É crucial reconhecer os desafios e riscos associados a silagem, incluindo problemas de saúde digestiva, riscos de contaminação por micotoxinas e desequilíbrios nutricionais.
A prática da produção e fornecimento de silagem desempenha um papel significativo na alimentação de animais, sendo amplamente adotada na criação de diversas espécies. Contudo, surge a indagação sobre sua aplicabilidade no contexto equino. A Compre Rural explora essa questão, investigando se a silagem representa uma alternativa vantajosa para os cavalos.
Em sua essência, a silagem consiste em um método de conservação de alimentos por meio da fermentação natural. Enquanto a silagem de forrageiras é a mais comum na pecuária, não se exclui a possibilidade de utilizar grãos nesse processo.
Classificada como um alimento volumoso, a silagem caracteriza-se por seu teor elevado de fibras e baixa concentração de energia. Este atributo a torna um elemento valioso na dieta dos animais. Quando a produção de silagem ocorre na propriedade, é imperativo conduzi-la com meticulosidade, a fim de preservar os nutrientes essenciais para garantir uma nutrição equilibrada.
Desafios e benefícios da silagem de milho
Em um cenário marcado por desafios climáticos, a demanda crescente por forrageiras de qualidade e a restrição financeira na criação de equinos para trabalhos em fazendas de gado, torna-se crucial a incessante busca por fontes alternativas de alimentação acessíveis e abundantes. Este artigo aborda sete pontos essenciais relacionados à utilização da silagem de milho como opção viável para suprir as necessidades alimentares dos equinos ao longo do ano, especialmente durante períodos de escassez de alimentos volumosos.
1) Diversidade climática e limitações financeiras: As condições climáticas desafiadoras, aliadas à grande proporção de cavalos utilizados em atividades agrícolas e às limitações financeiras inerentes à criação no país, motivam a constante investigação e desenvolvimento de fontes alternativas de alimentação equina.
2) A Ascensão da silagem de milho: A silagem de milho, originalmente produzida eficientemente em larga escala para ruminantes, emerge como uma alternativa promissora na alimentação de equinos. Sua produção em grande escala torna-a uma opção atrativa de baixo custo.
3) Desafios inerentes à silagem de milho para equinos:
- Alta concentração de amido: A presença significativa de amido na silagem de milho pode representar um desafio, exigindo monitoramento cuidadoso para evitar impactos negativos na digestão equina.
- Baixa concentração de proteína: A relativa escassez de proteína na composição da silagem de milho destaca a importância de suplementação adequada para atender às necessidades nutricionais dos equinos.
- Desbalanceamento de cálcio e fósforo: A relação inadequada entre cálcio e fósforo demanda atenção, requerendo estratégias de equilíbrio nutricional.
- Degradação de vitaminas: O processo de conservação pode levar à degradação de vitaminas, impactando a qualidade nutricional da silagem de milho.
- Necessidade de ambiente anaeróbico: A conservação eficaz da silagem demanda um ambiente anaeróbico para prevenir o desenvolvimento de patógenos indesejados.
- Variação na carga microbiana: A alta variabilidade na carga microbiana, influenciada pela matéria-prima e processamento, exige atenção para garantir a segurança alimentar.
- Desenvolvimento de fungos e micotoxinas: A propensão à formação de fungos destaca a importância do controle rigoroso para evitar contaminação por micotoxinas prejudiciais.
- Baixo pH e variação na aceitação: O baixo pH da silagem de milho, juntamente com a variabilidade na aceitação e palatabilidade pelos equinos, requer uma abordagem personalizada na introdução desse alimento na dieta.
- Custo variável: O custo, que pode ser comparável ao do feno quando adquirido em quantidades menores e ensacado, deve ser avaliado considerando a relação custo-benefício para os criadores de equinos.
4) Desafios e riscos associados à silagem de milho para equinos:
A silagem de milho, embora tenha ganhado popularidade como fonte alimentar, apresenta um corpo crescente de evidências científicas que a coloca como um alimento de alto risco para equinos. Dentre os riscos identificados, destacam-se:
- Obesidade e Resistência Insulínica: Existe um alto risco de desenvolvimento desses problemas em equinos expostos a dietas ricas em carboidratos não fibrosos, aumentando a probabilidade de laminite endocrinopática.
- Menor Ação da Amilase Pancreática: A amilase pancreática equina tem uma menor eficácia na digestão do amido de milho, podendo resultar em dificuldades de digestão no intestino delgado.
- Risco de Disbiose Intestinal: Dietas ricas em amido podem levar a disbiose intestinal, evidenciada pela redução do pH e aumento na produção de gás, aumentando o risco de clostridioses, enterite anterior e colite.
- Susceptibilidade a Inflamações Sistêmicas: Equinos são propensos a inflamações sistêmicas em resposta a infecções e intoxicações por microrganismos, elevando o risco de laminite relacionada à sepse.
- Vulnerabilidade a Micotoxinas: Equinos são altamente suscetíveis a micotoxinas, apresentando maior risco de sintomas sistêmicos e redução da imunidade em co-contaminações.
- Aumento do Risco de Síndrome Cólica: A silagem de milho pode induzir a alterações gastrointestinais, aumentando o risco de síndrome cólica e complicações como laminite pós-cólica.
- Potencial para Lesões Dentárias: O baixo pH da silagem de milho pode levar a lesões dentárias, cáries periféricas e desgaste prematuro dos dentes.
- Alta Susceptibilidade à Gastrite: Embora a influência do baixo pH na silagem de milho na gastrite ainda não esteja completamente determinada, equinos são suscetíveis a esse problema.
- Alterações Metabólicas: Desbalanços na relação de energia/proteína e cálcio/fósforo podem levar a diversas alterações metabólicas, incluindo síndrome metabólica equina, osteodistrofia fibrosa, osteocondrose, desvios angulares e flexores.
- Impacto na Gestação e Desenvolvimento Fetal: Evidências científicas apontam que obesidade e desequilíbrio mineral em éguas refletem negativamente no desenvolvimento fetal e aumentam a incidência de doenças ortopédicas em potros.
- Alterações Comportamentais: A ingestão mais rápida da silagem em comparação ao feno pode aumentar o risco de desenvolvimento de estereotipias associadas a estresse crônico.
Como posso otimizar o uso de silagem de milho para alimentar meu cavalo?
Inicialmente, é crucial reconhecer que a silagem de milho é notavelmente hidratada, composta apenas por 30% de matéria seca. Considerando que um equino de 400 kg necessita de aproximadamente 12 kg de matéria seca, é importante ter em mente que o consumo de silagem será cerca de três vezes maior em volume em comparação com o feno. Portanto, a viabilidade financeira da silagem deve ser três vezes mais econômica para ser uma opção vantajosa.
Em segundo lugar, a silagem de milho é abundante em amido e contém fibras de difícil digestão para os equinos. Essa característica requer atenção especial para evitar complicações como laminite devido ao excesso de amido e cólicas devido à difícil digestibilidade das fibras pelo cavalo.
Em terceiro lugar, é fundamental não apenas compreender a origem e os métodos de fabricação da silagem, mas também gerenciar de perto o armazenamento adequado e o fornecimento diário aos animais. Isso se deve ao fato de que as silagens, especialmente a de milho, são propensas a fungos, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de micotoxinas em situações de estresse térmico. Essas micotoxinas podem resultar em uma série de problemas reprodutivos e produtivos, podendo levar até mesmo à morte dos animais.
Qual é a melhor abordagem para utilizar a silagem de milho?
A manipulação cuidadosa é essencial, incluindo o armazenamento em locais protegidos da intensa luz solar e bem arejados. Esta precaução é crucial, pois, como mencionado anteriormente, os fungos prosperam em condições de estresse térmico, espalhando suas toxinas, e uma gestão cuidadosa pode reduzir significativamente o risco de contaminação.
Embora muitas silagens se apresentem em bolas compactadas com pouca presença de ar, isso, por si só, não elimina a necessidade dos cuidados mencionados anteriormente, pois qualquer perfuração pode comprometer substancialmente a qualidade do volumoso.
O momento de abrir as embalagens é crítico. Por ser uma situação estressante, onde o material fica exposto ao ar, muitas vezes ao sol e à chuva, é aconselhável optar por embalagens menores que permitam um consumo rápido pelos animais. Além disso, o local de fornecimento deve ser coberto e livre de ambientes com excesso de esterco ou lama.
Devido aos elevados níveis de amido, altamente fermentáveis, é possível que alguns animais experimentem desconforto na ingestão, limitando seu consumo em comparação com os demais. Isso pode resultar em um escore corporal inferior em relação aos outros animais. Outro fator significativo é o risco potencial de contaminação por micotoxinas, o que pode levar a uma redução no consumo e à imunodepressão dos animais.
Em conclusão, a utilização da silagem de milho na alimentação equina pode representar uma alternativa viável em determinadas circunstâncias, especialmente em face de desafios climáticos, limitações financeiras e demandas nutricionais específicas. No entanto, é crucial reconhecer os desafios e riscos associados a esse alimento, incluindo problemas de saúde digestiva, riscos de contaminação por micotoxinas e desequilíbrios nutricionais.
Para otimizar o uso da silagem de milho, é essencial adotar medidas cuidadosas de gerenciamento, monitoramento e suplementação, garantindo a segurança e o bem-estar dos cavalos. Uma abordagem personalizada, baseada no conhecimento das necessidades individuais de cada animal, juntamente com uma vigilância constante, é fundamental para maximizar os benefícios e minimizar os riscos associados à inclusão da silagem de milho na dieta equina.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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