Tropa Viajeiro faz teste genético para comprovar que os animais apresentam 100% de homozigose para o gene da marcha; éguas matrizes que descendem das éguas pilares da raça Mangalarga Marchador foram testadas
A raça de cavalos brasileira Mangalarga Marchador surgiu há cerca de 200 anos na Comarca do Rio das Mortes, no Sul de Minas, através do cruzamento de cavalos da raça Alter, cuja base é formada pela raça espanhola Andaluza, – trazidos da Coudelaria de Alter do Chão, em Portugal – com outros cavalos selecionados pelos criadores daquela região mineira.
Sinônimo de tradição e de versatilidade, o cavalo MM traz diversas atividades relacionadas ao seu andamento natural – a marcha, importante característica que agora pode ser garantida no padrão racial da raça através da ciência e genética.
A Tropa Viajeiro, estreitamente ligada às origens do Mangalarga Marchador no noroeste de Minas Gerais, acaba de conseguir uma certificação importante. Selecionando animais da raça há quatro gerações teve seu trabalho coroado com a certificação de 100% de homozigose para o gene da marcha.
“Os animais que estão em nossa base histórica são todos homozigotos para o gene da marcha. Esse é o reconhecimento de um trabalho bem sucedido, pois o objetivo sempre foi esse, criar animais puros e evoluir sobre o pureza, nunca buscamos sangue exótico como a gente vê habitualmente no mercado de cavalos de marcha” – ressaltou o titular da Tropa Viajeiro, Fernão Costa.
Segundo Fernão, quando souberam que havia a possibilidade de testar geneticamente os animais com o objetivo de identificar o gene da marcha, eles enviaram as primeiras amostras para os Estados Unidos, sob a supervisão do hipólogo, Dr. Lúcio Sérgio de Andrade. “O comprador de cavalos da Tropa Viajeiro tem a garantia de que está adquirindo um animal realmente marchador e puro, garantia é dada pela ciência” – disse o criador.
O retorno da marcha picada ao Padrão Racial, a valorização da marcha batida dissociada e cômoda e o entusiasmo do sucessor Fernão Costa, foram os responsáveis pela intensificação dos cruzamentos. Sem abandonar a paixão pela marcha de centro, foi criado um projeto para a marcha picada e outro para a marcha batida.
O material genético enviado aos Estados Unidos foi do potro Sândalo do Viajeiro (Elfo do Porto Azul x Dakota do Viajeiro), animal que testou positivo para 100% de homozigose do gene da marcha. Outro que foi testado e recebeu o certificado foi Nobre do Viajeiro (Herdade Pôquer x Natália da Coxilha Grande).
Segundo o Dr. Lúcio o teste não foi realizado em todo o plantel, mas o teste genético foi feito nas éguas matrizes que descendem das éguas pilares e dos reprodutores, portanto é indicação de que a homozigose para o gene da dissociação natural esteja disseminada em todo o plantel.
“A importância é a comprovação de ser um plantel 100% genuíno para a marcha picada, sendo uma garantia para compradores. E para o proprietário que escolherá os acasalamentos sabendo que 100% da prole herdará o gene da dissociação natural. ” – disse o Dr. Lúcio, zootecnista, professor e escritor de literatura especializada em cavalos de marcha.
Ainda segundo Dr. Lúcio esse teste prova a essência da marcha presente nos animais, mas não representa tudo, porque a qualidade da marcha depende também da qualidade do estilo, rendimento, regularidade e comodidade. “A qualidade total depende de fatores extra genéticos, tais como: treinamento, condicionamento físico, equitação, aspectos morfológicos e efeito comportamental” – ponderou o especialista.
“Parabenizo o Fernão Costa, titular do Haras Viageiro, conheci o Dr. Sérvulo Tadeu Brochado Costa, pai do Fernão. Lá atrás, na década de 80, quando eu julgava, quando havia provas em Brasília. Ele foi o primeiro criador, fora da minha família, do Criatório da Passa Tempo, que eu conversava muito com meu tio Márcio Andrade, sobre a Marcha de Centro e de seu objetivo de selecionar somente animais para a marcha de centro. Ele dizia: Essa é a marcha que eu quero no meu plantel, é uma picada equilibrada, que está bem centrada. ” – relembrou o hipólogo.
Pois bem, este foi o foco de seleção pura, sem misturar com marchas batidas de pouca dissociação. Então coroou um trabalho que já passa de quatro décadas. E talvez seja hoje, até o momento, por ter essa comprovação do teste genético de homozigose para dissociação natural, é o plantel comprovadamente mais genuíno da raça, genuíno na essência da palavra, sem marchas modificadas. Os animais já nascem com a predisposição para a dissociação lateral ou a dissociação centrada, pois está no genótipo” – finaliza Dr. Lúcio.
Tropa Viajeiro
De família tradicional da cidade histórica de Paracatu/MG e proprietário da Fazenda Ilha, em Unaí/MG, o titular da tropa, Dr. Sérvulo Tadeu Brochado Costa, herdou de seus antepassados o amor pela criação de cavalos, mais precisamente pelo Mangalarga Marchador.
No início da década de 70 a base da tropa foi formada por éguas representantes da seleção secular que foi feita nas principais fazendas de Paracatu, pelas famílias Botelho, Brochado, Adjuto e Faria, que sempre contaram com animais de alto nível genético, como é o caso de Rádio, adquirido com um lote de éguas por Lindolfo Garcia Adjuto na década de 40, quando, montado por Bolivar de Andrade, havia se sagrado campeão na então disputadíssima Exposição de Oliveira/MG.
Outros animais importantes de origem Passa Tempo e Angaí contribuíram com a formação deste banco genético e, dada a notória qualidade da tropa, representantes da ABCCMM à época foram impulsionados a incentivar e efetivamente a promover o registro destes animais.
No início da década de 80, com o objetivo de difundir o Mangalarga Marchador no Planalto Central, Dr. Sérvulo, residente em Brasília/DF, se juntou aos amigos José Arnaldo Canabrava, Eduardo Faria, Francisco Monteiro Guimarães, Diniz Botelho, Fernando Pizza e Fernando Câmara, e fundaram o Núcleo dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador do Planalto Central. O sucesso da iniciativa se refl ete na qualidade dos animais que atualmente representam o Planalto no cenário nacional.
Com foco na seleção da marcha verdadeira, hoje denominada marcha de centro, nas décadas de 80 e 90 foram introduzidos na tropa os garanhões Tribuno de Passa Tempo (Nababo de Passa Tempo x Cobiça de Passa Tempo), Veto de Passa Tempo (Invasor de Passa Tempo x Herdade Pintura), Amador de Passa Tempo (Herdade Festival X Grandeza de Passa Tempo) e Primor da Palmeira (Expoente HO x Mocambo Brigite).
Seleção da marcha picada
A seleção da marcha picada contou com o desprendimento do amigo José Márcio Leite, que emprestou ao criatório o até então desconhecido garanhão Elfo do Porto Azul. O resultado dos cruzamentos foi surpreendente, gerando animais que hoje compõem importantes criatórios de marcha picada e que se destacaram nas competições nacionais. Para não fugir às origens, após a partida de Elfo, o criatório utilizou em seu trabalho o garanhão Desafi o de Passa Tempo (Zinabre de Passa Tempo x Violeta de Passa Tempo), último padreador escolhido por Márcio Andrade para representar a Fazenda Campo Grande, e que hoje está sendo utilizado no trabalho de resgate da linhagem Passa Tempo.
Desde 2013, a seleção conta com a importante contribuição do reprodutor Herdade Pôquer (Herdade Bolero x Herdade Jogatina), adquirido pela Tropa Viajeiro para dar continuidade ao trabalho. O resultado dos cruzamentos não poderia ser melhor. Seus fi lhos já começam a despontar nas pistas. Em 2015, o garanhão Banzo do Viajeiro (Elfo do Porto Azul x Diadema do Viajeiro) foi repatriado, e tem assumido na reprodução papel condizente com os inúmeros títulos por ele conquistados, sendo cinco de âmbito nacional.
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