Presidente da Assocon destaca os altos preços do boi magro e do milho, que estariam impedindo o pecuarista de ter rentabilidade neste ano.
O preço do boi gordo segue batendo recordes no Brasil. De acordo com a consultoria Safras, a arroba está sendo negociada a R$ 240 em São Paulo. Apesar disso, o presidente da Associação Brasileira da Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Veloso, afirma que o pecuarista não está ganhando dinheiro nesta temporada.
Ele destacou que o custo de produção está impedindo o criador de ter rentabilidade. “A disputa pelo boi magro está muito grande, está quase desleal, e o preço do insumo tem tido altas diárias”, relata. Além do boi magro, o milho, segundo ele, é o grande vilão do momento. “O pecuarista esperou o calor da safra para comprar o grão e foi surpreendido com preços superiores ao da entressafra”, diz.
Marcado por recordes de preços na pecuária brasileira, o ano de 2020 não tem sido, necessariamente, de margens maiores para os pecuaristas, avaliam os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Segundo eles, a valorização do boi gordo tem tido efeito também sobre o mercado de reposição, onde os bezerros e bois magros também têm sido negociados a valores históricos.
“Além da reposição – que representa mais da metade dos custos de produção de pecuaristas recriadores –, a forte valorização do dólar neste ano elevou os preços de importantes insumos pecuários que são importados. É importante lembrar, ainda, que insumos de alimentação, como milho e farelo de soja, estão bastante valorizados”, diz o Cepea, em nota divulgada nesta quinta-feira (3/9).
Por conta dos custos elevados, a previsão da Assocon é que o número de animais confinados feche o ano com queda de 17% na média do Brasil. “Quem entra no jogo agora, vai ver um outro cenário. Não existe a mesma atratividade”, explica Veloso, comparando o primeiro ao segundo giro de confinamento.
O pecuarista e vice-presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso (Famato), Chico da Paulicéia, conta que quem comprou insumo antes da valorização está conseguindo algum lucro, mas o futuro é desafiador. “Apesar da arroba em alta, existe uma incerteza em relação ao custo, especialmente com a reposição. Com a arroba acima de R$ 210, a conta pode fechar”, calcula. Segundo a Safras, em Cuiabá (MT), o preço do boi gordo está em R$ 217.
Chico da Paulicéia recomenda que o produtor fique atento às previsões de estoque de animais para o próximo ano e trave compras antecipadas para o milho. “O pecuarista está acostumado a esperar a queda no preço com a entrada da safra, mas isso não aconteceu nesta temporada e não deve acontecer na próxima. Mais de 50% da próxima safra de milho já foi negociada”, destaca.
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Apesar desse cenário, as previsões são boas para o mercado do boi gordo em 2021. De acordo com o presidente da Assocon, o ciclo de valorização da arroba deve se manter por conta de uma oferta ainda restrita, tanto na reposição quanto de animais acabados.
“As variações vão acontecer, porque o mercado está permanentemente testando os fornecedores. Podemos buscar imunidade fazendo uma boa gestão e conhecendo os mecanismos de hedge, de compra e venda. Dessa forma, o pecuarista vai conseguir se manter na atividade com pouco ou muito lucro”, pontua.
Com informações do Cepea, Canal Rural e Globo Rural