Taxa de ociosidade dos frigoríficos e aumento no abate de novilhas são alguns dos fatores que indicam um cenário de falta de bezerros para reposição
João Gabriel Balizardo Carvalho* – A taxa de ociosidade dos frigoríficos no país por falta de matéria-prima, ou seja, de animais para abates é surpreendente e chegou a 45% neste ano. E, com o aumento no abate de novilhas no país, a tendência é que essa situação piore. Quando você mata uma novilha, está matando a sua safra de dois anos.
Dentro da pecuária de cria, a vaca é o bem mais precioso que se pode ter principalmente para quem investe no melhoramento genético dos seus animais. Por definir como será a produtividade e rentabilidade de sua propriedade, pois tudo depende da produção de bezerros, devemos tratar as fêmeas da melhor maneira possível tecnicamente. Quando investimos nos animais (dietas balanceadas, estrutura de cocho e bebedouro, adubação de pastagens…) eles melhoram a sua eficiência produtiva e, assim, aumentam a rentabilidade da propriedade.
Muitas vezes focamos em tecnologias avançadas que estão surgindo no mercado, mas pecamos nos quesitos básicos como água de qualidade, minerais em níveis adequados para uma vaca em produção, pastagem suficientemente disponível durante todo o ano, que é o mínimo para um animal atingir suas necessidades fisiológicas.
“Quando você mata a sua vaca mostra ineficiência, quando abate a novilha mata o seu futuro”
Dr. Fernando Carvalho
Quando se tem um controle sanitário bem feito, melhoramento genético para animais mais produtivos e dietas adequadas para seus níveis de exigência nutricional, você consegue melhorar o intervalo entre partos, índice de prenhez e de parição, produção de leite para o bezerro e, consequentemente, o peso do bezerro desmamado, que é a moeda de troca da pecuária de cria. Portanto, quanto mais bezerros nascendo e desmamando mais pesados, maior vai ser a rentabilidade da propriedade.
Com o aumento na demanda mundial de milho e dos insumos em geral para a alimentação do gado, o produtor deve se programar sempre com um ano de antecedência, mesmo na pecuária de cria a pasto, pois, por meio dos boletins climáticos estimados para o ano seguinte, conseguimos traçar estratégias nutricionais para não faltar alimento para os animais durante o período de estiagem, ou até mesmo antecipar compras de suplemento mineral e grãos, conforme haja tendência de aumento de preço dos insumos, como estamos vivendo neste momento, controlando os custos de produção e melhorando a margem de lucro do produtor.
Com a falta de chuva, associada muitas vezes à chegada do frio e o encurtamento da luz solar durante o período seco, diminui-se o crescimento de capim, ou seja, há menor oferta de alimento para os animais. Naturalmente, nesse período as vacas estão na fase final de gestação, onde há um gasto nutricional muito grande para desenvolver o bezerro dentro dela, e também para a produção de colostro para quando este animal vir a nascer. Isso fará com que a vaca perca peso, diminuindo suas reservas de gordura e piorando o seu escore corporal. Após o parto, queremos que essa vaca volte a ciclar e emprenhe novamente o mais rápido possível. Porém, esse fator é altamente dependente de seu escore corporal.
Quando esse animal perde peso durante a seca, perde-se a janela ideal de emprenhar essa vaca com o retorno das chuvas, pois ela ainda precisa ganhar peso para voltar ao seu escore ideal para emprenhar. Conseguimos neutralizar o efeito de perda de peso quando ajustamos os teores de proteína e energia na dieta do animal associando as pastagens secas com a suplementação de proteinado.
A falta de forragem pode ser evitada por meio da vedação de pastagens no período das águas, utilização de sistema de pastejo rotacionado, e por meio do descarte de animais que não estão sendo produtivos para diminuir a taxa de lotação, sobrando, assim, mais alimento para os animais que geram renda para a propriedade.
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A proteína animal possui uma elasticidade muito grande em relação à renda da população, ou seja, quando há aumento no preço da carne ou queda na renda da população diminui-se o consumo de carne. Porém, o inverso também é verdade, pois quando se melhora a situação financeira da população, há o aumento no consumo de carne, principalmente nos cortes com maior valor agregado. As expectativas com o retorno da rotina da população, o aumento da produtividade e o dinheiro voltando para a mão das pessoas, leva a uma tendência de que se consuma mais carne, aumentando a demanda de produção.
Com o mercado aquecido, o produtor de carne vai ter seu produto valorizado, levando-o, assim, a ganhar mais dinheiro. Para conseguir nos prepararmos para essa boa fase nós temos que ser o mais eficiente possível, pois assim atingimos altos níveis de produção, com os menores custos possíveis.
João Gabriel Balizardo Carvalho, Médico Veterinário do Grupo Matsuda