TMG investe em pesquisas e avança no mercado internacional

Empresa de melhoramento genético planeja liderança no mercado do algodão e estreia no milho mirando potencial do grão.

Focada no desenvolvimento de novas cultivares de soja, algodão e, mais recentemente, de milho, a TMG Melhoramento & Genética planeja investir R$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento nos próximos sete anos. O diretor-presidente da empresa, Francisco Soares, avalia que a agricultura brasileira está apenas no início da industrialização e tem um futuro promissor.

A TMG possui parceria com as maiores detentoras de tecnologia para sementes e trabalha para o desenvolvimento de cultivares produtivas e com características específicas para as regiões produtoras. 

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Nesta entrevista ao Agro Estadão, Soares comenta sobre temas como propriedade intelectual, inteligência artificial, expansão do negócio, busca pela liderança no algodão e atuação em outros países. 

Agro Estadão – Em que momento a TMG se encontra hoje no mercado com mais de 20 anos? Como você avalia a posição da empresa diante das concorrentes e da produção agrícola no Brasil?

Francisco Soares, diretor presidente da TMG Melhoramento & Genética – Por ser uma empresa de melhoramento genético, a TMG é uma empresa relativamente nova, tem 23 anos. Hoje a empresa americana que domina o mercado americano, que é uma das maiores lá, tem 65 anos de melhoramento. Tem outras empresas aqui no Brasil que tem 40 anos de melhoramento, a Embrapa tem 60 anos de melhoramento e a TMG tem 22. Então é uma empresa jovem, porém nesse período ela conseguiu, na minha opinião, uma maturidade muito grande em cima dos processos, em cima da visão que tem do melhoramento genético. E para isso a gente investiu e está investindo para competir com os melhores no mercado. O exemplo disso é que nós somos, não vou falar líderes no algodão, mas brigando pela liderança no algodão, que hoje é uma cultura muito importante para exportação e para o Brasil. E na soja a gente está trabalhando para voltar a crescer na nossa participação, que pelo que a gente investe, pelo conhecimento acumulado que a gente tem, a gente não está ocupando o local, o lugar adequado dentro do ranking de market share, de participação de mercado. Então eu vejo que a gente está em um momento de ainda crescer mais no algodão e assumir a liderança e voltar a crescer na soja e ser um competidor no nível que a gente está tendo de competição no mercado.

Agro Estadão – E agora com a entrada da empresa no milho, qual projeção de crescimento e o que significa oferecer mais essa cultura?

Francisco Soares – A decisão de entrar no milho foi feita há 12 anos e mostra o quão demorado é para chegar num híbrido. Na época, a gente enxergava que havia uma possibilidade da soja não crescer mais em área plantada por vários motivos, motivos ambientais, motivos de terra, enfim, de abertura e outras culturas também competindo. Então a gente falou: como continuar crescendo? Analisamos várias possibilidades de terceira cultura: trigo, arroz, gergelim, feijão. E a gente viu que dentro da agricultura comercial, de grande escala, o milho era mais adequado. A gente já tinha uma expertise em melhoramento e resolveu investir no milho. Na minha opinião, foi uma decisão acertada, porém a competição de milho é diferente. São grandes empresas que trabalham, que dominam o mercado de genética de milho, como Corteva, Bayer, Syngenta. Pequenas empresas têm mais dificuldade ou menos capacidade de crescimento. A gente sabia disso, mas já confiava na nossa capacidade de geração de dados e de resultado. E investimos e hoje estamos nesse ponto de vir ao mercado.

Agro Estadão – Há 12 anos o potencial do milho era uma, hoje é outra. Como você avalia esse crescimento?

Francisco Soares – Não só o milho, mas a soja, o algodão, essas culturas têm potencial de crescimento ainda em produtividade muito alto, no meu ponto de vista. Então se pegar o histórico de produção há 10 anos, no mínimo de 10% a 15% conseguimos ganhar em produtividade por área. E o milho tem potencial muito grande, porque além de alimentação animal e humana também, um fator novo que está acontecendo nos últimos 7 anos, é o etanol de milho, principalmente no Mato Grosso, nos estados produtores do cerrado. Para mim, isso vai causar não só uma mudança muito grande na demanda, na oferta de milho, que está tendo essa demanda agora para etanol e também tem um subproduto que é muito nutritivo, que é o DDG. E por se tratar de uma segunda safra após a soja, a área disponível é muito grande. Então hoje o Mato Grosso planta 11 milhões de hectares de soja, e 7 milhões de hectares de milho. Ele pode ir para 8 milhões, 9 milhões. E outros estados como Goiás, Tocantins, muitos estados já estão desenvolvendo essa segunda safra. Hoje com as tecnologias, com a soja mais precoce, o milho mais precoce, até esses estados que fazem uma safra só por ano já estão vislumbrando fazer duas safras. Então a possibilidade de crescimento da área de milho é muito grande sem afetar a área de soja inclusive. Possivelmente – em não muito tempo – a gente vai ter uma maior produção de milho do que de soja dentro do Brasil, em toneladas. Mas é 10 anos para o milho passar a soja, não dá isso.

Agro Estadão –  O que mais pode se expandir na cultura do algodão?

Francisco Soares – Algodão é oferta e demanda. Na minha visão, o Brasil duplica a área de algodão sem muito esforço, mas tem que estar de olho em preços mundiais. A gente não está falando de alimento, então se tiver uma crise ou a economia desacelerar, o consumo de algodão diminui. E é um produto muito caro para ser implantado. Se implantar e não tiver rentabilidade, são anos perdidos, não é um ano perdido. Então tem que ter critério e cuidado na avaliação econômica da cultura do algodão. Mas condições técnicas, climáticas e solo a gente tem para aumentar.

Agro Estadão – Os investimentos da TMG são focados principalmente em tecnologia e melhoramento genético. Onde está a maior concentração?

Francisco Soares – Por ainda não dar rentabilidade, o milho está exigindo um grande esforço, um grande aporte de investimento. Também estamos buscando soluções transgênicas para o bicudo do algodoeiro, que é uma praga super importante para quem produz algodão. Para controlar ela requer muitas aplicações, e isso causa um impacto no meio ambiente muito drástico. E a gente está buscando uma biotecnologia que controle ou ajude a suprimir o bicudo para diminuir esse grau de aplicação, para diminuir essa exposição em produtos químicos. Esses dois representam um terço dos investimentos. Para a soja é praticamente 70%, estamos investindo em ambientes controlados, casas de vegetação, outros tipos de ambientes também sofisticados, laboratórios, máquinas para análise genética, inteligência artificial, enfim. A gente também investe no mapeamento de novos genes com universidades e com empresas fora do Brasil. Tudo isso são  mais de 40 projetos. O investimento só em pesquisa e desenvolvimento chega a R$ 210 milhões por ano, e até 2031 serão R$ 2 bilhões 

Agro Estadão – Vamos falar um pouco mais sobre a pesquisa do bicudo. Por que é tão difícil encontrar uma cultivar resistente? É algo que outras empresas e instituições de pesquisa também tentam há décadas.

Francisco Soares – Tem vários processos para a gente atingir. A gente está no primeiro de quatro. E isso demora uns 15 anos. Então a gente imagina que daqui 10, 12 anos a gente tenha um produto comercial. A transformação no algodão é mais difícil, por alguns motivos  biológicos. O bicudo ataca a flor, então a tecnologia que a gente busca tem que estar na flor e a gente tem que pôr no lugar certo para o gene ativa. E não pode prejudicar o meio ambiente. Segurança alimentar e segurança ambiental. 

Agro Estadão – Como você avalia o uso da Inteligência Artificial no melhoramento genético?

Francisco Soares – A inteligência artificial, do meu ponto de vista, é bem subjetiva, é uma ferramenta que, de certa forma, vai mudar a maneira como todos trabalham, não só o melhoramento de genética. Os olhos humanos têm uma limitação, não só os olhos, mas as capacidades humanas, e a máquina ajuda a gente a fazer correlações e trabalhar em cima de bilhões de dados. Não há dúvidas sobre a importância e a capacidade que a IA tem, porém a construção de um bom banco de dados e a consistência na melhoria desse banco de dados vai trazer um potencial que a gente desconhece até onde pode chegar, porque nós acreditamos que realmente pode trazer uma diferenciação muito grande nessa visão do melhoramento genético, da escolha das melhores combinações, da escolha do melhor produto. A gente vai otimizar os nossos recursos, fazendo a mesma coisa, talvez no mesmo tamanho de área, só que com muito mais assertividade.

Agro Estadão – A partir da transformação digital que a agricultura vive, que agora está na agricultura 5.0, quais avanços a TMG pode ter nesse contexto?

Francisco Soares – Eu vejo que na agricultura, tem muitas informações, algumas são utilizadas, outras não. Só que a gente tem muito a desenvolver ainda para ver qual a ação será tomada pelo produtor com aquelas informações. Então acho que falta esse processo. Para mim, tem um gap no meio do caminho, que é essa tomada de decisão, essa leitura da situação e ver alguma coisa que os nossos olhos não veem e ajudar o produtor. O diagnóstico se faz. Mas o que fazer, ou interpolar os diagnósticos, um mapa de produtividade, um mapa de praga, e ter uma leitura mais clara sobre isso, automaticamente isso ainda está por vir.

Agro Estadão – E o homem é quem precisa fazer isso.

Francisco Soares – O homem precisa fazer isso, mas ele faz com limitações. Agora com relação à TMG, como é uma empresa menor, mais tecnificada e que entende que são vários fatores que influenciam, a gente está utilizando muito bem essas novas tecnologias. Então a gente usa drone para ver grau de maturação das variedades, pra ver se teve falha ou não nas parcelas. Então, os drones já estão sendo muito utilizados. A hora que você coloca dentro de um banco de dados [as informações], a inteligência já está filtrando algumas características importantes. A hora que você coloca os dados da genômica, do conhecimento genético, do DNA da planta, ela já consegue identificar também e já fazer algumas correlações e trazer as predições de cruzamento e tudo mais. Então, eu acredito que tem muito para evoluir ainda nessa parte digital dentro da TMG, mas eu vejo que a gente usa bastante as ferramentas hoje disponíveis e que é o principal, a gente busca cada vez mais no mundo do conhecimento, empresas que fornecem novos equipamentos, ou que a gente participa de hubs de tecnologia, tanto no Mato Grosso como aqui em Londrina e estamos abertos a qualquer tipo de inovação que venha a facilitar o nosso trabalho, melhorar a nossa visão sobre o nosso trabalho.

Agro Estadão – O tema propriedade intelectual preocupa a TMG atualmente, em termos de negócio? 

Francisco Soares – As patentes de tecnologias, mas a gente acredita que a estabilidade e a segurança jurídica no Brasil ainda exista. Então, se for conduzido os registros, todo o processo de uma maneira adequada, preocupa, claro, porque tem gente contestando, mas tem uma segurança jurídica em todo o processo que respalda a manutenção da tecnologia. Um ponto é o aumento das sementes salvas que, de certa forma, tira a captura de valor do obtentor de germoplasma. Porque a biotecnologia se consegue recuperar em cima das patentes que ele tem, mas o germoplasma não tem patente. Algumas doenças nos preocupam também, porque quando acontece uma doença que ninguém conhece tem pressão forte para a gente dar uma resposta sobre isso. Tem alguma coisa genética aí? Mas o grande desafio mesmo é pessoas. Nosso esforço é ter bastante investimento em pessoas, em treinamento para que esse pessoal do campo, esteja cada vez mais maduro pra fazer um bom trabalho de avaliação e de trazer resultado.

Agro Estadão – E como você vê a edição genética na elaboração de novas cultivares? A TMG já faz?

Francisco Soares – A edição genética é cara para a pesquisa e a hora que for lançada no mercado não tem a patente. Então as empresas que estão trabalhando com isso deram uma desacelerada. Porque não tem a garantia que se elas tiverem todo esse investimento lá na frente elas vão ter retorno financeiro. Todo mundo está pesquisando, nós estamos fazendo esse processo com parcerias, não internamente, para não descapitalizar. Mas encontramos bons parceiros e estamos satisfeitos com o andamento dos projetos. E outro ponto interessante é que não adianta a gente fazer edição gênica se você não sabe o que você quer editar.  Você tem que ter um foco para a edição. Mas na minha visão é uma prática fantástica que vai trazer benefício para a agricultura.

Agro Estadão – Como vocês avaliam as mudanças drásticas no clima, que afetam diretamente as produções. Qual o posicionamento da empresa diante desse cenário?

Francisco Soares –  A gente imagina que algumas áreas que não serão mais viáveis para a agricultura. Então, é preocupante. A busca é por material resistente ao calor mesmo. Até por sinal aqui, nessa região [no Paraná], é muito calor. Parece que é fria, mas é muito calor. E um dos fatores de seleção aqui é se aguenta ou não o calor. Tem que ir para um caminho assim de buscar alguma solução genética para mitigar esse possível aquecimento ou mudança climática que a gente pode sofrer.

Agro Estadão – A TMG mudou, recentemente, os nomes das cultivares de soja, num movimento de valorizar as regiões. Quais características principais têm essas novas variedades? 

Francisco Soares – A gente tem alguns pontos que a gente presta atenção. As variedades têm que ser boas de raiz, tanto em profundidade quanto em tamanho de raiz.  Cerca de 90% do nosso portfólio já sai com essa base, a qualidade de grão, para nós, é importante. Resistência a chuvas, à falta de chuvas, resistência a doenças. A gente vê que para a sustentabilidade da agricultura é importante pensar na sanidade da soja também. Isso tudo está debaixo de um guarda-chuva que é da produtividade. Porque se não tiver produtividade, tudo o que eu falei, raiz, doença, grão, qualidade de grão, não decola. E no Brasil, a gente precisa de variedades diferentes para cada latitude. Então é um trabalho também que, vamos dizer, é um desafio para o nosso melhoramento genético e tem que ter variedades desde um perfil bem temperado, como o do Rio Grande do Sul, a um perfil muito tropical, como Roraima. Esse ano, para o sul são três variedades e para o norte são sete, oito variedades.

Agro Estadão – Há planos para aumentar o número de unidades de pesquisa, que hoje são 14?

Francisco Soares- Sempre dá para ampliar e ser mais abrangente no território. Mas é uma coisa que a inteligência artificial pode nos ajudar. Por exemplo, a gente sabe que o ponto X da área 10, ela corresponde à mesma coisa que várias regiões vizinhas. Então a gente consegue, com dados climáticos, extrapolar aquele resultado para outras regiões e isso tem funcionado. Então, provavelmente, a gente não irá aumentar as áreas e usar a inteligência artificial para extrapolar esse resultado para as outras áreas.

Agro Estadão – E o mercado internacional para a TMG, quais os planos?

Francisco Soares – Hoje nós já estamos na Argentina com alguns trabalhos, mas não tem nenhuma variedade lançada. Temos parceiros no Uruguai, Paraguai, Bolívia e Colômbia. Estamos registrando variedades na África do Sul. E agora, recentemente, veio um pedido pra gente fazer alguma coisa na Guiana, porque eles estão precisando da tecnologia e querem que a gente vá lá ajudar a desenvolver. E os Estados Unidos também são nosso foco, tem trabalho de pesquisa lá, mas a gente enxerga que atingir o mercado americano é um pouquinho mais complexo do que a gente imaginava porque eles são protecionistas. Mas o algodão é mais viável do que a soja, porque a nossa genética está mais evoluída para o algodão. Estamos há mais de 5 anos fazendo ensaios lá e estamos fazendo um melhoramento já direcionado. Lá tem que ser mais precoce e pode ser “mais doente”, ou seja, mais simples. Parece brincadeira, mas as variedades podem ser mais suscetíveis a doenças as doenças que existem aqui não existem lá. 

Agro Estadão – Em geral, o que ainda é possível explorar na agricultura do Brasil?

Francisco Soares –  Eu tenho otimismo em relação à agricultura brasileira, eu acho que eu sou privilegiado de ter vivido e mudado para Mato Grosso na época do boom, do grande aumento de área, de crescimento que teve lá. E o que eu vi acontecer lá, a gente vê que realmente a sociedade muda, as cidades mudam, as cidades se desenvolvem, a riqueza floresce, a qualidade de vida melhora e a agricultura hoje no Brasil é o motor para essa melhoria de qualidade de vida. A industrialização do agronegócio nem começou ainda. Está começando agora com o etanol. Tem muita coisa para se fazer no agronegócio ainda.

Fonte: Agro Estadão

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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