Presidente da ABPA, que reúne setores de aves e suínos, detalha propostas para amenizar impacto provocado pelo aumento no custo da ração.
O “novo normal”, termo usado para os tempos que enfrentamos desde o início da pandemia, tentou criar uma concepção de uma reinterpretação da vida em sociedade, com as adaptações exigidas para a superação da crise sanitária global. A ideia do “anormal” – aqui tomo a liberdade de adaptar o conceito em questão – traz uma ideia de algo para o padrão e desperta sentimentos como insegurança e medo.
Mas anormalidades não descrevem, obrigatoriamente, pontos negativos. Vejamos o desempenho “anormal” das exportações de carne suína . Em 2020, superamos pela primeira vez 1 milhão de toneladas exportadas . Em um ano, saltamos de 70 para 93 mercados abertos para o setor brasileiro. E a perspectiva para o ano corrente é de alcançar níveis de embarques ainda maiores, impulsionados pelo mercado internacional.
Recordes também foram vistos na avicultura. Nunca tantos ovos foram consumidos no Brasil, acima de 250 unidades por habitante ano. Recordes de produção de carne de frango em 2020 oferta garantiram de produtos para o mercado interno e para exportação, que fecha o ano com boas altas.
Mas entre recordes e conquistas, o setor produtivo se deparou com outro fato inédito, muito além do anormal. Especulação e um quadro de nervosismo no mercado fizeram os custos de produção alcançarem patamares nunca vistos.
De acordo com o Índice de Custos de Produção da Embrapa Suínos e Aves, produzir frango está 43,4% mais caro em relação a abril de 2020 – que já foi um momento de forte alta de custos. O mesmo ocorre com o setor de suínos, com alta de 45,7%. Para se ter uma ideia, em alguns casos, o impacto é ainda maior.
O Paraná – maior produtor de carne de frango e terceiro principal produtor de carne suína do Brasil – registrou uma alta de cerca de 115% no preço do milho em abril; na soja , superou 50%. O milho e o farelo de soja, que são os principais componentes da ração animal, representam 70% dos custos de produção. Mas não são apenas estes os pontos de preocupação.
Outros insumos registram altas históricas, com forte pressão na indústria de alimentos – e impacto direto em nosso setor. É o caso do diesel, com alta de 30% nos preços; do papelão, com quase 70% de alta; além de embalagens rígidas e flexíveis, com elevações de preços que superam 80%.
Convocada a garantir o abastecimento de alimentos em meio à pandemia, a agroindústria de aves, de suínos e de ovos se vê frente a um quadro delicado para uma sustentabilidade setorial. Os bons níveis de exportações que temos geração de redução regenerada pelo quadro crítico de custos nas empresas exportadoras. Já quem depende exclusivamente do mercado interno não pode contar com esta salvaguarda.
Do campo, as altas dos insumos já chegaram à mesa dos consumidores. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE já aponta incremento nos produtos na casa das dezenas percentuais. Estes índices, entretanto, alcançam metade da alta acumulada nos custos produtivos. Os inevitáveis repassam ficarão mais notáveis nas gôndolas nos próximos meses.
“No novo normal, apoiamos o país. Agora, frente à anormalidade, somos nós a pedir apoio” Ricardo Santin, presidente da ABPA
Frente a esta tempestade, a avicultura e a suinocultura buscaram apoio junto ao governo . Diversas propostas e meios de apoiar o setor foram à mesa. A ministra Tereza Cristina, sensível ao tema e em apoio à cadeia produtiva, tem liderado esta busca por soluções em âmbito federal.
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O quadro é emergencial, com impacto em uma cadeia produtiva com quase 4 milhões de empregos diretos e indiretos, com mais de 200 unidades frigoríficas em todo o Brasil – especialmente em pequenas cidades, onde funciona como motores econômicos. No novo normal, apoiamos o país. Agora, frente à anormalidade, somos nós a pedir apoio.
* Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que reúne 140 empresas e entidades vinculadas à avicultura e à suinocultura do Brasil.