Transição de período seca x água: cuidados e impactos nas pastagens

Aqui a orientação é o pecuarista e sua equipe se prepararem para manejar bem a pastagem na próxima estação chuvosa para não cometer os erros do passado

Quando se trata de manejo da pastagem e de planejamento alimentar em sistemas de pastejo, considerando as dimensões quase que continentais do Brasil, com sua diversidade climática, é importante a caracterização desta diversidade para compreensão do que será abordado neste artigo.

Primeiro existem dois tipos climáticos principais no Brasil, o tropical, acima do trópico de capricórnio, e o subtropical, abaixo deste paralelo que está no hemisfério sul da terra na latitude de 23º 26´e 14´´ sul. Acima deste paralelo, na região tropical do país, para fins de planejamento alimentar divide-se o ano em duas estações, seca e chuva; por outro lado, abaixo daquele paralelo, para os mesmos fins, divide-se o ano nas estações de primavera:verão e de outono:inverno.

Do território brasileiro 92% encontra-se no hemisfério sul, 93% na zona tropical e neste artigo vamos trabalhar na região tropical do país, a qual é a mais representativa para a pecuária nacional principalmente a de corte. Para fins de foco como também de extensão do texto, este artigo será específico para a pecuária de corte.

Considerando agora apenas a região tropical, ainda é preciso fazer outra classificação: a maior parte das regiões dentro da zona tropical tem seu período chuvoso nas estações de primavera (22 de setembro a 21 de dezembro) e verão (21 de dezembro a 22 de março). Entretanto acima da linha do equador, já no hemisfério norte, e na faixa litorânea de parte da Bahia (mais ao norte deste estado) e dos outros estados nordestinos, o período chuvoso ocorre entre o final do verão até o final da estação de inverno. Neste artigo vamos trabalhar na região tropical do país onde o período chuvoso ocorre nas estações de primavera:verão, ou seja, entre setembro e março.

Posto isso, é preciso enfatizar que a primavera nesta região onde vamos trabalhar é a estação mais favorável para a produção vegetal e animal. É a estação na qual o fotoperíodo aumenta até o dia 21 de dezembro, a temperatura está em ascensão, começam as chuvas, ocorre incorporação de nitrogênio e enxofre ao solo proveniente da atmosfera, começa a decomposição de material orgânico do solo, com tudo isso ocorre uma explosão de crescimento da pastagem, se esta é bem manejada.

Sob o ponto de vista do componente animal é a estação em que a taxa de fertilidade de fêmeas e machos em reprodução é maior e que o desempenho individual é maior em todas as categorias animais do rebanho.

Por outro lado, diga-se de passagem, este período é o mais crítico dentro de uma perspectiva de planejamento alimentar em sistemas em pasto, principalmente quando o manejo da pastagem vem acumulando erros desde a estação chuvosa anterior.

A seguir algumas ocorrências que impõe desafios ao pecuarista e sua equipe de funcionários, e torna o planejamento alimentar mais complexo neste período.

•     Em fazendas onde a pastagem foi superpastejada (taxa de lotação acima da capacidade de suporte da pastagem) com o início das primeiras chuvas vem uma rebrota composta por folhas tenras, com baixo conteúdo de matéria seca e de fibra, com alta digestibilidade, que passa rapidamente pelo trato digestivo do animal, provocando diarreias. Por outro lado, sob o ponto de vista da planta forrageira, esta é consumida com alta intensidade e alta frequência, o que leva ao esgotamento de suas reservas, e possível degradação do estande de plantas. Sob o ponto de vista do solo, este pode ficar adensado levando a compactação e a possível erosão. Com estes erros acumulados a pastagem deixa espaços que são dominados por plantas infestantes. Aquela planta forrageira tenra é mais susceptível ao déficit hídrico ocorrido durante as estiagens (veranicos) como também à pragas cortadoras (formigas, lagartas, etc);

•     Em fazendas onde a pastagem foi subpastejada (taxa de lotação abaixo da capacidade de suporte da pastagem) desde a estação chuvosa anterior com a chegada das chuvas aquela alta massa de forragem que sobrou, está seca e os tecidos da planta mortos. Com as primeiras chuvas, as folhas secas e mortas se desprendem dos perfilhos e caem ao solo e na planta ficam os caules com perfilhos aéreos, a estrutura do pasto está comprometida, com touceiras altas e com muitos talos, circundadas por plantas baixas que vem sendo superpastejadas. As plantas altas e o excesso de palha sobre o solo retardam a rebrota inicial da pastagem por sombreamento das gemas basais e pela imobilização de nutrientes na decomposição da grande quantidade de palha (nitrogênio, fosforo e enxofre). Por outro lado, a espessa camada de palha cria ambiente favorável para a sobrevivência e proliferação de pragas, particularmente cigarrinhas que atacam pastagens, e de fungos que podem causar distúrbios nos animais. Além disso a espessa camada de palha tem sido uma das causas da morte de plantas forrageira em muitas regiões do país.

Estas duas condições de pressão de pastejo não serão resolvidas facilmente nesta transição seca:chuva 2019:2020. Aqui a orientação é o pecuarista e sua equipe se prepararem para manejar bem a pastagem na próxima estação chuvosa para não cometer os erros do passado e chegar no período de transição seca:chuva 2020:2021 mais bem preparado.

Mas vamos às ações que o pecuarista precisa estar preparado para este período de transição 2019:2020:

•     Para aqueles que vão estabelecer pastagens, é recomendado que as espécies e cultivares forrageiros que serão plantados já tenham sido escolhidos, que as sementes já estejam armazenadas na fazenda, que a analise de seu valor cultural já tenha sido feita em laboratório independente e comparada com a garantia da empresa para evitar surpresas desagradáveis e dissabores, que a taxa de semeadura já esteja calculada, que as máquinas, implementos e veículos que irão trabalhar no estabelecimento da pastagem já tenham sido revisados, que a equipe que irá executar já tenha sido treinada, que o solo já esteja preparado, no caso de preparo convencional, ou que já esteja tudo preparado para a dessecação da vegetação para plantio direto (plantio na palha);

•     Que a infraestrutura de suporte ao manejo da pastagem (módulos de pastoreio, cercas, aguadas, cochos etc.) esteja pronta ou sua manutenção em dia para aproveitar ao máximo o melhor período de produção animal em pasto;

•     Se houve erros no manejo do pastejo, provocados pelo subpastejo, e agora o pasto está com sua estrutura comprometida, desuniforme, entouceirado, com muitos talos nas touceiras, e com perfilhos aéreos nestes talos, esteja preparado para roçar o pasto e acertar a sua estrutura. A primavera, de outubro a dezembro, na região onde estamos trabalhando, é a melhor estação para roçar pastos;

•     Para o controle de plantas infestantes, por pulverização foliar, a primavera chuvosa é a melhor estação para a pastagem responder com vigor à eliminação da competição por fatores de crescimento, luz, dióxido de carbono, água, nutrientes e espaço. Assim o pecuarista deve estar preparado, com herbicidas comprados e já armazenados na fazenda, máquinas revisadas, pulverizador regulado, equipe treinada;

•     Para o controle de pragas da pastagem, principalmente das cigarrinhas e lagartas, que são as pragas que mais atacam pastagens na estação chuvosa, uma equipe de campo treinada para tal fim deve estar preparada para com uma certa frequência monitorar o surgimento daquelas pragas para que seu controle seja feito antes que a população da praga alcance o nível de dano econômico;

•     Se o pecuarista vai adubar pastagens espera-se que os corretivos (calcário e gesso) já tenham sido aplicados desde o final da estação chuvosa anterior para que já tenham reagido no solo; que os adubos já estejam comprados e armazenados na fazenda, que as doses de adubos que serão aplicadas tenham sido quantificadas com base em metas especificas e com analise de viabilidade técnica e econômica, etc. Do contrário é preciso reavaliar o programa e talvez tomar a decisão de deixar para o ano seguinte;

•     Para pecuaristas que irrigam pastagens tudo deve estar preparado para maximizar a produtividade na estação de primavera a qual apresenta as melhores condições ambientais para a máxima resposta da pastagem à esta tecnologia;

•     Em um programa de suplementação animal em pasto bem elaborado o ano é dividido em quatro períodos: transição seca:chuva, chuvas, transição chuva:seca e seca. Em cada um destes períodos deve haver mudanças no programa no tipo de suplemento, na sua quantidade e na sua composição, de acordo com a qualidade e a disponibilidade da forragem disponível, como também nas metas de desempenho de cada categoria animal do rebanho. No período de transição seca:chuva quando na maioria das fazendas os animais perdem condição corporal por causa das diarreias, hoje existem aditivos que incluídos nos suplementos previnem este quadro minimizando seu impacto sobre o desempenho animal;

•     Fazendas que exploram pastagens intensivamente no período chuvoso, e que não tem sistemas de irrigação, devem planejar a produção de volumosos suplementares para suplementar o rebanho principalmente no período de transição seca:chuva. A suplementação dos animais que voltarão para as pastagens após este período de transição tem sido denominada por “sequestro” e tem sido usada em fazendas de cria e de ciclo completo principalmente para os animais que foram desmamados na seca e para bezerras que serão desafiadas como superprecoces e novilhas prenhes que irão parir neste período e serão as primíparas na próxima estação reprodutiva. Por outro lado, em fazendas de recria e engorda, o sequestro tem sido usado como estratégia para repor animais mais facilmente e com menor custo de ágio ainda no período da seca. O sequestro de animais também tem sido usado como uma poderosa ferramenta para o manejo da pastagem neste período de transição; 

Por fim, chama-se a atenção para o fato de que numa mesma estação, em um mesmo período, o acúmulo de atividades é grande, sem considerar que ainda tem campanha de vacinação contra a febre aftosa em novembro, fora os imprevistos. Neste contexto recomenda-se que:

•     É preciso ter um planejamento de curto, médio e longo prazo, o qual deve ser elaborado com base em um inventário prévio, o qual deu suporte a um diagnóstico e um plano de metas;

•     Que no planejamento de curto prazo, neste caso específico, apenas no período de transição seca:chuvas, é preciso que todas as ações, tarefas, procedimentos estejam em um calendário de preferência impresso e afixado em um local visível para toda a equipe. E que ele tenha sido discutido exaustivamente com a equipe que irá executar;

•     Que a execução de cada ação, tarefa ou procedimento tenha sido avaliado sob as seguintes perspectivas: por que, onde, quando, por quem, quanto e como;

Esta sequência impedirá que haja “encavalamento” na execução e permitirá que se aproveite ao máximo as condições favoráveis do período de transição seca:chuva.

Fonte: Scot Consultoria

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