Portal Ariadne, com dados sobre ação ambiental e toxicidade de agrotóxicos, pretende influenciar ações públicas
Os agrotóxicos são, hoje, parte quase indissociável da agricultura, principalmente em se tratando de países destacadamente produtores agrícolas.
O uso extensivo dessas substâncias garante maior produtividade dos insumos e diminui o risco de pestes e doenças nas plantações.
Apesar dos benefícios proporcionados aos produtores, esses agentes trazem riscos ao meio ambiente e às pessoas que com eles têm contato. O Brasil, importante produtor agrícola, ocupa a primeira posição do ranking mundial em consumo de agrotóxicos.
Adelaide Nardocci, líder do Centro de Pesquisa em Avaliação de Riscos e integrante do Centro de Pesquisas de Desastres da USP, conta que, no cenário mundial, o Brasil é muito pouco restritivo em relação ao registro e regulamentação do uso de agrotóxicos, e que nos últimos meses muitos retrocessos têm sido anunciados.
“Existem várias propostas em curso que visam a reduzir e flexibilizar ainda mais as regras para regulação de agrotóxicos”, completa.
É nesse cenário que a Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, em parceria com o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) da Secretaria do Estado de São Paulo, desenvolveu, nos últimos anos, o Sistema de Busca de Informações Sobre Agrotóxicos, lançado em evento na FSP no dia 31 de outubro.
Ariadne, como é chamado o sistema, é um portal on-line que apresenta um conjunto de informações sobre o uso e a aplicação de agrotóxicos; os parâmetros principais do seu comportamento no ambiente; e as propriedades associadas à toxicidade crônica, considerando os riscos à saúde humana causados por exposições a baixas doses em longos períodos de tempo.
O sistema apresenta, também, dados inéditos de pulverização aérea no Estado de São Paulo no período de 2013 a 2015. Ainda, o portal direciona o usuário para bases de dados nacionais e internacionais, caso este esteja em busca de informações mais detalhadas.
O sistema, resultado da pesquisa de mestrado de Rubens José Mário Júnior, tem por função facilitar o acesso de gestores de serviços públicos à informações já qualificadas sobre a toxicidade e o comportamento ambiental desses compostos, a fim de contribuir para uma ação mais efetiva na gestão da exposição humana a essas substâncias.
É uma iniciativa tida como essencial quando se pensa na construção de modelos de produção mais sustentáveis.
ToxPi, o índice de prioridade toxicológica
O ToxPi é uma ferramenta desenvolvida em 2012 pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Usepa), que possibilita agregar diferentes informações sobre um conjunto de substâncias a fim de obter um ranking de prioridades.
No ToxPi-Ariadne, foram considerados os 113 agrotóxicos mais vendidos no Brasil nos anos de 2012 a 2014. Os critérios de priorização estão relacionados com os efeitos toxicológicos dos compostos sobre a saúde humana.
São analisadas a capacidade de se estimular o aparecimento de câncer e mutações e a interferência endócrina (hormonal) nos organismos. Seguindo este critério, foi atribuído maior peso às variáveis que representam efeitos toxicológicos dos agrotóxicos à saúde.
Entre elas, existe também um diferencial no peso de evidência: a carcinogenicidade (potencial de causar câncer), por exemplo, tem peso maior que a mutagenicidade (potencial de causar mutações genéticas) e que a interferência endócrina.
Na priorização de agrotóxicos, são avaliados, também, os critérios do comportamento ambiental dos princípios ativos, para julgar o potencial de exposição associado a cada um deles.
Assim, o ranking apresentado no Ariadne foi obtido avaliando-se as características toxicológicas individuais das substâncias junto com dois grupos de propriedades que mostram a interação delas com o ambiente: as propriedades físico-químicas e as propriedades de comportamento ambiental.
O sistema ficará disponível ao público na página do Nara (Núcleo de Pesquisas em Avaliação de Riscos Ambientais) e terá um link de acesso também na página do CVS.
Fonte: Jornal da USP