‘Clã’ constrói império agro de R$ 4,5 bi no Brasil com impulso de 935% da ação desde 2007; confira como se deu o crescimento da SLC Agrícola nos últimos 20 anos
O Brasil pode consolidar-se como o celeiro do mundo, isso ninguém dúvida, os números de crescimento agrícola do país mostram isso. Uma das grandes empresas que apostaram nessa promessa agrícola brasileira foi uma família de imigrantes alemães de terceira geração extremamente rica, com a valorização de suas terras e tecnologia que gera ganhos de produtividade agrícola cada vez maiores. A família Logemann, chefiada por Eduardo Logemann, de 72 anos, detém 53% da SLC Agrícola, que conta o investidor britânico Crispin Odey como seu segundo maior acionista.
Embora a empresa seja pouco conhecida fora dos círculos agrícolas, o preço de suas ações se multiplicou por cinco desde que abriu capital em 2007. Ela é responsável pela maior área cultivada do Brasil, de cerca de 670.000 hectares a cada ano.
Com sede em Porto Alegre, a SLC cultiva algodão, soja e milho em 22 fazendas em todo o Brasil e possui cerca de um terço das terras que cultiva. Essas terras estão avaliadas em R$ 9,4 bilhões, depois de um salto de 35% em um ano, acompanhando os preços das safras.
A participação da família Logemann na SLC vale US$ 895 milhões, com base nos preços de mercado atuais. O clã também tem uma rede de 27 lojas que vendem produtos John Deere, com receita que deve chegar a R$ 2 bilhões este ano.
“Quando você tem lucro bom e paga bons dividendos, todo mundo está feliz”, disse Logemann em entrevista na sede da empresa. “Nosso foco não é ganho imobiliário, é eficiência operacional agrícola; não quer dizer que, oportunisticamente, não podemos vender ou comprar.”
Enquanto os investidores acompanham principalmente o lado operacional do negócio – quanto plantam, colhem e vendem – as propriedades funcionam como uma espécie de unidade imobiliária agrícola, cujo valor não é totalmente contabilizado a menos que seja vendido, segundo as normas contábeis.
O retorno sobre patrimônio líquido foi em média de 20% nos últimos cinco anos, disse o diretor-presidente Aurélio Pavinato, em entrevista. A SLC registrou lucro recorde em 2022, permitindo que a empresa pagasse R$ 601 milhões em dividendos.
Presente e futuro da SLC
O primeiro Logemann a vir para o Brasil — o avô de Eduardo, Frederico — partiu de perto de Bremen, na Alemanha, por volta de 1910, para trabalhar em um projeto ferroviário. Mais tarde, ele abriu um negócio em um terreno que ganhou no extremo oeste do estado do Rio Grande do Sul, perto da Argentina. A área acabou se tornando a cidade de Horizontina, que hoje tem cerca de 20.000 habitantes e é o terra natal da supermodelo Gisele Bündchen.
A primeira empresa, a Schneider Logemann Co. (SLC), foi formada em 1945 e vendia materiais agrícolas e de construção. Na década de 60, Jorge, pai de Eduardo, começou a construir uma colheitadeira, que acabou levando a uma parceria com a John Deere em 1979. A empresa americana assumiu uma participação de 20%, por cerca de US$ 7,5 milhões.
Foi nessa época que Eduardo começou a ir com seu pai a Brasília, para reuniões com funcionários do governo, e viajar por Goiás. Um plano do governo para cultivar trigo no estado fracassou, mas os Logemanns compraram uma fazenda que hoje está entre seus maiores ativos.
Quando Jorge morreu, em 1987, Eduardo assumiu o comando, aos 37 anos. Seu irmão, Jorge Luiz, juntou-se a ele, enquanto outros três irmãos nunca se envolveram, mas têm participações acionárias iguais.
Eventualmente, a John Deere comprou outra participação de 20% no empreendimento de tratores e, em 1999, adquiriu os 60% restantes por um valor não revelado. Com o dinheiro, Eduardo comprou mais terras.
Antes do IPO de 2007, Eduardo, que agora é presidente do conselho, disse que foi informado de que nenhum investidor estava interessado em comprar ações de uma empresa agrícola no Brasil. Frustrado, ele disse que procurou o chefe do JPMorgan no país à época, que concordou em ajudá-lo. A ação teve retorno de 935%, incluindo dividendos, desde a oferta inicial, em comparação com 99% do Ibovespa no mesmo período.
Logemann disse que só falou uma vez com Odey, o investidor londrino que possui cerca de 9% da empresa, e também lhe enviou um e-mail para agradecê-lo por defender a empresa contra as acusações de desmatamento. A SLC foi multada várias vezes ao longo dos anos por supostamente danificar o cerrado, de acordo com uma reportagem de 2020 do Financial Times, que citou uma investigação do grupo ambiental Global Witness. Odey disse ao jornal que a família administra uma operação limpa e comparou as penalidades a “uma multa de estacionamento”.
As fazendas da SLC cumprem a regulamentação ambiental local, disse a empresa, e prometeu em 2021 não desmatar novas terras para agricultura. Também está envolvida em um programa piloto para deixar a floresta nativa intocada em uma de suas fazendas no Mato Grosso, disse Pavinato.
“A gente sempre teve ganhos de escala por serem grandes fazendas, mas também dificuldades de escala, como controlar uma fazenda de 40.000 hectares, que tem 40 quilômetros de ponta a ponta”, disse Frederico. “A tecnologia vem para conseguir ver em real time e corrigir as coisas.”
Questionado sobre os planos de sucessão da empresa de 78 anos, Eduardo disse que os cerca de 25 membros da família desejam manter o controle. “Primeiro têm que ser bons acionistas, saber que a empresa é um meio de sobrevivência deles.”
Pecuária vem crescendo na empresa
A empresa enxerga na pecuária de corte o caminho para diversificar sua atividade. A SLC tem investido no crescimento do seu rebanho nos últimos anos e deve intensificar as apostas para os próximos. Em 2022 a empresa alcançou um número entre 34 mil e 35 mil cabeças de gado, um crescimento de aproximadamente 25% em comparação com as 28 mil cabeças que encerraram o ano de 2021.
Em 2021, a receita gerada a partir da comercialização de 13,28 mil cabeças de gado foi de modestos R$ 59,37 milhões. Apesar de ainda ser pequeno e representar menos de 1,5% da receita total da companhia, a expectativa é que esse cenário possa se aproximar do mesmo peso que o milho tem hoje para o grupo em termos de receita. Apesar de pequena, a receita da pecuária foi a que mais cresceu no ano passado em termos percentuais em comparação ao ano anterior.
“Temos um potencial para chegar a 100 mil cabeças nos próximos anos, em um negócio que pode chegar a R$ 500 milhões e R$ 600 milhões por ano”, disse Aurélio Pavinato, presidente da companhia, durante a apresentação dos resultados trimestrais na tarde de hoje. Segundo o executivo, existem áreas onde o solo não é tão favorável para a agricultura e a pecuária já ocupa, mas a criação de gado por ser considerada uma espécie de terceira safra.
John Deere e SLC
No final de abril de 2023, a SLC Máquinas, empresa do grupo SLC, fechou um acordo para comprar nove lojas para adicionar ao seu portfólio de negócios que vendem máquinas agrícolas da marca John Deere, de acordo com o presidente do grupo, Eduardo Logemann. As lojas, localizadas no Rio Grande do Sul, foram compradas da Verdes Vales, outra concessionária gaúcha da John Deere.
Com elas, a SLC Máquinas aumenta sua presença no norte do estado, onde já operava 18 concessionárias licenciadas da John Deere, disse Logemann em entrevista à Bloomberg News, sem revelar o valor do negócio. A Verdes Vales vendeu suas outras quatro lojas para a Alvorada, outro concessionário local, segundo ele.
Depois de registrar receita de R$ 1,1 bilhão em 2022, as vendas da SLC Máquinas devem dobrar este ano considerando as novas lojas, disse Logemann. A aquisição permitirá que a SLC comece a vender máquinas da linha de construção da Deere, além de tratores e colheitadeiras. “Com essa aquisição, queremos chegar a um faturamento de R$ 4 bilhões em quatro anos”, disse Logemann.
O grupo SLC teve uma joint venture com a John Deere de 1979 a 1999 e lançou o braço de máquinas há vários anos. O Brasil é um dos principais mercados para a John Deere no mundo.
Conteúdo criado à partir de matérias da Bloomberg Línea Brasil
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