Suspensão do Plano Safra pode gerar escassez de alimentos, avalia CNA

Suspensão, em vigor desde fevereiro, ocorre em meio a crise logística internacional, forte alta nos custos de produção e enfraquecimento do mercado interno.

A prorrogação da suspensão de linhas de equalização de taxas de juros do Plano Safra 2021/2022 até o dia 15 de abril, que vigora desde fevereiro, pode fazer com que o Brasil enfrente escassez de alimentos no futuro próximo, quando os efeitos do impacto da Covid-19 na logística cessarem e com o fim do conflito bélico entre Ucrânia e Rússia. Essa é a avaliação de especialistas como o diretor técnico da Confederação e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi.

Com a suspensão de novas contratações do Plano Safra, estima-se que os recursos bloqueados somem cerca de R$ 24,7 bilhões referentes a linhas de investimento do Pronaf, da agricultura familiar, para custeio e investimentos do Pronamp, para produtores de médio e grande porte. A decisão ocorre em meio a não aprovação pelo Congresso do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 1/2022 para suplementação de R$ 868,5 milhões no orçamento da União para equalização de taxas.

“Realmente é uma notícia ruim para o setor no momento em que os custos de produção aumentaram muito”, afirma Lucchi. “São linhas de custeio e investimento que prejudicam o produtor, que está desde fevereiro (sem essas linhas), principalmente os pequenos e médios que dependem mais do crédito oficial.” O diretor lembra que, diferentemente da indústria, que pode suspender uma linha de produção temporariamente e retomá-la em um curto espaço de tempo, o campo precisa respeitar o tempo tanto do momento certo para plantar quanto do ciclo biológico dos animais.

Lucchi ressalta ainda que a pecuária está desde 2019 tentando equilibrar oferta e demanda e que os produtores de leite estão abatendo vacas por não terem recursos para mantê-las produzindo leite em decorrência da alta dos custos da ração. O tempo para a gestação de um bezerro, explica o diretor técnico, não pode ser acelerado para menos de nove meses, assim como há uma janela climática correta para se plantar.

“Se tiver crise acentuada ao ponto de reduzir área plantada ou rebanho não impacta nos próximos meses, mas quando a demanda crescer em situações normais com o país crescendo. Tudo gira em torno do ciclo biológico. Não consigo fazer a vaca parir mais cedo, isso vale também para galinha, para outros animais. Tudo isso pode impactar na oferta futura de alimentos e se tiver o Brasil saindo das crises da Covid e da guerra, talvez não consiga dar resposta de imediato para a maior demanda de produtos”, explica.

Segundo ele, os setores da pecuária e de grãos, como soja e milho, ainda tiveram a capacidade de exportar no embalo da valorização das commodities no exterior. Mas setores como fruticultura, horticultura, ovos, suinocultura, que têm foco no mercado interno, não conseguiram elevar os preços, sofrendo com forte redução de margem.

“A população está com poder de compra menor e o PIB não cresceu como gostaríamos. Essas cadeias estão passando por dificuldades maiores porque tiveram aumento de custo com margens até negativas. E nesse contexto o crédito é importante não apenas para comprar insumos e custeio, mas para investimentos que vão otimizar o processo produtivo para ter mais produtividade para diluir o custo.”

Glauber Silveira, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), também considera que poderá haver redução de produção. “Olha, a suspensão prejudica principalmente os pequenos produtores que podem diminuir tecnologia na produção e em contrapartida produzir menos”, afirmou ele.

O executivo se encontrou ontem (05/04) com o Ministro da Agricultura, Marcos Montes, que teria relatado que é preciso “de uma política mais robusta neste momento e não o contrário que pode sim desestimular o crescimento da produção que se faz necessária frente a demanda interna e a demanda internacional”. É uma crítica que o executivo dirige ao Congresso, que não chegou a pautar a votação do PLN 1/2022, o que para Silveira coloca em dúvida até mesmo as discussões para o próximo Plano Safra.

Silveira diz que a safra de milho deve alcançar cerca de 110 milhões de toneladas nesta temporada (2021/2022), mas que poderia ser de 200 milhões de toneladas caso houvesse boas linhas de financiamento agrícola e o aprimoramento da logística. O executivo também explica que a suspensão das linhas de equalização afeta investimentos em armazenagem, um grande problema do Brasil que não consegue guardar nem 50% de sua produção enquanto que países como os Estados Unidos são capazes de estocar 100%.

“O que a gente precisa é de linha de crédito boa, legislação adequada, logística adequada. Situações como essa que tem projeto de lei para liberação de R$ 800 milhões e não foi pautado ainda mostra a falta de visão no País e no próprio Congresso”, afirma.

Fonte: Globo Rural

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