Soja: Os efeitos nos preços da nova safra recorde

A safra 2015/16 foi reduzida devido as secas que ocorreram nas zonas de produção, afetando, especialmente, o desenvolvimento da segunda safra.

Para esta campanha agrícola, como vem sendo noticiado, a colheita deverá ser recorde, estimada em 222.907,0 mil toneladas. A safra passada com menor volume de produção, apresentou preços elevados, dificultando o controle da inflação por parte do Governo Federal, bem como apresentando problemas para os segmentos demandantes de produtos escassos para uso como insumo (exemplo, avicultura e suinocultura em relação ao milho) e, ainda, à população em geral, dependente de um volume maior de recursos financeiros para fazer frente às suas despesas, principalmente, de alimentação.

Iniciando com o algodão, segundo a estimativa de safras divulgada pela Conab em 09 de março de 2017, serão colhidas 1.443,1 mil toneladas de pluma; crescimento da ordem de 11,94% em relação à safra passada. Segundo dados do Balanço de Oferta e Demanda da Conab, o estoque inicial para a presente safra será de 201,3 mil toneladas, isto é, 42,34% menor que do ano passado. Neste foco, para um leve aumento no consumo, da ordem de 6%, com redução de 21,64% nas exportações, o estoque final deverá ser de 369,4 mil toneladas e com crescimento de 83,51% em relação ao passado. Já os preços, observa-se que ainda se mantêm bem sustentados, pois a colheita só iniciará, em grande volume, no segundo semestre. Desta feita, na Bahia, os preços ao produtor apresentaram elevação de 12,52%, no espaço de um ano (de fevereiro de 2016 a fevereiro de 2017) e de 1,95% no último mês (fevereiro de 2017). Em Goiás, os preços anuais ainda apresentam crescimento de 7,60% no período e redução na última safra de 2,54%. No Mato Grosso os preços anuais apresentaram ganhos de 9,47% e perda de 0,22% no mês. Com relação às cotações internacionais, estão todos operando no terreno positivo. Em Nova Iorque houve ganho de 27,74% no ano e de 3,16% no mês. Já em Liverpool os ajustes foram de 27,92% e 3,45%, respectivamente.

Na análise do produto arroz, o Balanço de Oferta e Demanda indica que serão colhidas 11.966,0 mil toneladas, ganho de 12,85% em relação à colheita anterior. O estoque inicial está estimado em 465,0 mil toneladas, ou seja, cerca de 15 dias de consumo. Com a importação de menos 100,0 mil toneladas e exportação de mais 200,0 mil toneladas e o consumo com aumento de 100,0 mil toneladas, em relação ao ano passado, o estoque final deverá fechar com 931,9 mil toneladas, dobrando, portanto, em quantidade (cerca de um mês de consumo). Em se tratando dos preços, há de se dizer que a colheita desta safra já sinaliza desvalorizações significativas. No cômputo dos dados anuais, os preços apresentam ganho de 9,36% em Santa Catarina, 3,58% no Mato Grosso, 19,87% no Tocantins, no entanto, perda de 19,44% no Rio Grande do Sul, onde se localiza a maior produção nacional. Na análise das cotações do último mês, em todos os estados observou-se reduções, assim definidas: 6,68% em SC, 9,23% no MT, 0,52% no TO e 0,25% no RS.

A estimativa divulgada em janeiro de 2017, pela Conab, para a produção de cafés, indica o total, no ponto médio, de 45.580,0 mil sacas do produto beneficiado, correspondendo à redução de 11,27%, em relação à safra passada. É importante notar que a produção de café arábica será de 36.447,4 mil sacos, redução de 15,99%, em relação à safra passada e serão produzidas 8.302,0 mil sacas de café conillon, aumento de 3,94% em relação à safra passada. Analisando os preços, o ano comercial passado foi marcado por valorizações, especialmente para o conillon, em função das secas ocorridas no Espirito Santo. Assim, o café arábica apresenta cotações positivas na Bahia de 9,03%, em Minas Gerais, 5,84%, no Paraná, 20,53% e em São Paulo, 9,20%. Já com relação aos preços do último mês, foram positivos na BA em 0,67% e no PR, com 2,80%, além de negativos em MG em 1,24% e SP com 0,24%. Com relação ao conillon os preços anuais estão valorizados em 14,61% e 24,91% em ES e RO e desvalorizados no mês em 8,91% e 1,40%, respectivamente. No mercado internacional também as bolsas apresentaram a mesma tendência, em Nova Iorque de 24,78%, e em Londres, com 54,02% nas cotações anuais e 1,82% e 3,82%, respectivamente, para os preços mensais.

A estimativa de produção para o feijão é de 3.274,0 mil toneladas nas três safras e variedades do grão. O consumo está estimado em 3.300,0 mil toneladas, ou seja, praticamente igual à produção. Já os preços, em função da baixa oferta do exercício anterior, estiveram sustentados durante boa parte do ano comercial. Em se falando do caupi, este ainda se mantém com preços elevados, com cotação anual no Mato Grosso de 77,49% e no Pará, de 30,79%, enquanto que no último mês este aumento ocorreu em 7,11% e 4,33%, respectivamente. Já quanto os feijões cores, em função da entrada da primeira safra, apresentam perda de 35,16% na Bahia, 42,83% em Minas Gerais e 43,97% no Paraná, no cômputo anual, e reduções de 2,90%, 23,98% e 9,98%, reciprocamente, para os preços mensais. O feijão preto no Paraná apresentou perda de 16,11% nos dados anuais e de 21,15% no último mês, bem como ganho de 15,83% no ano e perda de 4,21% no mês, no Rio Grande do Sul. Se dispor a produção das duas safras seguintes (2ª e 3ª safras), certamente os preços se manterão em níveis inferiores aos do ano passado.

O Balanço de Oferta e Demanda de milho, publicado pela Conab, indica um ano bem mais tranquilo que o passado sob o ponto de vista da oferta interna. A safra atual está prevista em 88.969,4 mil toneladas, incremento de 33,73% em relação à última campanha agrícola que foi severamente prejudicada pela falta de chuva na segunda safra. Com isso, o Brasil poderá incrementar a exportação em 27,10%, e ainda aumentar o estoque interno em 117,13%, dando boa folga aos consumidores desse insumo, mas 67,07% da estimativa de safra de milho depende do que ocorrerá na segunda safra. Contudo, em função do início da colheita da primeira safra já se observam desvalorizações nas cotações de um ano em, 2,97% na Bahia, 17,70% em Goiás, 21,29% no Paraná e 17,77% no Rio Grande do Sul, além de ganho de 0,83% no Mato Grosso. Com relação aos dados de fevereiro de 2017, todos apresentam reduções de 1,82% na BA, 1,22% em GO, 3,23% no MT, 7,62% no PR e 16,40% no RS. As cotações na CBOT mantêm-se valorizadas em 1,82% no ano e 2,23% no mês. Portanto, se confirmada a produção deste novo recorde, os preços ao produtor certamente sofrerão desvalorizações mais intensas durante a colheita da segunda safra, especialmente nos estados da Região Centro-Oeste, havendo grande possibilidade de demanda por apoios por parte do Governo Federal.

A produção de soja está prevista em bater um novo recorde, com 107.614,6 mil toneladas, crescimento de 12,73%, o que permitirá a exportação de 59.078,0 mil toneladas, o consumo interno de 46.500,0 mil toneladas e formação de estoques finais de 3.818,7 mil toneladas. Com a colheita da safra, em algumas localidades já finalizada, os preços sofrerão reduções, uma vez que na Bahia se encontra 12,14% inferior aos preços de fevereiro de 2016. Em Goiás, as perdas são de 6,02%, no Mato Grosso de 6,21%, no Paraná de 7,59% e no Rio Grande do Sul de 10,77%. No que tange aos preços do último mês, houve desvalorização de 6,48%, 4,75%, 5,55%, 2,05% e 3,68%, na devida ordem. No entanto, como a colheita já está sendo finalizada, é possível que os preços se estabilizem daqui para frente, mesmo porque as cotações internacionais se mantêm com ganho. Na CBOT, entre fevereiro de 2016 e fevereiro de 2017, houve ganho de 19,06% nos grãos, 26,85% no farelo e 8,15% no óleo. Nas cotações do último mês o grão teve ganho de 0,38% e o farelo de 1,83%, enquanto que o óleo teve desvalorização de 3,67%.

A produção de trigo foi de 6.726,8 mil toneladas, sendo 21,55% superior à safra anterior. Apesar dessa produção corresponder a apenas 62,77% do consumo interno, ainda assim o aumento foi suficiente para provocar quedas acentuadas nos preços ao produtor. Portanto, o Trigo Pão, PH 75, tipo 2, no Paraná, teve seus preços reduzidos em 22,55%, se comparado o mês de fevereiro de 2017 com fevereiro de 2016 e de 13,64% no mês passado. Já o Trigo Pão, PH 78, Tipo 1, apresentou reduções de 19,55% nos preços anuais e de 2,16% nas cotações mensais. Fatores externos à atividade agrícola (logística, financeira, operacional, etc.) são os determinantes para a movimentação negativa nos preços ao produtor brasileiro.

Nesta análise, conclui-se que a safra recorde será fator importante para a redução dos preços dos alimentos, proporcionar insumos mais baratos para a alimentação animal, gerar melhor competitividade para as exportações brasileiras e facilitar a gestão da inflação por parte do Governo. Entretanto, poderá ser também elemento fundamental para a redução da rentabilidade da agricultura, dada a redução dos preços. A questão crucial que fica é se será uma safra lucrativa ou não e isso dependerá, fundamentalmente, dos custos de produção de cada produtor individualmente.

Fonte: Conab, Revista Indicadores da Agropecuária, Observatório Agrícola Ano XXVI , Nº 03 Março 2017.

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