Estudo revela que idade ao primeiro parto das fêmeas Nelore incorporadas ao rebanho diminuiu consideravelmente, em alguns rebanhos a idade média de parição já é de 24 meses.
Por Roberta Gestal* & Angela Bittencourt** – Quando falamos na pecuária de corte nacional, não há dúvidas de que a raça Nelore é o denominador comum para termos alcançado os resultados atuais em produtividade aliada à sustentabilidade. Isto se deve, principalmente, às características únicas da vaca Nelore: adaptabilidade, capacidade de se manter, se reproduzir e criar seu bezerro em condições extensivas, muitas vezes com níveis de restrição nutricional em que outras raças não sobreviveriam ou, no mínimo, não teriam a capacidade de se reproduzir e cumprir sua função básica: a entrega de um bezerro por ano.
Alia-se a isso seu forte instinto maternal, protegendo sua cria das ameaças naturais de nosso meio ambiente e sistemas de produção e estimulando seu bezerro a levantar imediatamente após o parto para a mamada do colostro, que vai fornecer a imunidade necessária e ajudar em seu desenvolvimento. Todos esses fatores nos levam a entender por que a vaca Nelore é chamada de “supermãe”.
Correlação IPP (idade do primeiro parto) X D3P (probabilidade de parto precoce)
Outro diferencial importante a ser considerado é a facilidade que essas vacas possuem de parir seus bezerros naturalmente, com pouca ou quase nenhuma incidência de partos difíceis ou com necessidade de assistência. Porém, com a forte seleção para precocidade sexual realizada na raça nos últimos anos, um monitoramento mais constante dessa característica tem se mostrado necessário. Com os trabalhos bem conduzidos de seleção e melhoramento genético nas últimas décadas, conseguimos trazer a idade média ao primeiro parto das fêmeas Nelore de 60 meses para 40 meses, ou até mesmo 36 meses dependendo do programa de melhoramento genético analisado.
“A vaca Nelore é chamada de “supermãe”
Em rebanhos específicos, que utilizam essa característica como uma das prioridades de seu foco de seleção, já temos a idade média de parição aos 24 meses, com algumas delas parindo até mesmo aos 21, 22 meses. Essa evolução nos mostra que, sim, o Nelore pode ser precoce sexualmente, ao contrário do que se acreditava no passado: estamos na era das “superprecoces”. Confira a evolução da IPP nas Figs. 1 e 2, que mostram dados reais do rebanho Genética Aditiva.
Dados de Idade ao Parto da Genética Aditiva – Safra de 2017, 2013 e 2008
Por outro lado, ao diminuirmos a idade ao primeiro parto, também diminuímos o tamanho e peso das fêmeas no momento de sua primeira parição, o que acarreta em um aumento da probabilidade de problemas no parto. Apesar da facilidade de parto ser uma característica multifatorial, ou seja, são muitos os fatores que podem influenciá-la, estudos realizados com outras raças mostram que dois fatores possuem maior correlação com o problema: a idade da matriz e o peso (ou tamanho) do bezerro ao nascer.
CARACTERÍSTICA MULTIFATORIAL
- Idade da vaca
- Peso ao nascer do bezerro
- Sexo do bezerro
- Área pélvica
- Duração da gestação
- Tamanho da vaca
- Forma/Frame do bezerro
- Raça de pai
- Raça da vaca
- Controle Hormonal
- Ambiente uterino
- Meio ambiente
- Estação do ano
- Temperatura ambiental
- Nutrição da vaca
- Condição da vaca
- Implantes e aditivos alimentares
- Tempo de alimentação
- Exercício
- Outros fatores desconhecidos
Observando essa tendência e buscando monitorar e identificar possíveis problemas ocasionados por essa nova realidade, a Melhora+, em conjunto com Alta Genetics e Associação Nacional dos Criadores e Pesquisadores (ANCP), iniciou um trabalho de coleta de dados de facilidade de parto em rebanhos parceiros que fazem seleção para precocidade sexual. Seguindo a tabela de escores desenvolvida pelo Guidelines for Uniform Beef Improvement Programs (2018), foram criados um manual com orientações para a realização da coleta das informações, uma caderneta para registro dos dados coletados e uma fi ta para mensuração do peso ao nascer. Esses materiais serão distribuídos gratuitamente nas fazendas que farão parte do estudo, que também receberão treinamento técnico para os colaboradores envolvidos, realizado pelas equipes Alta Genetics, ANCP ou Melhora+.
A busca constante pelo aumento da produtividade com uma pecuária de ciclo curto e de alto desempenho tem resultado em uma evolução ímpar na raça Nelore, mas precisamos nos manter constantemente atentos às consequências que essa evolução pode carregar. Portanto, esse projeto visa identificar potenciais problemas futuros e, munidos de dados concretos e atuais, continuar trabalhando no sentido de promover soluções para continuarmos caminhando a passos largos na trilha da produtividade.
Material publicado na Revista Alta Genetics
*Roberta Gestal
Zootecnista pelas Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) e mestre em Genética e Melhoramento Animal pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). É consultora da Melhora + Consultoria Genética e técnica de Corte da Alta.
**Angela Bittencourt
Zootecnista formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e integrante da equipe Melhora+ Consultoria Genética.