Terapia da vaca seca: Importância, benefícios e guia de secagem

Este período, conhecido como “terapia da vaca seca”, envolve práticas específicas que visam garantir a saúde da vaca e a qualidade do leite na próxima fase de produção.

A pecuária leiteira é uma atividade econômica de grande relevância, especialmente em regiões onde a produção de leite constitui uma das principais fontes de renda. Dentro desse contexto, a saúde e a produtividade do rebanho são fatores cruciais para o sucesso da atividade. Um dos períodos mais críticos no manejo das vacas leiteiras é a fase de secagem, que precede a nova lactação. Este período, conhecido como terapia da vaca seca, envolve práticas específicas que visam garantir a saúde da vaca e a qualidade do leite na próxima fase de produção.

A terapia da vaca seca desempenha um papel fundamental na prevenção de infecções intramamárias, como a mastite, e na recuperação do tecido mamário após o estresse da lactação. Além disso, essa prática é essencial para preparar o animal para o próximo ciclo de lactação, assegurando uma produção de leite eficiente e de alta qualidade. A correta implementação das técnicas de secagem pode resultar em benefícios significativos, tanto em termos de saúde animal quanto em produtividade. Neste artigo, discutiremos a importância da terapia da vaca seca, seus principais benefícios e um guia prático para a realização do processo de secagem.

O período seco das vacas é uma fase crucial de preparação para a próxima lactação, geralmente começando 60 dias antes do parto. Durante esses dois meses, ocorre a regeneração das células da glândula mamária, preparando o animal para a produção de leite subsequente.

Fases do Período Seco

Este período pode ser dividido em três fases principais:

  • Involução Ativa: Primeira fase em que a glândula mamária começa a involuir.
  • Involução Constante: Fase intermediária de manutenção.
  • Lactogênese/Colostrogênese: Fase final, onde há a preparação para a produção de colostro.

As fases de involução ativa e lactogênese/colostrogênese são particularmente críticas, pois apresentam maior risco de novas infecções intramamárias.

Desafios e negligência no período seco

Terapia da vaca seca: Importância, benefícios e guia de secagem

Infelizmente, o período seco é muitas vezes negligenciado. Muitos produtores e técnicos não adotam estratégias eficazes para o controle da mastite, nem implementam ações que aumentem a produtividade na lactação seguinte.

Controle da mastite durante o período seco

O manejo adequado das vacas durante o período seco é essencial para um programa eficaz de controle e erradicação da mastite. As principais estratégias incluem:

  • Redução de Quartos Infectados: Diminuir o número de quartos mamários infectados no momento da secagem.
  • Diminuição da Exposição: Reduzir a exposição dos tetos aos agentes patogênicos.
  • Aumento da Resistência: Melhorar a resistência do animal contra microrganismos que possam colonizar a glândula mamária.

Terapia de vaca ceca

A terapia de vaca seca é fundamental tanto para prevenir novos casos de mastite, principalmente os causados por bactérias ambientais, quanto para tratar infecções existentes, especialmente mastite contagiosa. O risco de novas infecções é particularmente alto nas duas semanas após a secagem e próximo ao parto.

Fatores contribuintes para infecções no período seco

Diversos fatores contribuem para o aumento das infecções intramamárias durante o período seco:

  • Alterações metabólicas e imunidade: As vacas passam por mudanças metabólicas significativas e uma queda na imunidade durante a transição.
  • Condições ambientais: Ambientes inadequados, com altas temperaturas, umidade, falta de sombra e acúmulo de matéria orgânica, aumentam o risco de infecções.
  • Pressão interna do Úbere: O acúmulo de leite aumenta a pressão interna, facilitando a penetração de microrganismos.
  • Interrupção das ordenhas: A interrupção das ordenhas faz com que o leite retido se torne um excelente substrato para o crescimento bacteriano.
  • Mobilização das células de defesa: Durante a secagem, as células de defesa se mobilizam para outras funções, como a remoção de células mortas e resíduos de leite.
  • Interrupção da desinfecção: A rotina de desinfecção é interrompida, permitindo a proliferação de bactérias na pele do teto.

Impacto das infecções no período seco

Terapia da vaca seca: Importância, benefícios e guia de secagem

As infecções durante o período seco têm um impacto direto na produtividade do rebanho. Muitos casos clínicos de mastite observados no início da lactação têm origem nesse período, especialmente mastite causada por coliformes. Portanto, grande parte dos casos de mastite clínica pode ser evitada com o manejo adequado durante o período seco.

Vantagens da terapia de vaca seca

A terapia de vaca seca, apesar do risco elevado de novas infecções durante o período seco, oferece várias vantagens significativas, destacando-se pela sua eficácia e benefícios econômicos.

  • Maiores taxas de cura

Durante o período seco, as taxas de cura de infecções intramamárias são geralmente mais altas do que durante a lactação, podendo ser até o dobro. Isso ocorre porque, durante a secagem, é possível utilizar medicamentos com concentrações mais elevadas de antibióticos, sem a preocupação com resíduos no leite.

  • Eliminação de resíduos de antibióticos no leite

Na lactação, o uso de antibióticos exige o descarte do leite contaminado, resultando em perdas financeiras para o produtor. No entanto, com a terapia de vaca seca, a possibilidade de contaminação do leite por resíduos de medicamentos é mínima, desde que se respeite o período de carência do medicamento utilizado. Isso reduz os custos associados ao descarte de leite.

  • Aumento da vida útil das vacas no rebanho

Vacas que se recuperam de infecções intramamárias através da terapia de vaca seca têm uma vida útil prolongada dentro do rebanho. Elas não precisam ser segregadas ou descartadas, o que representa uma vantagem econômica significativa para os produtores de leite. Manter vacas produtivas no rebanho sem a necessidade de descarte prematuro maximiza o retorno sobre o investimento em cada animal.

Vantagens da terapia de vaca seca para vacas com mastite

A terapia de vaca seca oferece benefícios notáveis, incluindo a recuperação de lesões na glândula mamária causadas por patógenos e a redução dos índices de mastite clínica nas primeiras semanas após o parto.

Eficácia variável conforme o agente causador

As taxas de cura da mastite durante a terapia de vaca seca frequentemente dependem do agente patogênico envolvido. Por exemplo:

  • Alta Eficácia: Streptococcus agalactiae responde muito bem à terapia.
  • Baixa Eficácia: Staphylococcus aureus é mais resistente ao tratamento.

Outros fatores, como a saúde geral do animal e sua idade, também influenciam significativamente a taxa de cura.

Processo de secagem em sete passos simples

A secagem adequada das vacas é crucial para maximizar os benefícios da terapia de vaca seca. Aqui está um guia passo a passo para o procedimento:

  1. Esgotar Completamente os Tetos: Certifique-se de que todo o leite seja retirado dos quartos mamários.
  2. Imersão em Solução de Pré-Dipping: Submerja os tetos em uma solução desinfetante apropriada para pré-dipping.
  3. Secar os Tetos: Use papel toalha descartável para secar os tetos após a solução de pré-dipping ter agido.
  4. Desinfetar a Ponta dos Tetos: Utilize um produto específico ou algodão embebido em álcool 70% para desinfetar as pontas dos tetos.
  5. Aplicar o Medicamento: Utilize uma cânula curta para infundir o antibiótico intramamário específico para vacas secas em todos os quartos mamários.
  6. Massagear os Tetos: Massageie os tetos de baixo para cima para garantir a difusão adequada do medicamento.
  7. Imersão em Solução de Pós-Dipping: Submerja os tetos em uma solução desinfetante de pós-dipping para finalizar o processo.

Monitoramento pós-secagem

É recomendável monitorar visualmente as vacas por duas semanas após a aplicação do antibiótico para garantir que não haja complicações ou novas infecções.

Terapia de vaca seca seletiva

Globalmente, há uma tendência crescente de reduzir o uso de antimicrobianos em animais de produção. Essa pressão visa a um uso mais racional dos medicamentos, tanto por questões de saúde pública (humana e animal) quanto pela crescente resistência dos microrganismos aos produtos comumente utilizados.

Países europeus como Holanda, Dinamarca e Suécia já implementam a terapia de vaca seca seletiva de forma ampla.

O que é a terapia de vaca seca seletiva?

A terapia de vaca seca seletiva baseia-se na premissa de que nem todas as vacas possuem infecções intramamárias no momento da secagem. Esse método utiliza fatores como cultura microbiológica, histórico de mastite clínica e contagem de células somáticas (CCS) para decidir quais vacas receberão infusões de antibiótico intramamário durante a secagem. As vacas saudáveis são secas apenas com o uso de selante de tetos.

Avanço em programas de controle

Os programas de controle e erradicação da mastite nos países europeus mencionados são muito mais avançados do que no Brasil, com alguns patógenos já eliminados nesses locais. Embora a terapia seletiva não seja recomendada universalmente, essa prática apresenta uma tendência observada em certos países. As condições brasileiras são únicas e devem ser analisadas de forma independente. Pesquisas contínuas estão sendo realizadas para entender melhor os efeitos e a eficácia dessa abordagem.

Uso de selantes de tetos

Nas primeiras semanas após a secagem, ocorre a formação do tampão de queratina no teto das vacas, atuando como uma barreira natural contra infecções intramamárias. No entanto, essa formação pode falhar ou atrasar, reduzindo a proteção.

Para aumentar a proteção do teto e do ambiente interno da glândula mamária, foram criados selantes internos de teto. Esses selantes são feitos de uma substância inerte, sem propriedades antimicrobianas, e imitam a função do tampão natural, interrompendo a comunicação entre o interior da glândula mamária e o ambiente externo. Eles aderem ao canal do teto durante todo o período seco e podem ser removidos manualmente logo após o parto.

Associação com antibióticos

Muitas vezes, o uso de selantes é combinado com antibióticos na terapia de vaca seca, aumentando a proteção da glândula mamária durante o período seco. Em fazendas que adotam a terapia de vaca seca seletiva, o uso de selantes de tetos é essencial.

A terapia de vaca seca seletiva é uma abordagem emergente que busca otimizar o uso de antimicrobianos em rebanhos leiteiros, melhorando a saúde animal e reduzindo a resistência microbiana. O uso de selantes de tetos complementa essa estratégia, oferecendo proteção adicional durante o período seco. No entanto, a adaptação dessa prática às condições brasileiras deve ser cuidadosamente considerada, com base em pesquisas e contextos específicos locais.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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