Os milhos melhorados geneticamente pela Epagri vêm a cada ano provando sua resistência à estiagem, mantendo produtividade apesar da pouca chuva.
Milhos VPA da Epagri provam mais uma vez sua resistência à estiagem
Resistência à estiagem e à cigarrinha-do-milho é tudo que o agricultor familiar que produz milho deseja de um cultivar, principalmente nestes tempos de poucas chuvas e ataques de pragas no Sul do país. E é isso que os três milhos Variedades de Polinização Aberta (VPA) da Epagri oferecem. Quem atesta é César Alexandre Bourscheid, engenheiro-agrônomo, sócio-proprietário da BMF Orgânicos Yucumã, empresa licitada pela Epagri para multiplicar e revender para os produtores rurais as sementes dos milhos SCS154 Fortuna, SCS155 Catarina e SCS156 Colorado, desenvolvidos pelo Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar da Epagri (Epagri/Cepaf).
A BMF Orgânicos Yacumã está produzindo sementes dos milhos da Epagri em seus campos localizados na cidade de Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Segundo Alexandre, entre novembro e dezembro foram contabilizados pelo menos 50 dias sem chuva na região, mas o fato não chegou a comprometer a produtividade das lavouras. “Os milhos da Epagri se destacaram pela resistência (à estiagem), rusticidade e garantia de produtividade”, relata o engenheiro-agrônomo.
A colheita dos milhos para produção de sementes, que se inicia agora, ficará acima de 100 sacas por hectare nos campos da BMF. “Algumas áreas devem produzir até 120 sacas por hectare”, garante Alexandre, isto num cenário em que outras lavouras de milho da região perderam toda a produção devido à estiagem. Estudo publicado pela Rede Técnica Cooperativa (RTC) do Rio Grande do Sul, mostra que as perdas do milho sequeiro naquele estado devem chegar a 60%. “No milho, nunca vi algo tão abrangente em termos de área. Esta estiagem pegou desde o milho semeado cedo, como o tardio. Há regiões com 100% de perda”, atesta Geomar Corassa, coordenador da RTC.
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Enquanto isso, quem apostou nos milhos VPA no Rio Grande do Sul, não tem do que reclamar. É o caso do agricultor Maurício Scheffer, do município de Chiapetta. “Já venho há três anos plantando essa variedade SCS155 Catarina e cada ano vem surpreendendo mais a gente”, descreve o produtor. Para esta safra, ele aumentou a área e espera colher acima de 100 sacos por hectare de milho. “Comparando com as outras lavouras que o pessoal planta aí, que é o milho de sementes mais caras, é uma lavoura que está se comportando muito bem no solo, acredito que eu vou ter uma excelente produção”, prevê Maurício, que pratica o controle biológico aliado à aplicação de nitrogênio.
De acordo com o Balanço Social 2020 da Epagri, naquele ano, os três milhos VPA beneficiaram o Brasil em R$4.578.027,90 só com aumento de produtividade. O destaque mais uma vez fica para o SCS155 Catarina. Segundo o documento, em 2020 o Brasil faturou R$2.420.407,50 com aumento de produtividade deste cultivar.
Resistência às doenças
O engenheiro-agrônomo da BMF destaca ainda a resistência dos milhos da Epagri às doenças do complexo de enfezamentos, causadas pelo ataque da cigarrinha-do-milho quando infectadas. Assim como em Santa Catarina, a população do inseto cresceu substancialmente nas plantações de milho gaúchas desde a safra passada, mas nos campos da BMF o efeito não foi sentido. Enquanto isso, lavouras da região perderam até 100% do milho, por conta das doenças causadas pela praga.
Felipe Bermudez, melhorista genético de milho da Epagri/Cepaf, explica que a grande plasticidade genética é um dos segredos do bom desempenho a campo dos milhos VPA da Epagri. “Como uma planta é geneticamente diferente da outra, o VPA pode sofrer com variações climáticas, doenças e pragas, mas apresenta maior estabilidade que o híbrido, evitando perdas maiores de safra. No caso dos híbridos, como as plantas são geneticamente muito parecidas, terão reações similares a situações de estresse, gerando perdas maiores no caso de ocorrência desses imprevistos”, descreve o pesquisador.
Felipe esclarece ainda que o milho VPA é diferente do transgênico e do híbrido. Ele é resultado de melhoramento genético em campo, sem alteração de genes em laboratório. “É um produto rústico, muito adequado à produção familiar, já que não exige grandes investimentos em tecnologia, como adubação e defensivos. O custo da semente também é bem mais acessível a pequenos agricultores, na comparação com híbridos e transgênicos”, contextualiza o pesquisador.
Reservas antecipadas
As sementes produzidas pela empresa licitada pela Epagri estarão disponíveis para os agricultores a partir de abril, mas a recomendação para quem deseja adquirir é fazer suas reservas o quanto antes. A BMF vai disponibilizar ao mercado 100 toneladas de sementes do SCS155 Catarina, mais 10 toneladas do SCS156 Colorado e outras 10 toneladas do SCS154 Fortuna. Pelo menos uma tonelada de cada cultivar já está reservada para ser despachada ao Togo, país do continente africano. “Quem reservar logo, terá garantida a entrega”, afirma Alexandre.
Ele destaca ainda que as sementes produzidas pela BMF têm certificação orgânica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). “Não tem material melhor para o agricultor familiar, o custo é acessível e é muito produtivo”, sentencia o engenheiro-agrônomo.