Com o passar dos anos e a intensificação da pecuária, o confinamento de bovinos é uma prática cada vez mais presente entre os produtores no Brasil.
A proposta do confinamento é proporcionar aos animais uma dieta altamente enérgica com inclusão de alimentos como o milho, sorgo e soja, além de aditivos alimentares que diminuam a conversão alimentar e melhorem o aproveitamento dos nutrientes pelos animais, acelerando o ganho de peso e entregando no final do ciclo um animal mais pesado e carcaças melhores acabadas com possibilidade de bonificação para o produtor pela indústria.
Dentro deste cenário existem várias práticas e variáveis a serem consideradas. São inúmeras as possibilidades de formulações de rações que o nutricionista pode fazer para atender as peculiaridades de cada propriedade.
Além disso, as práticas de manejos também exigem cuidados redobrados. Os animais precisam passar por um processo de adaptação do pasto para o confinamento e diversos protocolos devem ser seguidos em ordem de o pecuarista ter um aproveitamento máximo da atividade já que a margem de lucro pode ser bem estreita.
Para esclarecer possíveis dúvidas do pecuarista, a Scot Consultoria convidou Danilo Millen para uma entrevista.
Danilo, possui graduação, Mestrado e Doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, campus de Botucatu. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Nutrição e Alimentação Animal, atuando principalmente nos seguintes campos: bovinos de corte, nutrição de ruminantes, confinamento, rumenologia, formulação de dietas, manipulação da fermentação ruminal da maximizar desempenho animal, planejamento e análise de experimentos com animais.
Scot Consultoria: Em tantos anos de pesquisa com nutrição de bovinos, o que que você percebeu que mudou mais ao longo desses anos. Quais foram as principais evoluções da nutrição de bovinos, na sua percepção?
Danilo Domingues Millen: Eu acho que a grande mudança que aconteceu em 10 anos foi que as coisas começaram a ser melhores mensuradas. Então, como o sistema se intensificou, tem mais bois confinados e semi-confinados hoje do que se tinha dez anos atrás.
O que aconteceu é que se passou um tempo intensificando, mas sem fazer medidas para que realmente pudesse constatar de forma concreta que o negócio estava indo bem.
Agora, nos passados três/quatro anos, os produtores começaram a medir. Chegou ao mercado tecnologia de automação, inclusive hoje temos vagões automatizados que distribuem o trato de forma mais homogênea e também balanças mais precisas. E essas métricas geradas por estes equipamentos ajudam até a analisar a evolução da Bovinocultura.
O importante é destacar que os produtores começaram a medir porque estavam perdendo dinheiro.
Começou a se a perder muito a lucratividade no negócio.
Tirando o preço da reposição, a ração sempre foi a parte mais onerosa, por isso é essencial que haja mensuração de quantos quilos são distribuídos em cada baia, porque o produtor investe dinheiro com alimentação, portando no outro dia não pode sobrar nem faltar comida no cocho.
E esta evolução das mensurações do trato também devem ser expandidas para avaliação animal. Usar alguns equipamentos como separadores de partículas para ver se o animal daquela baia está selecionado, é um exemplo.
Além disso, começar a fazer leitura de fezes, fazer leitura fiel, todo dia, na mesma hora, ter rotina, é outro tipo de coisa que melhorou muito nos últimos 10 anos.
Essa é a principal evolução na minha opinião. A segunda coisa que eu falaria é a evolução muito grande em termos de disponibilidade de aditivos, de melhoradores de desempenho no mercado. Existem muito mais aditivos hoje que funcionam do que se tinha 10 anos atrás. Funcionam comprovadamente com resultados de pesquisa feitos dentro da universidade, diferentes empresas comercializam e tem idoneidade, teste comprovado.
Scot Consultoria: De todas as dietas que você já analisou teve alguma formulação que você sentiu que teve melhores resultados e que você sentiu que isso gerou um ganho de peso melhor. Tem alguma fórmula para o produtor, ou não?
Danilo Domingues Millen: Na verdade não. Isso varia de produtor para produtor, do ingrediente que está disponível e depende também da tecnologia que o produtor tem.
Porque para um pecuarista, por exemplo, que não tem tanta tecnologia eu não posso recomendar que ele faça uma adaptação mais rápida, entrar com uma dieta superenergética com o milho super processado no cocho. Às vezes ele pode até ter a tecnologia, mas não ter a aplicação das métricas necessárias para poder avaliar de forma concreta se o animal está recebendo bem a dieta que nós estamos introduzindo, se ele está comendo bem, de que forma estão as fezes, se ele está selecionando ou não está, etc.
Então, são vários fatores que têm que ser levados em conta na hora que se intensifica em termos de energia. Não dá para fazer aquela história do vizinho, o meu vizinho faz isso, então eu quero fazer também. O produtor tem que avaliar um monte de premissas antes para ele fazer a mesma dieta comparada com a do vizinho.
Fonte: Scot Consultoria