Ao considerarmos o sistema produtivo, tudo depende. Depende porque a cada situação objetivamos alvos distintos, e na decisão por estes alvos, algo pode mudar.
Sendo assim, tomar decisões no sistema produtivo não é fácil, porém, se basear em algo que já existiu com certeza pode ajudar muito.
Produzir leite não é uma tarefa muito fácil e, portanto, decidir sobre algo de imediato é difícil, mas às vezes necessário. A produção de leite em pastagem como já escrevi por aqui outras vezes, é um sistema em si, fácil de fazer, porém, muitos, acreditam ser impossível. Mas impossível por quê? Porque muitos infelizmente optam por caminhos mais difíceis. Mas que caminhos são estes? Caminhos complexos. A simplicidade pode ter certeza, levará a respostas mais positivas.
Como gosto de exemplificar, neste mesmo site verifiquei uma vez uma foto de animais leiteiros subindo por uma estrada íngreme por meio de degraus feitos de bambu. Isto mesmo, bambu. Inacreditável a primeira vista, mas fui entendendo o quanto aquilo era simples e funcional. Portanto, aquele produtor vinha perdendo muitos animais por escorregamentos (quedas) em função da declividade e umidade em dias de chuva que deixava o piso muito escorregadio. Sendo assim, ele tomou uma atitude imediata e simplista de colocar de forma transversal alguns bambus que faziam com que os animais não escorregassem mais.
Vacas de leite subindo uma escada elaborado com bambus. Foto: AutorComo gosto de histórias, um dia me contaram que em uma fábrica de pasta de dente, havia muitas reclamações quanto a caixinhas do produto que eram embaladas vazias por um erro da máquina que colocava as pastas nas caixas menores (embalagens). Cada vez que isso acontecia, parava toda a linha de produção e atrasava todo o processo. Sendo assim, vieram engenheiros internacionais para resolver o problema. Após observação, relataram que precisavam um mês para projetar a máquina para explicar o motivo pelo qual algumas caixinhas estavam vazias. Após um mês, voltaram à fábrica e viram que a linha de montagem funcionava perfeitamente e perto dela havia um ventilador. Neste momento perguntaram o que é isto? A resposta dada por um dos funcionários foi simples: “colocamos este ventilador pois, ao soprar o ar na linha, ele empurra para fora as caixas vazias e conseguimos descobrir quais estão fora do padrão e devem ser retiradas. Assim não tivemos mais problemas e a linha não parou mais”.
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Senhores, eu lhes pergunto: precisamos esperar a linha parar ou esperar um mês para resolver o problema? Voltando a falar de vacas leiteiras em pasto, do que elas precisam? Precisam de pessoas com olhares aguçados. Produtores e técnicos práticos e eficientes.
Vacas tem que ser bem alimentadas e por isso não deve faltar alimentos. Por isso, começando pelo pastejo, soltar os animais dois dias antes ou depois em um determinado piquete não vai acabar com o capim. Adubar de forma correta e gastar alguns reais a mais não vai “matar” o produtor e sim produzir mais capim. Se eu acelero mais tenho mais velocidade, mas gasto mais gasolina. Será que este gasto não paga outros?
Sobre arraçoamento, há tantas maneiras de compor nossos concentrados e ainda atender as exigências dos animais. Será que não temos capacidade para isso? Será que uma limpeza de piquete de forma manual que demora duas horas não pode ser feita para minimizar ou atender um lote de bezerros ao invés de esperarmos um mês pela máquina?
Senhores, a vaca tem pressa e ela precisa de bem estar para produzir. Será que precisamos esperar o verão para colocar sombra para as vacas? Será que temos que esperar a seca para produzir alimento? Se nós queremos respostas para tudo isso, a hora é agora. Não deixe para amanhã. Mesmo que tomemos decisões erradas temos que acertar o máximo possível.
Porém senhores, eu não posso dizer que as atitudes devem ser tomadas por qualquer um. Não. Ao menos utilize um bom senso para isso. Buscar ajuda deve acontecer. Então a busca de novas técnicas deve ser adotada sempre. Mas o dia a dia é da vaca com o produtor. Eles sabem mais que tudo na produção e o olhar de cada um responde ao olhar do outro.
Você já se viu perguntando para a vaca o que ela precisa? Não é assunto de maluco e sim uma percepção do que está acontecendo ao olharmos para o animal. Será que atendemos a vaca ou a nós?
Senhores têm coisas que não podemos esperar em um sistema de produção. Existem problemas que devem ser resolvidos e por isso requerem atenção. Estude o caso, mas tome decisões. Elas precisam existir, pois sem elas o sistema não anda. Fecho este texto falando sobre a decisão do sistema. Crie coragem e se pergunte: é isso mesmo que o meu animal quer e eu também quero? Não espere o prejuízo – muito menos o fracasso – para decidir sobre o que precisa fazer ou quer fazer. Defina seu sistema. Tome a suas decisões.
Autor:
Marco Aurélio Factori Presidente Prudente – São PauloProfessor na UNOESTE – Presidente Prudente Zootecnista, Dr. em Zootecnia pela FMVZ/UNESP – Botucatu SP. Manejo de Pastagens, Conservação de Forragens e Nutrição Animal com foco em nutrição de Ruminantes.
Fonte: MilkPoint