“Esses animais são como carros de Fórmula 1” explica especialista. Hoje, animais muito pesados não são mais uma opção viável para quem produz – mas no início dos anos 2000, chegavam a quase 1.500kg.
Bardo TE tinha 1.415 kg e 2 metros de altura. Era “gigante” e deixou inúmeros filhos produzidos por inseminação artificial, já que, com esse peso, seria quase impossível que uma vaca suportasse a monta natural. Bardo era mais pesado que Knickers, o boi que escapou do abate na Austrália graças às suas medidas, mas o que por lá foi uma alteração genética, no Brasil foi uma tendência na produção de touros para melhoramento genético durante quase 10 anos.
“Esses animais melhoradores são como carros de Fórmula 1. Eles são modelos, exemplos de eficiência que o produtor pode adquirir e melhorar geneticamente o próprio rebanho. O destino deles não é o abate, é a reprodução. São os netos, bisnetos deles que irão para a indústria” explica o leiloeiro rural Luciano Pires.
No Brasil, as raças zebuínas são as mais comuns na criação de gado: são cerca de 150 milhões de cabeças, de acordo com o especialista em melhoramento animal da Embrapa Gado de Corte, Antônio Rosa. “Por conta do nosso clima tropical, o zebu adaptou-se bem aqui, e o trabalho de melhoramento genético é responsável pela eficiência desses animais”.
Em torno de 65% do rebanho brasileiro é da raça Nelore, zebuína, de origem indiana e que chegou ao Brasil na década de 1960. O especialista explica que hoje esses animais gigantes não são mais uma opção viável:
“Houve um tempo em que esses touros gigantes eram produzidos, e precisavam de vacas de tamanho proporcional, para que o parto fosse possível, mas eles eram economicamente inviáveis. O custo era alto, eles comiam por 4 animais, precisavam de membros inferiores que suportassem todo esse peso. Hoje, o maior peso que se pode encontrar é em torno de 1,2 tonelada”, explica o especialista.
O maior reprodutor da raça nelore foi “Bitelo da SS” que nasceu em 1995 na fazenda São Sebastião em Caarapó (MS). Aos 72 meses, ele tinha 1.295 kg e 1,75 de altura. “Bitelo era racialmente perfeito, e os filhos dele herdavam essas características, e passavam para os seus descendentes. Assim, tivemos uma geração de animais belíssimos e um salto na qualidade do Nelore”, conta o leiloeiro.
Touros gigantes foram os pais da pecuária brasileira por décadas: ‘Eram maiores que o boi da Austrália’
Bitelo morreu em 2005 e, durante sua carreira, produziu mais de 200 mil doses de sêmen. Até hoje, é possível ver filhos de touros como Bardo e Bitelo, o sêmen deles coletado há mais de 10 anos é vendido em centrais. Porém, segundo Vinícius Tavares, veterinário da Joia da Índia, central que armazena o sêmen de Bardo, a procura hoje é por reprodutores mais atuais.
“Esses touros tiveram seu auge em 2001, nesse período. Hoje existem touros mais eficientes para a reprodução, que vão refletir no gado de produção. Animais com essa genética eficiente ganham mais peso em menos tempo, e vão mais rápido para a indústria”, conta.
O leiloeiro Luciano Pires lembra que, antigamente, era possível encontrar touros de quase 1.500kg: “O Brasil já produziu touros mais pesados que o boi da Austrália, mas em outras condições e com uma finalidade diferente. O trabalho no país é direcionado, focado, e o resultado disso é a excelência da nossa pecuária”.
A diferença entre boi e touro
No Brasil, boi é o que vai para o abate, e touro é para reprodução. O animal australiano é um boi, e aqui, os bois não chegam a atingir esse tamanho e peso. Por uma demanda da indústria, animais de corte são abatidos com peso entre 19 e 22 arrobas, ou seja, com cerca de 550kg. “Os frigoríficos tem uma estrutura preparada para animais de certo padrão”, conta o especialista Antônio Rosa.
Consultado sobre o boi Knickers, Rosa explica que, nas condições brasileiras, um animal como ele seria impossível:
“Apesar de existirem variações dentro da raça e, eventualmente, surgir um indivíduo extraordinário, um touro como esse, de raça leiteira, é raríssimo atingir esse peso e tamanho, e no Brasil, com as condições de ambiente, seria inviável”, explica.
Rosa conta que animais gigantes hoje representam um problema para o pecuarista: “Aqui evitamos os extremos, porque o animal grande traz problema. Eles custam caro, ocupam uma área onde o produtor porderia ter 3 ou 4 animais e quanto mais pesado, mais tardio é o touro, mais tempo ele leva para amadurecer sexualmente”.
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O especialista conta que os touros de central, que atingem o peso de 1.200kg, vivem menos: “Com esse tamanho, demandam muito mais cuidados de alimentação, e cuidados médicos, eles vivem em torno de 8 anos, enquanto um boi saudável pode chegar a 12, até 14 anos”.
Com a biotecnologia disponível, que possibilita uma velocidade ainda maior desse melhoramento genético, ele afirma que touros gigantescos não fariam tanto sucesso no Brasil:
“Os touros deixam de ser famosos muito cedo, então, por aqui, para ser destaque ele não precisa ser enorme. Animais gigantes são interessantes de se ver, mas para nós, que exportamos carne, o que interessa mesmo é a eficiência, e nesse caminho, estamos um passo à frente”, finaliza.
Fonte: G1