Tendências na produção de grãos para a safra 2023/2024

Segundo o 1º Levantamento da Safra de Grãos 2023/24 da Conab, a safra brasileira de grãos para o período 2023/24, que está começando a ser plantada, pode chegar a 317,5 milhões de toneladas.

Esse valor representa uma pequena redução em relação à safra anterior, devido à expectativa inicial de queda na produtividade média dos cultivos, mesmo com um leve aumento na área total plantada. A Conab divulgou o 1º Levantamento da Safra de Grãos 2023/24, que aponta um aumento na área e na produtividade da soja, o principal grão produzido no País.

No entanto, esse crescimento deve ser menor que o observado na safra passada. A expectativa é que a produção de soja atinja um novo recorde de mais de 162 milhões de toneladas, com uma área de 45,18 milhões de hectares e uma produtividade média inicial de 3.586 quilos por hectare. O cultivo está avançando bem no Paraná, onde 20% da área já foi plantada. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a área cultivada corresponde a 19,1% e 8%, respectivamente.

O arroz também deve ter um incremento na área e na produtividade média, segundo o levantamento. A estimativa é que a produção de arroz seja de 10,8 milhões de toneladas, um aumento de 7,7% em relação à safra 2022/23.

A produção de milho teve uma queda se comparada á anterior, segundo o 1º Levantamento da Safra de Grãos 2023/24 da Conab. A área plantada deve diminuir 4,8%, ficando em 21,19 milhões de hectares, e a produtividade média deve cair 4,9%, alcançando 5.636 quilos por hectare. A Conab informou que o plantio do cereal no primeiro ciclo já começou nos três Estados da região Sul do País. Com esse cenário, a expectativa é que a produção total de milho na safra 2023/24 seja de 119,4 milhões de toneladas, enquanto na safra passada foram colhidas mais de 130 milhões de toneladas.

O trigo está com 40% da área colhida e deve ter uma produção de 10,5 milhões de toneladas, um pouco menor que a safra de 2022. Isso se deve ao aumento de 12,1% na área plantada e à queda de 11,6% na produtividade, em comparação ao ano anterior. A Conab explicou que o clima afetou tanto o potencial produtivo, como foi o caso do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, que tiveram chuvas excessivas e doenças relacionadas à alta umidade, como também o calendário de colheita, como aconteceu no Paraná, onde o calor acelerou o ciclo da cultura.

Evolução no mercado

A dinâmica da demanda por grãos está em constante transformação no cenário global, impulsionada por uma interseção complexa de fatores que moldam tanto o consumo quanto o comércio dessas commodities agrícolas. Notáveis entre essas influências são:

A crescente demanda por biocombustíveis, especialmente o etanol de milho, que tem impulsionado a produção e o consumo de grãos como milho, soja e cana-de-açúcar. Segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o Brasil deve produzir 6 bilhões de litros de etanol de milho na safra 2023/24, um aumento de 36% em relação à safra anterior.

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A recuperação da demanda chinesa por soja, após a crise sanitária que afetou o seu rebanho suíno em 2019 e 2020. A China é o maior importador mundial de soja e tem aumentado as suas compras do Brasil, o maior produtor mundial da oleaginosa. A expectativa é que as exportações brasileiras de soja alcancem 128,4 milhões de toneladas na safra 2023/24, um aumento de 2,4% em relação à safra anterior.

As mudanças nas preferências dos consumidores, que buscam cada vez mais alimentos saudáveis, nutritivos, diversificados e sustentáveis. Isso tem estimulado o consumo de grãos integrais, orgânicos, funcionais e alternativos, como quinoa, amaranto, chia, entre outros. Esses grãos têm alto valor nutricional e benefícios para a saúde, além de serem adaptados a diferentes condições climáticas e ambientais.

Impacto da tecnologia na produção de grãos

A interseção entre tecnologia e produção de grãos tem desempenhado um papel crucial no aprimoramento da eficiência e qualidade agrícolas. Este cenário de inovação tecnológica abarca desde avanços no melhoramento genético das culturas até a implementação de ferramentas digitais, como agricultura de precisão, inteligência artificial, automação e biotecnologia.

Dentre as aplicações dessas tecnologias na produção de grãos, destaca-se a agricultura de precisão. Essa abordagem possibilita o monitoramento e gerenciamento mais eficientes das lavouras, resultando na otimização do uso de insumos, redução de custos e minimização dos impactos ambientais. O emprego de drones, sensores, imagens aéreas e sistemas de informação geográfica (SIG) capacita a coleta e análise de dados relacionados às condições do solo, clima, saúde das plantas e presença de pragas. Essa abordagem, por sua vez, facilita a tomada de decisões informadas e intervenções adequadas em diferentes áreas da propriedade.

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A inteligência artificial, que permite a automatização de processos, a predição de cenários, a identificação de padrões e a geração de insights para a gestão da produção. O uso de algoritmos, redes neurais, aprendizado de máquina e visão computacional pode melhorar o desempenho e a rentabilidade dos produtores, além de reduzir os erros humanos e os riscos operacionais. Um exemplo é o uso da inteligência artificial na classificação dos grãos de soja, que pode acelerar e padronizar esse processo, garantindo a qualidade do produto.

A biotecnologia, que permite o desenvolvimento de cultivares mais resistentes, produtivas e adaptadas às condições de solo e clima brasileiros. O uso de técnicas de engenharia genética, edição de genoma, marcadores moleculares, entre outras, pode conferir às plantas características desejáveis, como tolerância à seca, ao calor, a pragas e doenças, além de maior valor nutricional e funcional. Um exemplo é o desenvolvimento de cultivares de soja transgênica, que representam mais de 90% da área plantada no Brasil.

Praticas sustentáveis

A busca pela sustentabilidade na produção de grãos se apresenta como um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade valiosa para os produtores. Este equilíbrio delicado exige a harmonização entre a rentabilidade econômica, a preservação ambiental e a responsabilidade social. A preocupação com a sustentabilidade permeia todas as etapas da cadeia produtiva, desde o plantio até o consumo final, demandando a incorporação de boas práticas agrícolas, certificação da produção, rastreabilidade dos produtos e atenção às expectativas dos consumidores e da sociedade.

Dentre as diversas iniciativas específicas destinadas a promover a sustentabilidade na produção de grãos, destaca-se a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Este método consiste na combinação de diferentes sistemas produtivos na mesma área, seja de maneira alternada ou consorciada, visando alcançar sinergias entre eles. Além de potencializar a produtividade, diversificação, renda e segurança alimentar dos produtores, o sistema ILPF contribui para a melhoria da qualidade do solo, água, biodiversidade e clima. Segundo dados da Embrapa, a área destinada à ILPF no Brasil é estimada em 17,5 milhões de hectares.

O manejo integrado de pragas e doenças (MIP), que consiste em utilizar diferentes métodos de controle, de forma racional e integrada, visando reduzir as perdas causadas por esses agentes e minimizar os efeitos negativos sobre o ambiente e a saúde humana. Esse método envolve o monitoramento das pragas e doenças, o uso de cultivares resistentes, o controle biológico, o manejo cultural e o uso adequado de defensivos agrícolas. Segundo a Embrapa, o MIP pode reduzir em até 50% o uso de agrotóxicos nas lavouras de grãos.

A certificação da produção, que consiste em obter um selo ou um documento que ateste que a produção segue determinados padrões de qualidade, sustentabilidade, rastreabilidade, entre outros. A certificação pode agregar valor aos produtos, facilitar o acesso a mercados, aumentar a confiança dos consumidores e garantir a conformidade com as normas legais e ambientais. Um exemplo é o programa Soja Plus, que certifica a produção de soja sustentável no Brasil, com base em critérios sociais, ambientais e econômicos.

Expectativa dos preços

Os cenários para os preços dos grãos no próximo ano fiscal encontram-se sob a influência de uma série de fatores, cujos impactos podem variar entre positivos e negativos sobre as cotações das commodities agrícolas. Dentre esses determinantes, é essencial considerar:

A dinâmica da oferta e demanda global, intricadamente vinculada às condições de produção, consumo e estoque nos principais países produtores e importadores de grãos. A oferta, sujeita a variáveis como fatores climáticos, sanitários e logísticos, entre outros, apresenta a capacidade de ser reduzida ou ampliada no mercado. A demanda, por sua vez, é sensível a fatores econômicos, políticos e sociais, entre outros, podendo estimular ou desestimular o consumo de grãos em diferentes segmentos. A interrelação entre oferta e demanda, crucial na determinação do equilíbrio ou desequilíbrio do mercado, exerce influência direta sobre os preços dos grãos.

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A taxa de câmbio, que representa a relação entre o valor da moeda nacional e o valor da moeda estrangeira, geralmente o dólar. A taxa de câmbio pode afetar os preços dos grãos de duas formas: pela via da exportação e pela via da importação. Pela via da exportação, uma desvalorização da moeda nacional torna os produtos mais competitivos no mercado externo, aumentando a demanda e os preços dos grãos. Pela via da importação, uma valorização da moeda nacional torna os produtos mais baratos no mercado interno, reduzindo a demanda e os preços dos grãos.

Os eventos específicos, que são situações imprevisíveis ou extraordinárias, que podem ter um impacto significativo nos preços dos grãos, de forma pontual ou duradoura. Esses eventos podem ser de natureza climática, como secas, geadas, enchentes, entre outros, que podem afetar a produção e a qualidade dos grãos. Podem ser de natureza geopolítica, como guerras, conflitos, embargos, sanções, entre outros, que podem afetar o comércio e a segurança dos grãos. Podem ser de natureza econômica, como crises, recessões, inflações, entre outros, que podem afetar o consumo e a renda dos grãos.

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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