Vacas leiteiras gigantes dão prejuízo

Desde 1960, vacas suíças aumentaram até 800 quilos com o uso de sêmen de touros americanos

Os pastos ressecados estão obrigando pecuaristas de toda a Europa a comprar safras caras para alimentar seus rebanhos famintos, mas uma associação suíça de laticínios pode ter parte da resposta: animais menores.

A New Swiss Cow, um grupo que assessora cerca de 100 fazendeiros, está tentando reverter o empenho de 50 anos em criar animais maiores na Suíça, porque, segundo afirma, se baseia na falsa premissa de que essas vacas estimulariam a produção econômica porque produzem mais leite.

Embora seja verdade que os animais maiores –há muito preferidos pelos fazendeiros suíços– produzem mais leite, as vacas menores são mais eficientes e utilizam proporcionalmente menos alimento e espaço, de acordo com a associação. Elas também exigem menos visitas do veterinário do que suas primas melhoradas geneticamente, afirmou a New Swiss Cow.

“Vacas criadas para a produção máxima de leite são mais caras que vacas menores, porque precisam de mais espaço no estábulo, de mais forragem e são mais propensas a doenças”, disse Michael Schwarzenberger, da New Swiss Cow.

Desde a década de 1960, as vacas suíças chegaram a aumentar 800 quilos com o uso de sêmen de touros americanos, alguns dos quais originalmente vieram da região central da Suíça. Quase metade das 537.000 vacas leiteiras do país são Simmental com manchas castanho claro, que foram cruzadas com o touro Holstein vermelho dos EUA. Esse cruzamento ajudou a mais que dobrar a produção média anual por animal para 7.400 litros, de acordo com a associação de produtores Swiss Milk.

Helicóptero leva água para vaca na Suíça; animal menor é mais eficiente, diz associação New Swiss Cow – Denis Balibouse/Reuters

Economia de laticínios

Ainda assim, animais menores de 500 a 600 quilos podem produzir de 6 mil a 7 mil litros de leite, um total proporcionalmente maior, de acordo com Martin Huber, da New Swiss Cow, que leciona em um instituto agropecuário em Salenstein, perto do Lago Constança. Essa lógica se aplica a outras raças de vacas e além das fronteiras da Suíça, disse ele.

No entanto, além dos fatores econômicos, há outra razão pela qual o maior nem sempre é o melhor na Suíça, de acordo com o principal sindicato de fazendeiros do país. Vacas mais leves podem chegar com mais facilidade às pastagens alpinas, disse Sandra Helfenstein, porta-voz do Sindicato dos Fazendeiros Suíços.

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“A vaca ideal tem uma aparência diferente em cada país”, disse Helfenstein. “Todo agricultor tenta maximizar a utilização de alimentos e, como três quartos das terras suíças são pastagens, ter que importar alimentos concentrados está levando a custos mais altos.”

Verão seco

Esses desafios também estão sendo enfrentados na Alemanha, país vizinho onde as secas extremas e o calor dos últimos meses acabaram com pastagens e safras, o que deve resultar na menor colheita do país em 24 anos. Por isso, o segundo maior produtor de grãos da Europa precisará recorrer a importações caras para alimentar vacas e suínos neste ano.

O leste da Suíça teve o verão mais seco já registrado, e fazendeiros de todo o país foram obrigados a tirar seus animais das montanhas antecipadamente, já que os pastos estão esgotados, disse Reto Burkhardt, porta-voz da associação de produtores de leite do país.

“A escassez e a instabilidade levam à especulação nos mercados de grãos, afetando todos os fazendeiros da Europa”, disse Burkhardt.

“Temos que suportar o clima, mas isso com certeza afetará a base de custos do produtor suíço.”

Fonte: Folha de São Paulo

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