Não é uma tarefa fácil alcançar o topo da montanha durante a escalada.
Esse desafio requer conhecimento, condicionamento físico, habilidade, técnica e, acima de tudo, perseverança. Essa analogia se encaixa perfeitamente na atividade pecuária de produzir e vender touros para o mercado. Afinal de contas, os criadores listados no TOP 100 -Taurinos, organizado pela Revista AG, Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha, e portal BeefPoint, são exemplos de persistência aliada ao mais alto nível de tecnificação de suas respectivas fazendas.
Nesse seleto grupo, os 50 maiores vendedores de touros taurinos (raças europeias e sintéticas) somam a venda de 7.035 exemplares em 2016, com média de touros vendidos anualmente de 141 animais por vendedor. Além disso, o levantamento mostra novamente que a venda nas raças taurinas não se dá por grandes operações, havendo meramente seis plantéis na pesquisa com mais de 200 reprodutores ofertados no último ano.
Para o diretor-executivo da Revista AG, Eduardo Hoffmann, a lista do TOP 100 – Taurinos deste ano está mais completa e com maior participação em relação à edição do último
ano, realçando que a iniciativa de achar e divulgar os maiores vendedores de touros do Brasil é um projeto que deu certo e está se consolidando. “Neste ano, a linha de corte da propriedade/criador que ficou na posição de número 50 pulou de 44 touros no ano passado para 58 reprodutores em 2017. E tudo indica que esse número deve aumentar ainda mais em 2018”, avalia Hoffmann.
Também engajado com a lista, o médico-veterinário e proprietário da Assessoria Agropecuária FFVelloso & Dimas Rocha, Fernando Velloso, informa que um dado positivo constatado foi o retorno de todos os participantes do primeiro TOP 100 e a adesão de novos e importantes negociantes de touros. “Temos a convicção que a lista gerada vem se tornando cada vez mais próxima da realidade do campo, ou seja, que constam nela a quase totalidade dos maiores vendedores de touros no País. Contudo, para aqueles produtores que não participaram em 2017, esperamos recebê-los no próximo ano”, diz Velloso.
Segundo ele, o assunto “touros” gera muita curiosidade e interesse dos pecuaristas. Em 2016, durante todo o ano, a área do questionário e também de publicação de resultados recebeu mais de 8.900 visitantes, especificamente para esse conteúdo. Novamente, houve, em 2017, uma ampla visitação no conteúdo Top 100 através do site, alcançando mais de 800 acessos somente na área do questionário. “A nossa expectativa é que, após a publicação do levantamento 2017 para taurinos e zebuínos, teremos muitos interessados em conhecer quem são os maiores vendedores de touros do Brasil”, almeja.
Balanço sobre as ofertas de touros
Mais uma vez a pesquisa comprova que as raças Angus e Braford seguem na dianteira dos produtos mais comercializados pelos participantes do TOP 100, sendo o bovino Angus com 2.037 touros (29%) e o Braford, 1.800 animais (25,5 %). O grupo Angus/Brangus totaliza 3.404 exemplares (48,3%), Hereford/Braford 2.255 raçadores (32%) e o terceiro grupo mais representativo é o Charolês/Canchim, com 586 reprodutores (8,3%).
Ademais, 53% dos touros foram vendidos em leilões e 47% diretamente na propriedade. A modalidade “venda particular” (na fazenda) é bastante importante e alguns vendedores de reprodutores realizam a totalidade da comercialização de seus reprodutores dessa forma. O levantamento TOP 100 permite que rebanhos menos conhecidos, por não promoverem remates, sejam também conhecidos e reconhecidos.
Outro ponto em destaque é a respeito de diversos programas de melhoramento genético animal citados pelos participantes. Os mais representativos em número estão por ordem de citações: Promebo, Conexão Delta G, GenePlus, PampaPlus e Natura.
Também chamou atenção nesta edição o fato apresentado por alguns dos inscritos sobre a utilização de genômica/marcadores moleculares como tecnologia de seleção dos animais. A ferramenta mais citada foi o Clarifide Angus.
“No caso do TOP 100, é natural que sejam mencionados vários programas de melhoramento distintos, pois muitas raças participam deles. O direcionamento dos rebanhos de seleção cada vez mais voltados para ‘seleção objetiva’ não é uma tendência, mas sim uma exigência de mercado. Quem não estiver atento para isso perderá negócio ou valor do produto rapidamente. A discussão da existência de muitos programas de melhoramento para uma mesma raça merece uma matéria à parte”, conclui Velloso.
Os Criatórios
Depois que os leitores da AG conheceram os bastidores do TOP 100, nada mais justo que apresentar, os projetos de alguns criatórios que ficaram na dianteira com as comercializações de reprodutores em 2016. Para começar: a GAP Genética é a bicampeã em vendas de touros, comercializando as raças Angus, Brangus, Hereford e Braford. Mais detalhes a respeito dessa conquista da fazenda leia a partir da página 8 desta edição na “Entrevista do Mês”, com o criador, João Paulo Schneider da Silva (Kaju).
Já o Grupo Pitangueira, de Itaqui/RS, possui uma marca expressiva através das ofertas de 537 reprodutores, somente da raça Braford, ocupando a segunda posição geral do Ranking. Sem sombra de dúvida, a propriedade de Pedro Monteiro Lopes é a fonte de genética da raça sintética para vários pecuaristas brasileiros. O grupo comercializa, anualmente, mais de 500 reprodutores e 600 ventres Braford em leilões no Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
“Nós estávamos seriamente inclinados em ampliar as ofertas de reprodutores no último ano. No entanto, optamos, após observar o mercado, na manutenção da mesma quantidade de animais comercializados, em 2015, mas melhorando a qualidade, porque esse quesito vem sendo extremamente observado pelos compradores. E essa medida deu certo. A fazenda tem, atualmente, a melhor tourada à venda dos últimos dez anos, que serão disponibilizados na próxima primavera”, explica Lopes.
Ele salienta que a Pitangueira faz um trabalho de avaliação genética do rebanho Braford e Hereford há décadas, registrando ótimos resultados por intermédio de programas como Conexão Delta G, que leva em conta a avaliação de 21 características de real importância econômica e o GenSys – responsável pela produção de vários sumários de touros das raças taurinas. “Através desse engajamento, os nossos exemplares são cada vez mais valorizados pelos clientes. Em outras palavras, tudo que for possível para medir a qualidade dos animais é bem-vindo, uma vez que facilita a seleção dos mesmos”.
Para o criador gaúcho, é muito gratificante fazer parte dos maiores vendedores de touros do Brasil. Pois as ofertas de 2016 são fruto de muita dedicação, principalmente, através do serviço de pós-venda, sendo algo que tem assegurado bons rendimentos para a Pitangueira. “No decorrer de 2017, nossos clientes identificarão uma melhora sensível na média de qualidade dos reprodutores. Recomeçamos um projeto de melhorias, bem sucedido, através das técnicas de IATF em mais de 70% do nosso rebanho. Portanto, teremos muitos animais com pai e mãe conhecidos, com aprimoramento excelente”, diz Lopes.
Outra estância sul-rio-grandense em destaque no TOP 100 é a Cabanha Santo Izidro, que vendeu durante o último ano 450 reprodutores taurinos, sendo 300 bovinos Angus e 150 Charolês. O criatório de Santa Maria detém uma tradição centenária na produção de exemplares Charolês, Red Angus e Aberdeen Angus. Seleção racial e linhagens comprovadamente de excelência fizeram o plantel da Santo Izidro ser nacionalmente reconhecido.
O titular da fazenda, Rodrigo Mascarenhas, esclarece o salto das vendas de touros registrados na pesquisa desse ano, “na realidade, sempre comercializamos acima daqueles números apontados no TOP 100 de 2016. Infelizmente, a gente só inseriu no relatório de venda os animais que já tinham sido tatuados pelo nosso técnico. Então, conversando com os organizadores do levantamento, entre eles o Fernando Velloso, eu comentei que tinha ofertado mais exemplares Angus registrados pela Associação Brasileira de Angus, contudo, não foram marcados.
Conforme Mascarenhas, geralmente, a Cabanha Santo Izidro oferta de janeiro a dezembro mais de 400 touros Angus e Charolês avaliados pelo Promebo para os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
“Figurar entre os primeiros colocados é extremamente significativo, porque traz visibilidade para a Cabanha Santo Izidro e, obtendo essa divulgação, nós conseguiremos vender ainda mais. Logo, creio que o levantamento é uma grande ferramenta, sobretudo, em prol dos criadores que estão buscando adquirir animais dos maiores produtores reconhecidos pelo mercado”, observa o selecionador de Santa Maria/RS.
Agora, uma característica interessante das propriedades Cia Azul, de Uruguaiana/RS, e Tradição Azul, de Quaraí/RS, é em relação à variedade de raças comercializadas no último ano. A primeira citada, do criador Reynaldo Titoff Salvador, vendeu 314 exemplares Angus, Brangus e Braford, enquanto a Tradição Azul, de Vasco Costa Gama Filho, ofertou as mesmas raças com o acréscimo de touros Hereford, fechando com 253 touros melhoradores.
“Decerto, a Tradição Azul tem procurado incessantemente distribuir os animais Angus, Brangus, Hereford e Braford, com décadas de seleção, dentro do Rio Grande do Sul e também fora dele. Para potencializar tudo isso, nós organizamos dois leilões de renome, o Revolution e o Selo Racial”, afirma Vasco Filho, que acha válido alertar todos os vendedores de touros para terem o cuidado de não pensar apenas na quantidade de animais arrematados, mas também priorizar a qualidade desses exemplares vendidos.
“A Cia. Azul utiliza três programas de melhoramento genético específicos para cada raça: Promebo (Angus), Conexão Delta G (Braford) e Natura (Brangus). Esses programas de seleção são aplicados pela propriedade há mais de 20 anos, pois nós somos um dos fundadores desses sistemas de avaliação. Além disso, também trabalhamos muito com medições de ultrassom nos animais para conseguir validar um painel de informações que sejam adaptadas ao mercado brasileiro”, diz Salvador.
Segundo o criador, a fazenda promove dois grandes remates anuais: o primeiro já aconteceu, que foi o Leilão Revolution, evento virtual, no qual a Cia Azul ofertou 250 reprodutores, com um incremento de 20% nas ofertas em relação ao ano passado e médias praticamente iguais das registradas em 2016. “Mesmo diante de toda crise econômica, com 14 milhões de desempregados, desinformação desencadeada pela Operação Carne Fraca da Polícia Federal, nós consideramos esses números um sucesso, já que passamos incólumes por toda essa turbulência”, comemora Salvador, que também é vice-presidente do Programa Carne Angus Certificada.
Na avaliação do dirigente da Associação Brasileira de Angus, a iniciativa em identificar e localizar esses grandes centros multiplicadores de genética de excelência é de suma importância para o setor. Salvador lembra que antigamente os criadores estavam acostumados a adquirir esse tipo de genética de qualidade apenas no exterior. No entanto, agora sabem que há no Brasil uma genética adaptada, totalmente voltada ao mercado interno e disponível no País.