‘Vaca louca fake’ não vai deixar picanha mais barata

AEB avalia que o caso confirmado não deverá provocar perdas aos exportadores brasileiros, mas, sim, um adiamento das vendas; problemas passados revelam cenário

Em meio a muita informação desencontrada, um caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina EEB (popularmente conhecida como “doença da vaca louca”) foi registrado no Pará, no dia 19 de fevereiro deste ano. As informações ganharam repercussão no mercado pecuário nacional, e o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o caso suspeito de atipicidade no dia 22 do mesmo mês, sendo detectado em um animal macho, de 9 anos, de uma pequena propriedade, situada em Marabá, sendo este não alimentado com ração.

Conforme informações da ADEPARÁ – Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará – o rebanho no qual o animal se encontrava foi completamente inspecionado e interditado de forma preventiva. Ainda segundo a ADEPARÁ, a sintomatologia indicava se tratar da forma atípica da doença. Entretanto, visando a confirmação da tipificação do agente causador, amostras foram enviadas para um laboratório no Canadá. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) também foi comunicada, inclusive, a organização colocou o Brasil como área de risco insignificante para a doença propriamente dita.

Em comunicado divulgado pelo MAPA, informa-se que o animal foi abatido e teve sua carcaça incinerada no local; além disto, seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China foram suspensas de forma temporária, porém, o diálogo entre as autoridades dos dois países foi intensificado – visando realizar o mais rápido possível o comércio de carne bovina entre os dois países.

Carlos Fávaro – ministro do MAPA – afirma:

“todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne”.

A doença trata-se de uma enfermidade que atinge o sistema nervoso central de bovinos, por meio de lesões degenerativas, as quais dão ao tecido nervoso a aparência de esponja. Por causar sintomatologia nervosa, altera a coordenação motora do bovino e causa intensa vocalização do animal, motivo pelo qual o jargão popular apelidou este mal de “vaca louca”. A etiologia da EEB pode ter muitas causas, classificadas por sua vez entre transmissíveis e não transmissíveis.

EEB clássica (transmissível) – tem transmissão direta, por via oral, pela ingestão de subprodutos de origem animal (principalmente farinha de carne e ossos) contaminados com o príon. Período de Incubação pelo menos dois anos, podendo chegar a 10 anos.

EEB atípica (não transmissível) – ocorrência esporádica e espontânea normalmente em indivíduos mais velhos, acima de oito anos. No Brasil, já foram identificados quatro casos de EEB atípica (desenvolvida espontaneamente) que logo foram investigados e totalmente descartada a disseminação da doença e risco para a saúde humana. Nenhum caso de EEB clássica foi diagnosticado em território nacional.

Foto: Divulgação

Exportações

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) avalia que o caso confirmado não deverá provocar perdas aos exportadores brasileiros, mas, sim, um adiamento das vendas. Por se tratar de um caso isolado, a expectativa é de que não haja contaminação do rebanho; e o fato do Brasil tornar público o problema e paralisar os embarques, também impacta positivamente na resolução e tende a acelerar a retomada das exportações, que giram em torno de US$ 500 milhões por mês.

Para o presidente executivo da AEB, José Augusto de Castro: “o impacto tende a ser bem menor do que em 2021, último registro de ‘vaca louca’ no país. O protocolo foi cumprido, tudo está sendo feito com correção e transparência. Além disso, não há carne sobrando no mercado, nenhum país conseguirá suprir a demanda da China em nosso lugar. Por isso, acreditamos que em aproximadamente 30 dias a situação seja normalizada e em abril o comércio de carne bovina volte aos patamares habituais”, afirma.

O Brasil abastece 22% do mercado global, sendo o maior exportador de carne bovina do mundo. Conforme a AEB, os preços do produto estão em queda — em janeiro deste ano, a cotação era de US$ 4,8 mil por tonelada contra US$ 5,2 mil do mesmo mês do ano passado, uma redução de 7,5%. “É interessante verificar que a quantidade embarcada da carne aumentou 10,8% em janeiro. As estatísticas mostram a cotação do produto em declínio, inclusive no mercado interno. Se parte do volume que iria para a China for desviado para atender o consumo interno, a queda por aqui pode se intensificar”, conclui Castro.

Fonte: Clube da Picanha

Preço da picanha vai baixar?

Em um recorte dos dados de 2022 é possível ver que a China responde por 62% das exportações de carne bovina do Brasil. Muitos analistas avaliaram, durante a semana, que com os embargos e o não envio da carne brasileira ao país asiático a proteína animal iria ficar represada no país e seria redirecionada ao mercado interno, causando assim uma maior oferta, resultando no menor preço nas gôndolas do supermercado, não é isso que o passado nos revela.

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Fonte: Cepea/CNA

A imagem acima foi divulgada pelo CNA, com dados do Cepea, nos mostram que no segundo semestre de 2021, quando em mais uma caso atípico do Mal da vaca louca comprovado, quem mais sofreu com o embargo da carne brasileira foi o produtor rural. É possível ver que o preço pago ao pecuarista caiu cerca de 15%, enquanto ao consumidor final houve uma leve alta de quase 1%.

Não se engane, provavelmente não teremos picanha mais barata.

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