Janeiro é marcado pelo baixo preço do bezerro; Segundo casa de análise o bezerro tem a melhor relação de troca desde 2018
A cotação do preço do bezerro cedeu em todas as regiões do país ao longo de 2023, principalmente em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. A queda nos preços do bezerro faz com que pecuaristas intensifiquem o abate de matrizes para gerar caixa, já que a retração dos preços do gado de reposição reduz a margem do criador.
O fato é que o bezerro iniciou o ano com preços mais estáveis, assim como o boi gordo, embora o preço do animal pronto para o abate venha sofrendo uma pressão maior de queda no fim de janeiro. Segundo dados do Farmnews o preço do bezerro ficou praticamente estável ao longo dos últimos 4 meses, entre outubro de 2023 e janeiro de 2024, interrompendo sequência de 5 quedas consecutivas.
O preço médio do bezerro na parcial de janeiro de 2024 de R$2.087,4 por cabeça foi 12,9% menor que a média nominal praticada em janeiro de 2023 (R$2.395,3). O preço do bezerro em 2024 caminha para o menor valor em janeiro desde 2020 (R$1.594,4).
Com a relação de troca entre bezerro e boi gordo em 2,5, a head de consultoria da Agrifatto, Laura Rezende alerta que o primeiro semestre de 2024 pode ser a última chamada para o pecuarista comprar bezerros a preços mais baixos antes da virada do Ciclo Pecuário.
Segundo a consultora janeiro foi o melhor mês para compra de bezerros dos últimos cinco anos. “Desde 2021 onde observamos o pico de preços dos bezerros, estes vem numa tendência de desvalorização, fazendo que, mesmo em um ano extremamente desafiador. Nós vimos uma relação de troca (boi gordo x bezerro) em níveis interessantes para os pecuaristas que precisavam fazer a reposição. Atualmente um pecuarista com a venda de um boi gordo com média de 20@ consegue adquirir 2,5 bezerros. Na nossa visão esse primeiro semestre de 2024 será a última chamada para quem quer comprar bezerros com preços mais baixos neste ciclo.” – ressalta Laura.
Laura ressalta que comprar bezerro neste ciclo de baixa é extremamente interessante, principalmente pensando em comercializá-los em meados de 2026 quando é estimada a fase de alta do próximo ciclo pecuário.
A Figura a seguir ilustra a variação do preço nominal do bezerro (Cepea, Mato Grosso do Sul), avaliado em Reais por cabeça, entre os meses de janeiro, de 2010 à parcial de 2024 (média até o dia 30).
O preço do bezerro, valor médio na parcial de janeiro de 2024 ficou 12,9% abaixo da média nominal praticada em janeiro de 2023, o segundo ano consecutivo de perda. Além de acumular 2 anos consecutivos de queda entre os meses de janeiro, assim como aconteceu em 2018, a desvalorização em 2022 e 2023 ficou muito acima da observada nas quedas anteriores.
Apesar de apresentar preços relativamente estáveis ao longo do primeiro mês de 2024, o valor médio da categoria de reposição segue caindo frente ao valor médio praticado no mesmo período do ano anterior.
Já no Mato Grosso do Sul os valores do bezerro Nelore está na faixa de R$ 2.020,00. Segundo dados informados pela Correa da Costa Leilões de Campo Grande, capital do estado.
Já nas fêmeas o destaque para o preço de desmama, o valor da cabeça está cotada em R$ 1.525,00.
Avaliação de pecuarista
Assim como a agricultura, a pecuária segue registrando altos custos de produção e baixa nos preços pagos ao produtor. De acordo com o diretor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e pecuarista, Julio Rocha, o ciclo da cria é o mais prejudicado em meio a toda a situação.
“Os três equilibrados todo mundo ganha o seu pouquinho. Por exemplo, a cria em Mato Grosso está ruim. O preço do bezerro está muito ruim, porque o preço da arroba está muito baixo. Aí você pega o cara que é invernista, que compra os bezerros ou garrotes para engordar e abater, ele quer pagar mais baixo, pois se não a conta dele não fecha”. O diretor da Acrimat frisa que “com os preços achatados todo mundo sai perdendo no processo dentro da escala pecuária”.
Na avaliação de Julio Rocha, entrevistado pelo Canal Rural, o ciclo da cria seria o mais prejudicado dentre os três, visto ser o mais oneroso. “Realmente quem mexe com cria a gente tem que tirar o chapéu. É um trabalho árduo. Os preços não estão compatíveis e quando não tem o preço adequado o produtor acaba por interromper [a atividade]. Acaba abatendo as matrizes”.
De acordo com ele, é necessário um prazo de dois anos para que uma fêmea emprenhar, parir e ser realizado o desmame do bezerro. Com um aumento dos abates das matrizes, como se vem observando no estado desde o ano passado, que ultrapassa o percentual de 50% dos animais enviados ao gancho, o impacto na oferta de bezerros é sentido no segundo ano.
O Mato Grosso alcançou nível recorde de produção de carne bovina em 2023, resultado estimulado pelo avanço no abate de fêmeas. Foram 6,16 milhões de bovinos enviados para a indústria, aumento de 23,53% em relação a 2022. O envio de fêmeas para abate cresceu 40,57%, para 2,81 milhões de animais. A participação de fêmeas nos abates ficou em 45,53% no último ano, acima da média histórica, que é de 41,98%. Os dados são do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) e estão presentes no boletim semanal do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
O Imea projeta que a oferta de bovinos permaneça elevada em 2024, ainda que sem superar o recorde de 2023 no Estado. Isso deve se dar, de acordo com o instituto, pela perspectiva de transição no ciclo pecuário. Para o instituto, a intensidade dos abates das fêmeas deverá ser um ponto de atenção neste ano, com a recuperação nos preços de reposição refletindo nas margens da cria.
Com informações da Agrifatto e Farmnews
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