Taxa Selic: Banco Central volta a subir a taxa básica de juros no Brasil

A Taxa Selic estava no patamar de 10,50% ao ano desde maio; segundo o Copom, cenário mais desafiador demanda uma política monetária mais contracionista

Por conta dos números fracos da economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu nesta quarta-feira (18) elevar a taxa básica de juros (Taxa Selic) em 25 pontos-base, para em 10,75% ao ano. A decisão do colegiado de diretores do BC foi unânime – todos os nove membros do Copom votaram pela alta. A decisão foi unânime.

Em seu comunicado sobre a decisão, o Copom avaliou que o atual cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista.

A nova alta da taxa básica de juros (Selic) deve trazer novos impactos para o mercado de crédito e para a economia, principalmente os produtores rurais que devem iniciar a Safra 2024/2025.

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Foto: Divulgação

O aumento da Selic tem um impacto direto nos financiamentos rurais. Como a taxa Selic é a taxa básica de juros da economia, quando ela sobe, os juros dos financiamentos também sobem. Isso significa que os produtores rurais que precisam de financiamento para suas operações terão que pagar mais por esse crédito.

Além disso, o aumento da Selic pode ter outro efeito indireto: limitar a disponibilidade de crédito. À medida que o dinheiro se torna mais caro, os bancos, por sua vez, podem se tornar mais seletivos na concessão de crédito. Isso, consequentemente, pode dificultar ainda mais o acesso dos produtores rurais ao financiamento.

Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), há “uma medida excessiva” para controlar a inflação e prejudicaria o crescimento econômico. “Os cenários econômicos, atual e prospectivo, principalmente de inflação, mostram que o aumento da Selic é equivocado e um excesso de conservadorismo da autoridade monetária, com consequências negativas e desnecessárias para a atividade econômica. Além disso, colocaria o Brasil na contramão do que o mundo está fazendo nesse momento, que é a redução das taxas de juros”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.

O Comitê do BC avalia que há uma assimetria de alta em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos, são citados a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário.

Entre os riscos de baixa, foram ressaltados a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

Também permaneceu o alerta sobre os desenvolvimentos recentes da política fiscal, pelo impactos que podem causar na política monetária e nos ativos financeiros.

“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”

Veja o comunicado do Copom, na íntegra:

“Copom eleva a taxa Selic para 10,75% a.a.

O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência.

O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

Ainda segundo o comunicado, votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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