No país há por volta de 3.000 fazendas, onde são ordenhados anualmente 2 bilhões de litros de leite, processados pela indústria e por laticínios artesanais.
O consumo de lácteos no Uruguai continua aumentando e o nível alcançado é o dobro do consumo médio no mundo, segundo um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária (INIA). “No Uruguai são consumidos 266 litros de leite por pessoa por ano se considerarmos o leite fluido e derivados. Em 1999 eram 202 litros e, desde então, os uruguaios têm consumido dois litros a mais a cada ano do que no ano anterior”, explica o agrônomo Santiago Fariña, diretor do Programa Laticínios INIA.
O profissional ressaltou que este recorde “é impressionante, pois é mais que o dobro do consumo de leite per capita no resto do mundo e um dos mais altos da América Latina”.
No país há por volta de 3.000 fazendas, onde são ordenhados anualmente 2 bilhões de litros de leite, processados pela indústria e por laticínios artesanais. Do que é produzido, sempre com base no relatório do INIA, 70% é exportado e 30% é vendido no mercado interno, onde o consumo per capita de produtos lácteos é o dobro em relação ao resto do mundo. Com isso como marco, o INIA tem entre seus esforços trabalhar para manter esses números com um produto de maior qualidade produzido em sistemas mais sustentáveis.
O que é produzido com o leite?
O queijo é o produto lácteo líder ao nível do consumo interno e o qual se destina 20% do leite produzido anualmente. O produto mais gerado com o leite produzido nas fazendas leiteiras é o leite em pó, que requer 50%, seguido do leite fluido com 10%. A manteiga representa 7% e o restante é utilizado para outros produtos (sorvete, iogurte e doce de leite, entre outros).
Sobre a qualidade do leite uruguaio, Fariña explicou que 90% é processado pela indústria, responsável por avaliar sua segurança, ausência de antibióticos e teor de sólidos, que são os que contêm contribuições nutricionais. “É importante esclarecer que os produtores de leite recebem seu pagamento com base nos sólidos do leite que enviam, não pelo número de litros. Pensar em leite aguado é pensar em prejuízos para o produtor, o consumidor e também a indústria”, explicou.
Com dois milhões de toneladas de leite por ano, o Uruguai produz atualmente o dobro do que pode consumir internamente, portanto 70% é exportado para mais de 60 países, sendo Brasil, Argélia e China os principais compradores no ano passado. “Nosso laticínio é para exportação e isso é especial na América Latina, onde existem apenas dois outros países que produzem mais leite do que sua população consome: Argentina e Costa Rica. O restante produz apenas para se abastecer internamente”, disse Fariña.
Sustentabilidade, automação e robotização
Neste quadro de intensificação produtiva, a sustentabilidade é um objetivo fundamental para os pesquisadores do INIA, que procuram soluções que favoreçam toda a cadeia a nível econômico, social e ambiental. Economicamente, eles se concentram em projetar sistemas com alta eficiência no uso de pastagens e na melhoria da saúde e conforto das vacas. Eles também estão trabalhando em um sistema de avaliação genética para que os produtores tenham informações para selecionar touros cujas bezerras produzem leite de melhor qualidade, são mais férteis, adoecem menos e vivem mais.
Na área social, o instituto estuda alternativas tecnológicas como automação e robotização que facilitam tarefas sacrificadas e rotineiras típicas da fazenda leiteira e, assim, melhoram a qualidade de vida dos trabalhadores e tornam a produção leiteira mais atrativa para as novas gerações.
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Em questões ambientais, o foco do INIA é alcançar a autossuficiência dos sistemas para não necessitarem de insumos externos e melhorem o equilíbrio de nutrientes na propriedade e gestão de resíduos, de forma a preservar o recurso solo e o meio ambiente.
“O Uruguai é pioneiro na América Latina na perspectiva ambiental dos sistemas produtivos, em parte por seu perfil exportador, o que o torna atento ao que está acontecendo no mundo, e também porque teve alertas precoces, como o problema dos efluentes no rio Santa Lucía em 2013, o que o fez ver ter que tomar medidas concretas, como o Plano de Uso e Manejo do Solo hoje”, destacou Fariña.
O especialista salientou que “no futuro, o que vai determinar a forma como os campos são trabalhados e o leite é produzido estará relacionado não só com os consumidores e mercados, mas também com os vizinhos e cidadãos que poderão passar ao longo do percurso e ver algo que eles não gostam e denunciam”.
Nesse sentido, destacou a oportunidade de envolver a sociedade não rural nas discussões sobre produção de alimentos, saúde e sistemas agrícolas.
Diante disso, Fariña disse que “o principal objetivo da ciência deve ser ajudar os produtores a ter uma renda estável a partir de sistemas o mais parecidos possível com a natureza em seu estado original, cuidando dos recursos naturais, com animais pastando ao ar livre e reduzindo a necessidade de uso de insumos externos.”
“Ainda há coisas a melhorar e a partir da ciência estamos trabalhando para isso, pois o objetivo é manter a produtividade e a qualidade do leite uruguaio, garantindo a sustentabilidade de toda a cadeia”, concluiu.