ABPA, entidade que reúne a indústria, avalia que produto brasileiro pode ocupar espaços onde a Ucrânia está entre os principais concorrentes.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, que entrou, nesta segunda-feira, (14/3), em seu 18º dia, deve elevar ainda mais as compras de carne de frango brasileira por parte do mercado árabe, além de países da União Europeia. A Associação Brasileira de Preoteína Animal (ABPA), avalia que o produto nacional tende a ganhar o espaço deixado pela Ucrânia, concorrente nessas regiões.
Em fevereiro de 2022, as compras de frango brasileiro dos Emirados Árabes Unidos aumentaram em quase 90% em comparação com o mesmo período em 2021, chegando a 42,8 mil toneladas. O volume superou até mesmo o comprado pela China, que teve redução no mês passado, de acordo com os números divulgados pela ABPA.
O diretor de mercados da associação, Luis Rua, acrescenta que a União Europeia, no ano passado, comprou cerca de 100 mil toneladas de carne de frango da Ucrânia, espaço que pode ser ocupado pelo produto brasileiro. E a Arábia Saudita, que vinha reduzindo suas compras, pode também voltar a comprar mais. “A Ucrânia, que é um forte competidor do Brasil em destinos como a União Europeia, Arábia Saudita e países do Golfo, com o conflito, seguramente deixará de exportar os volumes habitualmente destinados a essas regiões”, afirma Rua.
Segundo ele, os negócios fechados e a visibilidade alcançada pela proteína brasileira na Feira Gulfood, realizada em fevereiro, em Dubai, também devem contribuir com o aumento das exportações para os países árabes. Segundo a ABPA, as agroindústrias exportadoras da avicultura nacional devem realizar ao longo dos próximos 12 meses negócios que vão superar US$ 1 bilhão.
O diretor da ABPA cita outro fator que pode beneficiar as exportações brasileiras de carne de aves neste ano: o país nunca registrou nenhum caso de Influenza Aviária, doença que vem se espalhando pelo mundo e somando casos nos Estados Unidos e na Europa.
Segundo os dados divulgados pela ABPA, em fevereiro, o aumento geral das exportações de frango, considerando todos os produtos in natura e processados, foi de 7,4%, chegando a 374,5 mil toneladas e uma receita de US$ 663 milhões, ou 27,1% a mais. No bimestre, houve alta de 13%, com 723,7 mil toneladas e receita US$ 1,280 bilhão, alta de 33,9%.
- Instabilidade no tempo marca os próximos dias no Estado
- Jeff Bezos investe R$ 44 milhões em vacina para reduzir metano do gado
- Abiove projeta produção recorde de soja em 2025
- Brangus repudia veto do Carrefour à carne do Mercosul
- São Paulo terá rebanho rastreado a partir de 2025: entenda o novo sistema
Otimismo no mercado halal
Ahmad Saifi, diretor de operações da Cdial Halal, certificadora de produtos Halal (permitidos para consumo dos muçulmanos) que atua no Brasil, explica que os Emirados Árabes estão assumindo papel de liderança como destino das exportações brasileiras de frango porque funcionam como uma espécie de hub internacional, que redireciona produtos para outros países do mundo árabe.
Com cerca de 76% de muçulmanos em sua população, os Emirados Árabes Unidos, assim como outras regiões do Oriente Médio, consomem muitos produtos Halal, conceito que significa lícito, permitido pelo Alcorão e que permeia não apenas as carnes, mas também o arroz, alimentação animal, sucos, lubrificantes, cosméticos, embalagens, fármacos e sanitizantes, entre outros produtos.
“A exigência de produtos Halal vem aumentando nos últimos anos porque o consumidor cada vez mais quer saber o que está consumindo e a população muçulmana é a que mais cresce no mundo”, diz Saifi, explicando que, enquanto os países do Ocidente reduzem o número de filhos, os árabes consideram a quantidade de filhos uma questão de fartura e tem cinco ou mais crianças.
As vendas Halal, segundo Saifi, não se limitam aos países árabes, já que mais de 1,8 bilhão de muçulmanos estão espalhados pelo mundo e a certificação já é encarada também por não muçulmanos como uma forma de garantir a segurança dos alimentos e produtos, pois exige boas práticas.
O mercado Halal no mundo cresce de 12% a 20% ao ano, segundo o diretor da Cdial Halal, e deve passar de US$ 5 trilhões até 2024. “O Brasil, como maior exportador de produtos Halal do mundo, especialmente carnes bovina e de aves, tem protagonismo nesse mercado.” No ano passado, os embarques brasileiros Halal subiram 25% na comparação com 2020. No Brasil, que tem cerca de 1 milhão de muçulmanos, o diretor diz que ainda falta conscientização das empresas para anexar o selo Halal confirmando a saudabilidade de seus produtos.
Pato também pode ganhar mercado
No primeiro bimestre, os Emirados Árabes Unidos, junto com Catar, Kuwait e Arabia Saudita, também estiveram entre os principais importadores da carne de pato da Villa Germania, a maior produtora e exportadora dessa proteína do país. Foram embarcados R$ 8 milhões em produtos para clientes novos e R$ 3 milhões para os tradicionais, segundo o diretor comercial Alexandre Almeida. Toda a exportação atende ao padrão Halal.
A empresa de Indaial (SC), que estreou estande na Gulfood neste ano e fechou vendas de mais de R$ 20 milhões na feira, projeta um aumento de exportações de 40% neste ano em relação a 2021.
No início deste mês, a Germania obteve a certificação do Programa Orgânico Nacional (NOP, na sigla em inglês), administrado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para comercializar também frango orgânico para diversos países, incluindo os do Oriente Médio, que aceitam a certificação americana. Segundo o diretor comercial, o plano agora é trabalhar mais próximo das redes de hipermercados e supermercados especializados em produtos orgânicos no mercado externo para elevar as vendas de cortes nobres que agregam valor para a empresa e os clientes.
Fonte: Globo Rural