Setor de proteína animal pode entrar em colapso

O ministro afirmou também que há risco de alta nos preços da carne de frango por causa da escassez que pode ocorrer

Em reunião encerrada na tarde desta terça-feira (29) com o setor de proteína animal, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, comunicou que a cadeia produtiva tem condições de tratar os plantéis de aves e suínos apenas até esta quinta-feira (1) caso a paralisação dos caminhoneiros não se encerre no curto prazo.

“O setor, que é altamente encadeado e já está capengando (com a greve), pode entrar em colapso”, disse Maggi, após encontro paralelo durante o Fórum de Investimentos Brasil 2018, em São Paulo. Participaram da reunião o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, e o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas.

Maggi ressaltou não estar fazendo este alerta para o governo, que já tem conhecimento da situação, mas para os caminhoneiros que ainda estão parados e também para a população, que corre risco de desabastecimento. “Deve-se alertar a população para o que está por vir pela frente”, disse ele, informando que a capacidade diária de abates de aves é de 23 milhões de aves, e provavelmente elas não serão abatidas.

“Essas aves entrarão em colapso e vão morrer por falta de comida”, assinalou. “E se não tem como alimentar os animais e abater, vai faltar (carne) também para a população.” O ministro afirmou também que há risco de alta nos preços da carne de frango por causa da escassez que pode ocorrer, o que vai certamente afetar a população mais pobre, grande consumidora da proteína.

Outra questão delicada, acrescentou, diz respeito ao setor de genética avícola, que o Brasil não só produz, como exporta. “Temos as bisavós, as avós e as matrizes, que vão gerar os ovos que serão os pintinhos e futuros frangos de corte”, explica. “Há preocupação imensa na cadeia com o risco de perda dessa genética.

” Para o ministro, o País pode passar de exportador de carne e de genética avícola a importador, caso a cadeia “se quebre” se a paralisação dos caminhoneiros se prolongar. “Podemos demorar pelo menos dois anos e meio para recuperar essa genética; vamos perder a sequência do que nós conquistamos.”

Falando de forma bastante impositiva, o ministro alertou que se trata de uma situação muito delicada e pediu aos caminhoneiros que tenham consciência. “Há caminhoneiros que praticamente são reféns nas estradas e estão sendo impedidos de voltar a trabalhar com medo de depredarem o caminhão.

Temos notícias disso”, relatou ele, defendendo que o governo use, a partir de agora, de “uma força mais forte” para retirar os bloqueios. “Talvez a única alternativa que resta agora é o uso da força, colocar o Exército na rua, as forças de segurança, para desobstruir”, disse. “Não é o Brasil inteiro que está parado, são pontos que estão parados e que podem ser desobstruídos para essas mercadorias circularem.”

Quanto ao embargo das carnes bovina in natura e da carne de frango à União Europeia e a possibilidade de o movimento dos caminhoneiros de alguma maneira arranhar a imagem do País lá fora, Maggi disse que esses reflexos não são importantes agora.

“Para exportar para a União Europeia e para os Estados Unidos precisamos ter produto para vender e hoje não temos”, disse. “O mais grave é que pode faltar alimento para a população brasileira. É disso o que eu estou falando.”

POR ESTADÃO CONTEÚDO

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