Impulsionada por recordes de seus produtos, a pecuária paranaense obteve um desempenho excelente, com faturamento 14,2% maior em relação a 2018, passando dos R$ 34,6 bilhões.
O Paraná terminou 2019 com desempenhos bens distintos no campo. Impulsionada por recordes de seus produtos, a pecuária paranaense obteve um desempenho excelente, com faturamento 14,2% maior em relação a 2018, passando dos R$ 34,6 bilhões. Este aumento de receita compensou as perdas amargadas nas lavouras. Principalmente em decorrência da quebra da safra de soja, a agricultura do Estado viu seus ganhos encolherem 8,2%, ficando na casa dos R$ 41,2 bilhões. Em termos gerais, o setor agropecuário do Paraná produziu o equivalente a R$ 75,8 bilhões, com leve alta de 0,8%.
Os valores correspondem ao Valor Bruto da Produção (VBP), calculado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com base na produção e nos preços recebidos pelos produtores rurais nas principais praças do país. O levantamento leva em conta o período que vai do início do quarto trimestre de 2018 ao fim do terceiro trimestre de 2019.
Para os técnicos do Sistema FAEP/SENAR-PR, o bom momento da pecuária tem relação direta com a demanda internacional aquecida, principalmente por países asiáticos – onde um surto de Peste Suína Africana (PSA) dizimou o rebanho, com o abate sanitário de quase 8 milhões de animais. O aumento acentuado da demanda externa alavancou a produção de proteínas no Paraná e, de quebra, também trouxe reflexos nos preços de alguns produtos no mercado interno, como bovinos e suínos.
“A pecuária paranaense experimentou, em 2019, um dos melhores anos de sua história. Entre os fatores, o aumento dos abates para atender o mercado internacional foi a tônica neste processo. Como consequência do aumento da exportação, houve escassez de proteína no mercado interno, o que impulsionou os preços, que, mais uma vez, alimentaram o aumento da produção”, aponta Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
“O ano passado [2019] foi um bom ano para o comércio internacional das proteínas brasileiras. Diante da PSA que assolou o rebanho asiático, o Brasil reuniu todos os requisitos necessários para aumentar sua participação no mercado. Temos um produto de qualidade, seguro e com preços competitivos, o que fez com que o volume de carnes exportado aumentasse em 5,8% e, em valores, houve um incremento de 12,5%”, diz o técnico Guilherme Souza Dias, do DTE.
O melhor desempenho do campo paranaense ficou com o frango, que obteve faturamento de R$ 21 bilhões, ultrapassando a soja. As cifras representam um aumento de 15% em relação a 2018, puxadas principalmente pelo aumento da produção. Com câmbio favorável, o produto obteve um aumento de 5% no valor recebido pela tonelada exportada. Na curva da evolução, chama a atenção o fato de o desempenho do produto da avicultura ser constante: ao longo da década, a expansão do VBP do frango chegou à casa dos 70%.
“Conforme dados da Apinco [Associação Brasileira de Produtores de Pinto de Corte], o número de pintos de corte alojados aumentou 11,6% entre janeiro e novembro de 2019. Além disso, das 47 unidades brasileiras de abate habilitadas para exportar para a China, 14 são paranaenses. O Estado foi responsável por 50,4% do volume exportado para esse destino em 2019, um incremento de 75% no volume e 92,68% na receita, comparando com os valores de 2018”, destaca Mariana Assolari, técnica do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Além disso, outros produtos da pecuária com peso expressivo no VBP da agropecuária paranaense também deslancharam em 2019, batendo recordes, como leite (com faturamento de R$ 4,8 bilhões), bovinos (R$ 3,8 bilhões) e suínos (R$ 3,6 bilhões). Destes, a suinocultura é a que mais cresceu, cujo VBP avançou 21,9% em comparação com 2018. Como a produção de suínos se manteve estável, o faturamento maior corresponde a maiores valores de comercialização.
No campo
Apesar das cifras bilionárias, o bom momento vivido pelo setor avícola no ano passado não se traduziu em ganhos para os criadores. Segundo o avicultor José Carlos Spoladore, no caso dos produtores integrados, a agroindústria tem feito a remuneração com base em uma planilha defasada. Em razão disso, os avicultores trabalham próximo do vermelho. “Foi um ano bastante bom para a agroindústria, mas para nós não melhorou nada. Desde 2014, estamos trabalhando com base na mesma planilha de custos”, diz.
Em Cianorte, no Noroeste do Paraná, Spoladore mantém quatro aviários que, juntos, alojam 120 mil aves. Duas das unidades já estão quitadas, mas ele ainda precisa pagar o financiamento das outras duas. Ele só consegue se manter na atividade a partir de uma engenharia financeira: cobre despesas dos aviários financiados com recursos das unidades que já estão pagas.
“Antigamente, o produtor financiava um aviário e em dois ou três anos já conseguia pagar. Hoje, não se paga. Eu estou tirando dinheiro dos aviários pagos para tentar quitar os novos. Está errado. Cada aviário teria que se pagar”, aponta Spoladore, que também é presidente da Associação dos Avicultores de Cianorte. “Quem não tem essa gordurinha está penando”, acrescenta.
Ainda em janeiro, os avicultores devem reivindicar a revisão da planilha à integradora, na próxima reunião da Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec), que congrega representantes dos produtores e da agroindústria com o objetivo de discutir e deliberar assuntos relacionados à cadeia produtiva. “Temos tido uma participação muito boa e vamos levar esse nosso posicionamento à integradora, para que o resultado obtido pela indústria seja repassado aos produtores”, diz Spoladore.
No caso dos ovos – cujo VBP aumentou 37%, faturando R$ 1,1 bilhão –, o destaque foi o aumento da produção, impulsionado pelo aumento do consumo anual – que saltou de 190 para 230 ovos por pessoa. Paralelamente, os preços se mantiveram estáveis, garantindo que os produtores se mantivessem no azul.
“O ovo oscila muito, mas no ano passado o setor se manteve estável, com boa rentabilidade. Tivemos um aumento na produção em todas as etapas, do incubatório aos pintainhos. O setor cresceu por inteiro. Foi um ano realmente muito bom”, diz o produtor Arnaldo Cortez, de Paranacity, Norte do Paraná.
Cortez, que mantém 48 mil aves alojadas, com produção média de 48 mil ovos por dia, aponta como positivo, ainda, o fato de o Mapa ter estabelecido padrões de qualidade, o que levou as granjas a investirem em tecnologia. Por isso, o produtor vê bons prognósticos para 2020. “Neste ano, as entradas já vêm se mantendo, com produção em alta. Como a carne subiu muito, o cidadão tem no ovo uma boa opção de reposição. Isso deve manter o preço bom”, avalia.
Expectativas
Para 2020, as perspectivas para os produtos pecuários paranaenses também são bastante positivas, sobretudo em razão da demanda internacional, que deve se manter alta. Os países asiáticos, principalmente a China, ainda devem demorar alguns anos para repor seus rebanhos de suínos e, consequentemente, normalizar a produção.
“Devemos ter aumento nas exportações das três principais proteínas animais (bovinos, suínos e aves). O Brasil é grande produtor destas carnes e possui potencial de aumento da produtividade”, destaca Ferreira, do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Internamente, a atenção em 2020 se voltará para os custos de produção. O preço da ração deverá se manter apreciado. Resta saber se o aumento de receitas, advindas principalmente das exportações, será suficiente para compensar os incrementos de custo de produção”, questiona.
Preços em alta
Na bovinocultura, a demanda do mercado internacional alavancou o preço. De outubro para novembro de 2019, a arroba saltou da casa dos R$ 163 para R$ 203. Agora, no início de 2020, a cotação teve recuo, para um pouco acima dos R$ 190 e a tendência é de que se torne mais ou menos estável. Na avaliação do produtor Rodolpho Luiz Weneck Botelho, esse movimento foi positivo para os pecuaristas.
“Houve a correção dos preços da arroba, que estavam há cinco, seis anos defasados. Além disso, tivemos o aquecimento do mercado interno ao longo do ano, com algumas correções também, ajudado pela demanda internacional”, avalia Botelho, também presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP.
No ranking nacional, Paraná segue em terceiro
O Paraná fechou 2019 com o terceiro maior VBP entre todas as unidades da federação. O primeiro lugar do ranking é ocupado pelo Mato Grosso, cujo faturamento da agropecuária foi de R$ 101,7 bilhões, seguido por São Paulo, com R$ 78,1 bilhões.
Considerando só os Estados da Região Sul, o Paraná lidera com folga. No Rio Grande do Sul, a agropecuária produziu o equivalente a R$ 58,6 bilhões, enquanto Santa Catarina terminou 2019 com VBP de R$ 22,1 bilhões.
Quebra fez VBP das lavouras recuar
O recuo no VBP das lavouras do Paraná está, em grande medida, relacionado aos revezes ocorridos na cultura da soja. O faturamento da oleaginosa despencou 22,5%, ficando na casa dos R$ 20 bilhões. O desempenho pior em relação ao ano retrasado decorreu de uma quebra de 16% na safra 2018/19, provocada pela estiagem no desenvolvimento da lavoura. Apesar disso, a soja continua sendo um dos principais produtos do agronegócio paranaense, respondendo por 26,4% do VBP do Estado. Tanto que para a safra atual as perspectivas são bastante positivas.
“Pode se dizer que [o desempenho da soja em 2019] foi um ponto fora da curva, porque a queda resultou de problemas climáticos. A perspectiva inicial era colher uma safra ainda maior que a de 2017/18”, observa Ana Paula Kowalski, técnica do DTE. “A estimativa é de que a safra 2019/20 seja recorde, com produção de 19,7 milhões de toneladas. Apesar de problemas no início da safra, a cultura se desenvolveu bem e as perspectivas, à medida que a colheita avance, é de que tenhamos boa produtividade”, acrescenta.
As perdas nas lavouras ocasionadas pela quebra da safra de soja só não foram maiores porque, ao menos parcialmente, o milho serviu como compensação. Após uma safra 2017/18 ruim, o cereal se recuperou, a ponto de ser um dos produtos agrícolas cujo VBP teve mais crescimento (35%), passando dos R$ 8,6 bilhões. Além disso, com a demanda aquecida, o grão conseguiu preços melhores que os praticados em 2018.
“A alta resultou, especialmente, de uma produção de 16,4 milhões de toneladas, 36% superior à da safra 2017/18. A comercialização em 2019 também foi intensa, tanto voltada ao consumo interno, quanto para as exportações, que aumentaram 89%. Os preços médios recebidos pelos produtores paranaenses foram 3% superiores a 2018”, observa Ana Paula.
Reversão na safra
Apesar da estiagem em setembro do ano passado – período de plantio da safra de soja 2019/20 –, a expectativa dos produtores é de bons resultados. Os sojicultores que semearam precocemente podem ter produtividade um pouco abaixo da média, mas de um modo geral a lavoura vem se desenvolvendo bem.
“Estamos mais otimistas, acreditando que a safra vai ser um pouco melhor que a anterior. A gente só vai saber quando colocar a máquina para colher. Mas, ainda assim, acho que a produtividade não vai ser igual à da safra 2017/18, que foi recorde”, diz o produtor Nelson Paludo, também presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP.
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“Já o milho está com estoques baixos e os preços estão bons. Vamos plantar a safrinha e temos que ver como vai se comportar no inverno. Se tiver geada, pode ter problemas de abastecimento. Milho é uma incógnita daqui para frente”, avalia Paludo.
Outras culturas
Em termos proporcionais, outros produtos agrícolas tiveram destaque no ano passado. É o caso da batata-inglesa, cujo VBP aumentou 98,9%, chegando a R$ 1,8 bilhão; e do feijão, que teve faturamento de R$ 1,9 bilhão, o que representa 88,8% em relação a 2018. Por outro lado, o trigo sofreu queda de 26,7%, ficando na casa dos R$ 1,9 bilhão, e a mandioca teve faturamento 36,9% menor, fechando 2019 com VBP de R$ 1,1 bilhão.
Fonte: Faep