Ex-peão, pioneiro da montaria, ajudou a difundir a modalidade em todo o território nacional e transformou o esporte em profissão.
O rodeio em touros chegou ao Brasil há quarenta anos e bastante coisa mudou nas arenas, tanto no desafio dos peões, como no manejo dos animais. Tião Procópio, pioneiro da montaria, ajudou a difundir a modalidade em todo o território nacional e transformou o esporte em profissão. Nascido no interior de São Paulo, em uma família tradicional do campo, o ex-competidor conquistou títulos, fama e atualmente é reconhecido como um dos melhores juízes de rodeio do país.
No ano de 2019, durante a Festa do Peão de Barretos, o ex-peão compartilhou memórias do início das montarias em touro e comentou a trajetória do esporte. Se autodenominando o “Garrincha das Arenas”, Tião considera que, assim como o craque do futebol, ganhou fama em uma época em que os prêmios estavam em segundo plano.
Tradição e paixão
Tião Procópio, hoje com 60 anos, recorda a época da infância e adolescência, tempo em que todo o trabalho pesado da fazenda era feito por bois. Com os avanços tecnológicos, os animais foram substituídos por máquinas e o que sobrou das experiências passadas pelos avós foi o rodeio, considerado por ele uma tradição que deve ser levada adiante.
Desde os sete anos de idade que o pequeno Procópio montava em bezerros. Aos 12, ele já enfrentava os touros, sempre incentivado pelo pai. Foi do circo que veio a inspiração por esse tipo de montaria. Ele recorda que o avô e o pai emprestavam animais bravos para serem desafiados em touradas nas apresentações dos artistas que passavam pela cidade. “No começo, eu montava com as duas mãos, em um tipo de arreio com duas alças para segurar, totalmente diferente de hoje. Mesmo ainda não existindo aqui no Brasil, a montaria em touro estava dentro de mim, no meu sangue e hoje é a minha tradição”.
Tião chegou a disputar a montaria em cavalos, nos estilos cutiano e bareback, entretanto, desistiu para se dedicar a verdadeira paixão: os touros. No ano de 1979, o ex-peão soube que a modalidade seria praticada na Festa do Peão de Barretos, de forma até então inédita. Ele viajou até a cidade para conversar com a organização e tentar uma oportunidade de montar profissionalmente. “Conversei com o diretor de rodeio, naquela época era o Barcelos. Porém, eu tinha apenas 19 anos, era muito novo e ele me aconselhou a montar no rodeio amador”, conta Procópio, que diz se lembrar em detalhes desse dia.
Dedicação
O peão decidiu então conhecer o rodeio no exterior e embarcou para os EUA. Ele ingressou em uma escola para formação profissional no estilo da montaria que mais gosta, passou em todos os testes e conquistou a carteira profissional da Professional Rodeo Cowboys Association (PRCA), a maior organização americana de rodeio do mundo. Ele explica que: “nos Estados Unidos tudo é muito profissional. Desde aquela época, você não poderia simplesmente se inscrever e montar, como a gente faz aqui. Era preciso passar por essa escola, ter a carteira para ser liberado para as montarias. Foi lá que eu aprendi a fazer tudo certinho”.
Procópio tornou-se o primeiro brasileiro a competir em montarias em touro no exterior e foi de lá que trouxe os equipamentos adequados a serem produzidos no Brasil. Como nos rodeios brasileiros só existiam montarias em cavalos, não haviam peças para peões que quisessem competir em touros no país. As arenas e os bretes também não eram adaptados para essa modalidade.
Retornando da viagem, em 1980, ele trouxe os equipamentos que serviram como modelo de produção nacional. Trouxe, ainda, o mais importante: o conhecimento. “Quando eu comecei, não tinha nada. O primeiro rodeio não tinha regras, nem contagem dos 8 segundos. Em 1980, começamos a trabalhar no regulamento, aí já foi tudo mais certo”.
Evolução
Tião Procópio considera a década atual como anos dourados das montarias em touros. Recorda que a principio os prêmios milionários ainda não existiam, tratava-se de poucos títulos e quase nenhum reconhecimento. O ex-competidor conta que os peões recebiam cachês para montar, com pagamentos muito baixos e quase não era possível viver da profissão. No comparativo ele observa: “a gente fazia por amor. Em 1980, quando eu ganhei em Barretos, levei uma televisão de 14 polegadas. No futebol, tem o Garrincha, o Pelé e o Neymar. Eu fui o ‘Garrincha do Rodeio’, um jogador considerado o melhor do mundo, mas quando não tinham tantas premiações. O Adriano Moraes foi o Pelé e essa nova turma é o Neymar, que conquistou mais reconhecimento”.
Procópio afirma que, além da valorização dos profissionais, existe mais profissionalismo e treinamento. Um passo importante para isso foi a criação da lei número 10.220, de 2001, que institui normas relativas à atividade de peão de rodeio e o equipara a atleta profissional. “Antigamente, os peões não estavam ali como esportistas. Tinha muita gente que montava, mas também seguia outra profissão. Além daqueles que ficavam em noitadas. Hoje, termina o rodeio e o peão vai para o hotel descansar, se preparar para o outro dia. Eles fazem academia e procuram se profissionalizar cada vez mais. A maioria dos competidores tem carteira de trabalho assinada para esse tipo de profissão”, explica.
Entretanto, reforça que ainda existem muitas dificuldades para os atletas que estão iniciando na carreira. De acordo com ele, no Brasil não há escolas de formação oficial para peões de rodeio, algo comum no exterior. “Nos Estados Unidos tem o rodeio infantil, o amador e depois o profissional. Aqui só tem o profissional. Existem vários cursos, mas nada oficial como lá. Então o cara precisa se virar para aprender e ficar implorando para montar nos rodeios”, diz.
Em sua visão, a competição também está ficando mais fácil e segura, uma vez que as estruturas das arenas, arquibancadas e bretes foram modificadas ano a ano, sendo adequadas para a montaria em touros. Os peões ganharam equipamentos de segurança essenciais. “O piso do chão era de grama ou terra, hoje é areia. A gente não tinha capacete, luva ou colete. A espora era de montar cavalo e não cerravam a ponta do chifre dos bois. Hoje melhorou no nível, tem mais técnica, mais espetáculo. Na nossa época era muito mais perigoso”.
Procópio ainda afirma que os animais de rodeio são tratados como artistas. Ele conta que os touros chegam a custar R$ 300 mil e são cuidados por veterinários 24 horas por dia. O ex-competidor explica que antes os animais não tinham o mesmo tratamento nos rodeios. Atualmente, os touros também pontuam, são destacados e ganham prêmios. “Nós do rodeio amamos esses bichos. Eu tenho o maior xodó com os touros e se alguém judiar deles, sou o primeiro a brigar. Eles têm tudo de melhor, desde o pasto, ração, até a água. Eles pulam daquele jeito, porque é a genética e a índole deles. Naquela época, não tinha essa preocupação”, diz.
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