safra de grãos vêm passando por uma grande dificuldade com o cenário climático desafiador que o país enfrenta com o El Niño. Na localidade de Água Boa, situada no Mato Grosso, o fazendeiro Jonas José Apio compartilha sua experiência autêntica e sincera com a situação crítica que enfrentou em sua área de 600 hectares dedicada ao cultivo de soja, plantada no período de 5 a 8 de dezembro de 2023. Jonas observou, com pesar, o fracasso do desenvolvimento da soja, atribuído a uma série ininterrupta de 34 dias de sol forte, que foi seguida por uma estiagem de 14 dias. Esse cenário destaca as dificuldades e a natureza imprevisível da agricultura, na qual as condições climáticas desempenham um papel crucial.
No universo das commodities agrícolas todas as atenções estão voltadas para o Brasil Central, em especial para Mato Grosso, maior produtor de soja do país. Tradicionalmente conhecido por sua excelente aptidão agrícola, o estado enfrenta desafios significativos no atual ciclo, que podem resultar em uma quebra histórica nas colheitas.
Após três anos de colheitas recordes impulsionadas pelo fenômeno meteorológico La Niña, o El Niño trouxe um cenário desafiador. Altas temperaturas combinadas com chuvas escassas e irregulares atrasaram o plantio, obrigando muitos agricultores a replantar a soja, em alguns casos, mais de uma vez. Em algumas áreas, estima-se que a perda da soja já atinja a casa dos 20%.
Infelizmente, confirmando a tendência de quebra na safra, não é a primeira vez que Jonas expressa sua opinião sobre questões agrícolas. No fim de dezembro, ele foi um dos primeiros a indicar o risco de uma queda substancial na próxima colheita de grãos. Agora, ele foca na soja, um componente vital da economia brasileira.
A partir da situação atual e das previsões de especialistas, Jonas estima um declínio na produção de soja do Brasil. Levando em conta a colheita recorde de 154 milhões de toneladas no ano passado, uma diminuição estimada de 20%, principalmente devido a condições climáticas desfavoráveis, levaria a uma produção total de cerca de 120 milhões de toneladas.
A produção brasileira de soja 2023/24 deverá totalizar 151,36 milhões de toneladas, estimou nesta sexta-feira, 05, a consultoria Safras & Mercado, reduzindo em 4,3% sua projeção na comparação com o número divulgado em 8 de dezembro, considerando novas perdas pelo tempo seco. Se o volume atual for confirmado, a Safras indica retração de 4,1% sobre a safra da temporada anterior, que atingiu recorde de 157,83 milhões de toneladas.
Entretanto, Jonas traz à tona uma dúvida pertinente sobre o aumento de área plantada. Muitos analistas, assim como a Conab, sugerem um aumento de 2 milhões de hectares para a safra 2023/2024, mas o agricultor questiona a projeção. Segundo ele, esse aumento pode ser mais conservador, em torno de 1 milhão de hectares.
“Vários produtores já direcionaram seus talhões, que eram para ser cultura de soja, já plantaram safrinha e tem muitos talhões aqui no Mato Grosso que estão em terra nua, ainda sem nenhum nenhuma cultura.“, avalia Jonas.
Agricultor perde 600 hectares de soja, confira o relato:
Jonas compartilha um sentimento comum entre os agricultores: a incerteza
A inquietação dele vai além do aspecto técnico, espelhando a tensão e as apreensões enfrentadas pelos agricultores brasileiros diante de desafios climáticos incertos. Contudo, ele finaliza com um tom otimista, reforçando a crença de que, apesar das dificuldades, “Deus é bom o tempo todo”.
Desafios climáticos na safra de soja no Brasil
O meteorologista Luiz Renato Lazinski destaca que, enquanto o La Niña costuma favorecer as plantações do Centro-Oeste e Matopiba, o El Niño trazendo chuvas mais abundantes é benéfico para o Centro-Sul.
“O que está acontecendo em Mato Grosso e no Matopiba com o El Niño são os veranicos,
períodos de 20 dias ou mais sem chuva. Isso ainda agravado por temperaturas
extremamente altas, acima da média. Muita gente vai plantar fora da janela e, quando planta
fora da janela, não faz o seguro. Se der, deu. Se não der, não deu. Mas sem tecnologia [uso
das melhores sementes], a produtividade é menor”, diz Lazinski.
A Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT) conduziu uma pesquisa com mais de 600 agricultores, confirmando uma projeção de quebra de 20%, reduzindo a colheita estadual em 9,16 milhões de toneladas.
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