Artigo escrito pelo doutor em produção animal William Koury Filho sobre fugirmos dos extremos e pensar no equilíbrio da raça Nelore.
Olá, amigos agropecuaristas! Já estamos em novembro. Neste momento, o fogo já não é tão preocupante, mas, em boa parte do Brasil e da Bolívia, ainda há muitos agropecuaristas com dor no pescoço de tanto olhar para o céu além de consultar a previsão do tempo. Como nós, do agro, louvamos o clima. Claro! Dependemos demais do regime de chuvas.
Acabo de retornar da Bolívia.
Lá, realizamos o 1º Remate conceitual, no dia 5 de outubro. Foi um grande êxito, confirmando o rumo que os bolivianos estão dando à seleção (coluna do mês passado), valorizando touros costeludos e musculosos, com certificados para morfologia produtiva e avaliações genéticas em equilíbrio.
Por falar em equilíbrio, vamos ao título da coluna. Em se tratando de índices, como será o resultado da seleção em programas de melhoramento de Nelore PO em longo prazo?
Olhar somente para índices genéticos e buscar o Top 0,1%, sem interpretar as DEPs das características, pode resultar em animais em desarmonia com sistemas de produção específicos – talvez o seu. Mas como assim? Os índices em programas PO contemplam demasiadamente o peso, principalmente ao sobreano. Tal característica pode conduzir a animais grandes, mais exigentes, e resultar em machos tardios e em fêmeas que não se mantêm em boa condição corporal para emprenhar com regularidade.
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Outro problema sério tem sido o aumento de ajuda nos partos, principalmente em novilhas, ainda mais nas precoces, e que está diretamente relacionado com o peso ao nascer em função da seleção para altos desempenhos em ganho em peso – além do peso, o tamanho do bezerro também parece influenciar.
Tenho visto animais de altos índices, porém fracos de posterior, sem a conformação que buscamos para corte em termos de proporções corporais e evidência de massas musculares (biotipo), sem falar em aprumos que podem gerar altos níveis de descarte e falta de caracterização racial que dificultam a padronização. Vale deixar claro que também existem animais Top 0,1% que apresentam biotipo, raça e tudo mais que buscamos em um bom reprodutor. Mas não significa que seja um animal bom em tudo. Existem animais com índices nem tão altos, que podem ser interessantes para você, por serem mais fortes nas características mais importantes em seu objetivo.
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A questão é que, simplesmente, o índice (Top), que está muito em evidência no mercado, não está relacionado diretamente ao equilíbrio com a morfologia e, consequentemente, não implica a padronização de um tipo. Portanto, por si só, não resulta em identidade de uma raça precisa de outros componentes no processo de seleção.
O mercado é soberano, essa é uma grande verdade. No entanto, já vimos modismos surgirem e desaparecerem por não gerarem os resultados esperados. O fato é que, em bovinos, compreender as consequências de um critério de seleção equivocado leva muito tempo e, quando nos damos conta, demoramos outro tempo até colocarmos novamente o rebanho nos eixos.
Mas vamos às considerações finais: a raça Nelore tem variabilidade para redefinir rumos a qualquer momento. Penso que, com a busca forte por índices, estamos gerando benefícios maiores em produtividade do que quando se comprava genética simplesmente por visual, sem grupos de manejo e maiores garantias de valores genéticos. Porém tenho a convicção de que podemos estar incorrendo num erro parecido com o que a pista chegou quando se buscou o desempenho a qualquer preço.
Observando o resultado da seleção obcecada por índices genéticos e a total falta de identidade morfológica da raça Nelore, prefiro recorrer a Aristóteles e colocar em dúvida se estamos realmente no rumo certo. Já dizia o grande pensador grego: devemos fugir dos extremos, o melhor caminho é o do meio, ou seja, o do equilíbrio.
É isso aí. Vamos que vamos!
*William Koury Filho é zootecnista, mestre e doutor em Produção Animal, jurado de pista de Angus a Zebu e proprietário da Brasil com Z® – Zootecnia Tropical.