Essa técnica, capaz de multiplicar mudas de plantas com segurança, higiene e uniformidade, pode contribuir para atender à demanda crescente por fibras naturais nos setores produtivos e industriais do País.
A técnica de cultura de tecidos tem mostrado bom potencial para escalonar e aprimorar a produção de mudas do curauá (Ananas comosus var. erectifolius (L. B. Smith)), uma bromélia amazônica com amplo potencial de uso na indústria por sua resistência e características que podem substituir parcialmente a fibra de vidro, na composição de carenagens de celular, compósitos poliméricos e como solventes de óleo diesel, entre outras aplicações. Essa técnica, capaz de multiplicar mudas de plantas com segurança, higiene e uniformidade, pode contribuir para atender à demanda crescente por fibras naturais nos setores produtivos e industriais do País.
O resultado é fruto de ações de pesquisa da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) para desenvolver o sistema de cultivo dessa planta em uma ampla parceria governamental criada no Amazonas para a adoção da fibra em indústrias do Polo Industrial de Manaus (PIM). Nos experimentos, foram usadas mudas de curauá branco (foto abaixo) e roxo (foto de abertura da matéria) produzidas em cultura de tecidos pelo Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA). Elas foram plantadas no campo da Embrapa, visando coletar dados agronômicos para possibilitar o conhecimento que será levado aos agricultores. Fruto da parceria com o governo, as mudas foram e estão sendo acompanhadas pelo pesquisador Francisco Célio Chaves.
Os resultados obtidos comprovam que a técnica de cultura de tecidos é vantajosa, pois permite escalonar e otimizar a produção de mudas, pelo método convencional, após o primeiro plantio (implantação de lavoura). Isso é bastante positivo para quem pretende produzir fibras naturais e comercializar as mudas, facilitando a ampliação dos plantios.
As informações sobre esse estudo estão publicadas na tese do professor Felipe Padilha, orientado de Chaves, que finalizou doutorado no Programa de Pós-Graduação em Agronomia Tropical (PPGATR) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em outubro de 2024, abordando o crescimento e o acúmulo de nutrientes em curauá em casa de vegetação.
“O cultivo do curauá, no estado do Amazonas, ainda é muito pouco difundido e existem poucos trabalhos a essa cultura no estado, principalmente em relação à adubação e à nutrição mineral da espécie”, afirma Padilha. Para fazer o experimento no campo, ele aproximou as recomendações de adubação usadas no estado do Pará.
O município de Santarém é o principal produtor de curauá, sendo cultivado principalmente por pequenos agricultores. Porém, de acordo com o professor, poucos dados agronômicos da espécie são encontrados na literatura. Por isso é necessária a validação agronômica do cultivo do curauá para o estado do Amazonas, juntamente com os processos de produção da cultura.
Ele conta que percebeu a necessidade de mais estudos voltados para a cultura, principalmente sobre a influência de cada nutriente no crescimento da planta, visando à otimização da produção de folhas, e também para compreender como esses nutrientes podem influenciar na qualidade das fibras.
As mudas foram plantadas em campo no mês agosto de 2022 e colhidas em fevereiro de 2024. O curauá roxo não se desenvolveu bem em campo, sendo necessários mais estudos acerca do cultivo desse tipo de acesso de curauá em latossolo amarelo distrófico, encontrado nas condições de cultivo da Embrapa. Já o curauá branco apresentou bom desenvolvimento. No estudo, foram avaliados o número de folhas, altura da planta, número de perfilho, massa fresca de folhas, peso de fibra seca e rendimento do curauá branco para seis tratamentos.
Vantagens do curauá
Entre as espécies produtoras de fibras naturais, o curauá apresenta material tecnológico atrativo. É uma planta nativa da floresta amazônica e suas fibras podem ser utilizadas para diversos fins. A planta apresenta ampla distribuição geográfica, encontrando-se nos estados do Pará, Acre, Mato Grosso, Goiás e Amazonas. Devido às condições climáticas favoráveis dos trópicos úmidos, o estado do Amazonas possui variedades de recursos para aumentar a produção de fibras naturais, como clima, temperatura, umidade e o incentivo por uma produção mais sustentável.
A validação agronômica de espécies nativas possibilita ao produtor, às secretarias de estado, às instituições de pesquisas, às universidades e aos demais interessados, o acesso aos índices técnicos da cultura, além de promover um arcabouço de informações sobre o seu potencial agrícola. Nesse contexto, é essencial estudar o crescimento e o acúmulo de nutrientes nas partes da planta.
Apesar da demanda crescente por fibras naturais dos setores produtivos e industriais, os plantios comerciais para atender às demandas fabris ainda são insuficientes. O principal fator limitante à produção do curauá no estado do Amazonas é a falta de informações agronômicas e de conhecimentos específicos sobre a espécie.
O crescimento vegetativo das plantas está relacionado ao ambiente e as respostas fisiológicas do seu metabolismo. Vale destacar que essas características de crescimento podem ser utilizadas como base para trabalhos relacionados ao mapeamento genético de espécies vegetais utilizados no melhoramento para produção de híbridos adaptados à região amazônica, e ainda responder a questões relacionadas à nutrição de plantas, absorção e acúmulo de nutrientes e nas funções dos nutrientes no metabolismo da planta.
Projeto-piloto de produção de fibra do curauá
O governo do estado lançou, em 2024, projeto-piloto de produção de fibras do curauá, para implantação na Comunidade Santo Antônio de Caxinauá, distrito de Novo Remanso, situado em Itacoatiara (a 176 quilômetros de Manaus). Ele é coordenado pela Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), a Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), em conjunto com o Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), entre outras empresas envolvidas no desenvolvimento da cultura do curauá.
O objetivo do projeto-piloto é identificar dados técnicos e científicos da produção de fibras do curauá que podem ser utilizados pelo setor industrial para atender ao mercado de materiais plásticos utilizados em indústrias do Polo Industrial de Manaus. A expectativa é contribuir para geração de emprego e renda aos agricultores da região que trabalham na produção da cultura. Um dos primeiros usos será para substituir uma parte da capa plástica de celular, hoje 100% plástico, para um percentual de fibras naturais.
Produtor rural destaca benefícios do curauá
Claudimar Mendonça já foi produtor de abacaxi, trabalhou com pecuária e com fruticultura. Construiu e mantém há 11 anos uma agroindústria denominada Unifruti Polpas da Amazônia, em Novo Remanso, no município de Itacoatiara. Hoje tem plantado um hectare com 12.500 plantas. Fez o plantio do curauá no começo de 2024 após aceitar participar do projeto-piloto do governo do estado.Sobre a perspectiva de ampliar a plantação, Mendonça diz que abraçou logo porque acredita no potencial da cultura, uma vez que já conta com mercado consumidor nas indústrias de Manaus. “A fibra do curauá pode substituir fibras importantes também para a produção têxtil, como a juta e a malva, porque tem uma durabilidade similar a da fibra de vidro”, acrescenta.
O produtor enfatiza a confiança na produção da fibra do curauá. “Além do significativo potencial agrícola da nossa região, o Novo Remanso abriga uma das maiores produções da fruticultura. Por isso, acreditamos que o curauá vai agregar valor para as famílias da região e dos produtores rurais”, comenta. “Eu diria que a tradição agrícola da região do Novo Remanso também pode contribuir para isso porque o curauá e o abacaxi têm o mesmo gênero botânico e os cultivos tem características semelhantes”, informa Maia.
Fonte: Embrapa
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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