Um dos maiores grupos do agro anuncia calote de R$ 62 milhões e assusta mercado

Crise no agro mundial? Grupo Los Grobo, que já foi o maior produtor de grãos da América do Sul, diz não ter como cumprir com os prazos de pagamentos das dívidas até 31 de março de 2025, gerando temores de novas quebras no setor

A crise financeira no setor agrícola argentino ganhou novos contornos após o anúncio de inadimplência da Los Grobo Agropecuaria (LGA). O grupo, um dos maiores produtores de soja e milho do país, declarou que não conseguiu pagar uma nota promissória no valor de US$ 100 mil, vencida no último dia 26 de dezembro, e informou que suspenderá pagamentos semelhantes até o final de março de 2025, totalizando uma dívida de US$ 10 milhões (cerca de R$ 62 milhões).

O comunicado da Los Grobo, feito à Comissão Nacional de Valores (CNV) da Argentina, provocou uma onda de preocupação no mercado local. Em nota, grupo afirma que: “em face à crescente falta de liquidez no mercado de notas promissórias de valores mobiliários para emitentes agrícolas, somada à impossibilidade de cobrança de determinados empréstimos e às dificuldades financeiras de uma empresa coligada, a Companhia não conseguiu efetuar os pagamentos”.

👉 O texto completo, que pode ser acessado clicando aqui, ainda informa que o conselho de administração da Los Grobo está empenhando em resolver a questão.

A situação da LGA agrava um cenário já delicado, especialmente após a Surcos, outra grande empresa agrícola, anunciar recentemente que não conseguiria honrar um pagamento de US$ 13 milhões a fornecedores. Os anúncios preocupam o mercado local, mostrou a série de reportagens do jornal “El Clarín”.

Segundo representantes do fundo Victoria Capital Partners (VCP), acionista majoritário da Los Grobo, a crise foi desencadeada pela dificuldade de refinanciamento no mercado de notas promissórias agrícolas. O cenário foi agravado pela queda nos preços dos grãos, custos operacionais dolarizados e o impacto de políticas econômicas incertas.

Distanciamento do fundador

O nome de Gustavo Grobocopatel, fundador da Los Grobo e conhecido como o “rei da soja”, voltou ao centro das atenções. Apesar disso, Grobocopatel apressou-se em esclarecer que detém apenas 5% de participação na empresa e que está fora da operação há oito anos. Sua irmã, Matilde Grobocopatel, possui outros 5% das ações, enquanto o controle majoritário pertence ao VCP.

Resposta da Los Grobo

Em nota oficial, segundo El Clarin, o conselho de administração da empresa atribuiu o calote a umafalta de liquidez financeira transitória”. Segundo o comunicado, fatores como a impossibilidade de cobrar certos créditos e dificuldades de uma empresa coligada impactaram o fluxo financeiro. O grupo afirmou estar empenhado em resolver a questão até a próxima colheita, ressaltando que suas operações principais seguem saudáveis.

Eles afirmam que esse fato, em um cenário de números ajustados pela queda dos preços dos grãos, custos dolarizados e retenções (impostos) reduziram drasticamente as margens de rentabilidade de toda a cadeia agrícola. 

Los Grobo
Foto: Los Grobo

Los Grobo e o sonho de expansão no Brasil

No auge de sua trajetória, o grupo argentino Los Grobo chegou a ser o maior produtor de grãos da América do Sul, superando gigantes como o grupo Amaggi e a SLC Agrícola. Contudo, atualmente, seus 260 mil hectares cultivados ficam atrás dos 733 mil da SLC e dos 362 mil da Amaggi.

O modelo de negócios de Los Grobo baseava-se em parcerias com produtores, permitindo que Gustavo Grobocopatel, o “rei da soja”, expandisse sem possuir terras. A estratégia incluiu forte aposta no Brasil, onde, em 2008, se associou à Vinci Partners e adquiriu participações na Selecta Sementes e na Ceagro.

No ano safra 2011/12, a empresa anunciou faturamento superior a US$ 1 bilhão, sendo 40% das vendas provenientes do Brasil. Contudo, em 2013, vendeu a Ceagro para o grupo Mitsubishi, mantendo apenas o moinho Jundiaí, em São Paulo.

Com a saída do Brasil, Paraguai e Uruguai, o grupo passou a focar exclusivamente na Argentina. Hoje, Los Grobo opera com 37 filiais, 28 armazéns de insumos e 15 plantas de acondicionamento, armazenando 2,2 milhões de toneladas de grãos por ano. Apesar de faturar US$ 800 milhões em 2023, enfrenta uma dívida de US$ 150 milhões, reflexo dos altos custos e da crise no setor.

Crise sistêmica no agronegócio argentino

O anúncio da Los Grobo é mais um sinal de alerta sobre o impacto da crise econômica na Argentina no setor agrícola, vital para o país. Com duas safras consecutivas afetadas por adversidades climáticas e uma inflação descontrolada, a cadeia produtiva enfrenta um momento de grande incerteza.

Especialistas temem que esse calote desencadeie uma crise sistêmica no setor, atingindo não apenas os produtores, mas também fornecedores e distribuidores. Para muitos, a recuperação do agronegócio argentino dependerá de um cenário político-econômico mais estável e da renegociação de dívidas no curto prazo.

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