Aparição inesperada dos animais, que já foi relatada em cinco municípios, tem tirado a renda de pelo menos uma centena de pescadores na bacia do rio Jacuí.
ELIANE SILVA
O aparecimento de piranhas vermelhas, chamadas de palometas, na bacia do rio Jacuí está tirando a renda de pelo menos uma centena de pescadores que vivem da atividade na região central do Rio Grande do Sul e pode chegar em ao rio Guaíba, que banha a capital Porto Alegre.
Cinco municípios – Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Vale Verde, Bom Retiro do Sul e General Câmara – já informaram a presença nas águas do Jacuí da espécie invasora e predadora que ataca os outros peixes nas redes, inviabilizando a pesca. General Câmara fica a menos de 70 km da capital.
Segundo Everson Flores, presidente da Associação dos Pescadores de Santo Amaro, uma colônia de pescadores de General Câmara, as piranhas apareceram há cerca de três meses e estão devorando todos os peixes que caem nas redes. Ele diz que, em vez dos 20 kg diários por pescador, atualmente a pescaria no Jacuí, segundo maior rio do Estado, se retoma a 2 kg.
“Estamos apavorados. Elas estão procriando demais e ficando muito grandes. Pedimos ajuda porque estamos passando fome por não ter o que pescar”Everson Flores, presidente da Associação dos Pescadores de Santo Amaro
Marcelo Moraes, pescador há mais de 20 anos em Santo Amaro, relata que nunca viveu situação semelhante. Ele diz que as piranhas atacam os peixes na rede e, muitas vezes, só sobram a cabeça e o rabo.
Moraes cita a seca como outro problema adicional, já que a barragem do rio está quatro metros abaixo da média. A colônia tem cerca de 70 pescadores na atividade. No Estado, a estimativa é de 20 mil pescadores.
Helton Holz Barreto, prefeito de General Câmara que também mora em Santo Amaro, diz que a maioria dos pescadores deixou até de colocar a rede no rio porque a piranha, além de atacar os peixes, fura as redes.
“Acho que vamos ter que aprender a comer piranha”, brinca o prefeito, que tentou sem sucesso buscar o seguro-defeso para os pescadores junto à Secretaria Nacional da Pesca e foi encaminhado ao Ministério da Cidadania para tentar um auxílio emergencial às famílias. A reunião está marcada para esta quinta-feira (29/4).
Auxílio emergencial
O prefeito da cidade de 9 mil habitantes, que também é presidente da Associação dos Municípios da Região Carbonífera, diz que, enquanto não consegue ajuda do governo federal, está tentando viabilizar um auxílio municipal para os pescadores, mas diz que só teria condições de bancar isso por uns dois meses.
Mauricio Vieira de Souza, biólogo e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), diz que as piranhas estão distribuídas por uma extensão de 150 km do Jacuí, mas por enquanto, não há relato de mordidas em banhistas.
Segundo ele, as piranhas da espécie Serrasalmus maculatus são nativas da bacia do rio Uruguai e devem ter chegado ao Jacuí após uma mistura das águas das duas bacias, provavelmente na confluência dos rios Ibicuí e Vacacaí.
“Precisamos investigar onde ocorreu essa transposição de águas para tentar evitar mais desequilíbrios. Ao longo dos anos, outras seis espécies de peixes já passaram da bacia do Uruguai para o Jacuí, mas não eram predadores e não causaram problemas “, diz.
Segundo Souza, outra alternativa mais improvável para explicar a presença das piranhas no Jacuí seria o escape de aquários, já que são espécies também em aquários.
O analista diz que, quando ocorre uma invasão como essa, a tendência é haver uma explosão da população só no início porque, depois, a espécie nova já enfrenta predadores, entra na cadeia alimentar e precisa disputar espaços para desova e cria com outros peixes.
Souza lembra que a piranha não causa desequilíbrio na bacia do Uruguai nem atrapalha a pesca por lá. “Provavelmente, as pessoas vão ter que aprender a conviver com essa alteração ambiental, já que não há como erradicar uma espécie invasora.”
A introdução do dourado, que está quase extinto no Jacuí, seria uma alternativa, já que ele é predador da piranha, mas o analista ressalta que isso pode provocar novo desequilíbrio, já que o dourado é predador também de outras espécies.
- Jonh Deere enfrenta possíveis tarifas com sólida estratégia, diz CEO
- Maior refinaria de açúcar do mundo terá fábrica no Brasil para processar 14 milhões de t/ano
- Pecuarista é condenado a 3 anos de prisão por matar mais de 100 pinguins na Argentina
- Nova CNH em 2025 só para carros automáticos? Entenda
- Mulheres no café: concurso Florada Premiada da 3 Corações exalta e premia produtoras
Questionário
O Ibama está enviando às prefeituras um questionário para identificar o tamanho da infestação e tomar decisões. Também foi disponibilizado um formulário on-line para as pessoas que quiserem colaborar registrando o aparecimento das piranhas.
A equipe, que está em home office pela pandemia, deve visitar em breve as cidades com mais ocorrências. Uma preocupação adicional é tentar evitar que as piranhas cheguem ao litoral norte, após passarem pelo Guaíba. Como palometas andam em cardumes pequenos, têm comportamento agressivo e dentes cortantes. Podem alcançar até 34,5 cm.