Departamento de Agricultura americano já incluiu nos cálculos os primeiros efeitos da guerra na Ucrânia sobre a oferta dos dois cereais.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) fez ajustes maiores do que o usual em seu relatório mensal de oferta e demanda de commodities agrícolas, publicado ontem, já incluindo nos cálculos os primeiros efeitos da guerra na Ucrânia sobre o quadro global. Mas, ainda assim, as mudanças foram menos intensas do que o mercado esperava.
A avaliação de analistas é de que os cortes que o USDA fez em suas estimativas para trigo e milho de Rússia e Ucrânia acabaram sendo contrabalançadas por mudanças nas projeções para outros países ou pela diminuição na perspectiva de demanda. Com isso, os grãos recuaram na sessão. O trigo puxou as baixas, e os negócios chegaram a ser paralisados no início da tarde após o cereal atingir seu limite de queda para um só dia, de 85 centavos por bushel. O vencimento para maio, o mais ativo, recuou 6,61%, a US$ 12,0150 o bushel.
“O relatório foi bastante sem graça. Os números estavam dentro das expectativas”, avaliou Charlie Sernatinger, da ED&F Man Capital, à Dow Jones Newswires. “Nós já precificamos essas mudanças, e a única pergunta no momento é: ‘o trigo sairá do limite de baixa [a partir de agora]?”
O trigo é o grão que mais sentiu os efeitos da guerra. No relatório, o USDA reduziu em 3,6 milhões de toneladas sua projeção para as exportações globais do cereal, que passou a ser de 203,1 milhões. Para a Rússia, o órgão fez um corte de 3 milhões de toneladas, para 32 milhões. No caso da Ucrânia, o corte foi de 4 milhões de toneladas, para 20 milhões.
Segundo o USDA, a queda dos embarques da Rússia e Ucrânia será parcialmente compensada por Austrália e Índia. Ontem, o governo ucraniano anunciou a suspensão temporária das exportações de trigo, cevada e milho. Para o Commerzbank, o trigo já estava em rota de ajuste desde a sessão de terça-feira, e a tendência é que continue assim. “Há sinais de que, por causa dos preços altos, a demanda estava em desaceleração”, resumiu o banco.
O milho estava em queda antes mesmo do relatório, mas a publicação do documento acentuou a baixa. O contrato para entrega em maio, o mais ativo, caiu 2,66% (20 centavos de dólar), a US$ 7,330 o bushel.
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No relatório, o USDA reduziu em 6 milhões de toneladas sua previsão para as exportações ucranianas, que passou a ser de 27,5 milhões de toneladas. Com a mudança, a participação do milho da Ucrânia na oferta mundial deverá cair de 16,4% para 13,7%, segundo o USDA. Ainda assim, o país continuará a ser o quarto maior exportador.
“O USDA reduziu o equivalente aos embarques de fevereiro e março do país, e me parece que ele evitou arriscar uma previsão para o futuro mais distante e cortou aquilo que já não seria mesmo exportado por causa da situação do momento”, diz a analista Daniele Siqueira, da AgRural.
No caso da Rússia, o órgão manteve em 4,5 milhões de toneladas sua previsão de embarques. Para o USDA, os Estados Unidos deverão responder por parte da oferta global que será afetada pela guerra. O órgão aumentou em 1,9 milhão de toneladas, para 63,5 milhões, sua estimativa para as exportações americanas.
Na revisão dos prognósticos para o milho da América do Sul, o USDA cortou em 1 milhão de toneladas, para 53 milhões de toneladas, sua projeção de colheita na Argentina e manteve em 39 milhões de toneladas a previsão de exportações do país. Para o Brasil, não houve mudança: a estimativa continuou a ser de colheita de 114 milhões de toneladas e de embarques de 43 milhões de toneladas.
O USDA aumentou em 790 mil toneladas sua previsão para a produção global de milho, que passou a ser de 1,206 bilhão de toneladas. A projeção de demanda cresceu 1,45 milhão, para 1,197 bilhão de toneladas. Com isso, a previsão para os estoques globais do cereal passou a ser de 301 milhões de toneladas, uma queda de 1,2 milhão em relação ao relatório anterior.
Fonte: Valor Econômico