A pluma até subiu na última sexta-feira – os contratos para março do ano que vem fecharam em alta de 1,67%, a 78,55 centavos de dólar por libra-peso.
Na semana passada, o fantasma de uma possível recessão econômica global fez os preços do algodão descerem a seu menor nível na bolsa de Nova York em quase dois anos. O declínio das cotações afeta diretamente os agricultores do Brasil, que enfrentam um forte aumento dos custos de produção.
No momento, o “limite de segurança” é 75 centavos de dólar por libra-peso, o que significa que os produtores terão prejuízo se as cotações internacionais ficarem abaixo desse piso. Segundo Victor Martins, gerente sénior de risco da Hedge Point Global Markets, com a atual configuração de custos, se o preço do algodão ficar entre 75 e 76 centavos de dólar por libra-peso, muitos agricultores de Mato Grosso, Estado que lidera o cultivo de algodão no Brasil, podem perder de US$ 5 a US$ 7 por arroba.
A pluma até subiu na última sexta-feira – os contratos para março do ano que vem fecharam em alta de 1,67%, a 78,55 centavos de dólar por libra-peso -, mas, no dia anterior, após sete quedas em sequência, o preço desceu a 77,26 centavos de dólar por libra-peso. Essa é o patamar mais baixo dos preços desde dezembro de 2020.
Martins diz que, no cenário macro, preocupam tanto o aumento da inflação nos Estados Unidos quanto a desaceleração da economia chinesa. “O mercado está muito sensível aos fundamentos macroeconômicos. Os americanos são os maiores consumidores no varejo de produtos feitos de algodão, e a China é uma grande fabricante de tecidos”, explica.
Outro elemento de pressão sobre as cotações é a alta do dólar. A moeda americana é um ativo que muitos investidores consideram mais seguro para momentos de turbulência, mas, para os produtores americanos da pluma, a valorização cambial representa perda de competitividade das exportações. “A alta do dólar faz com que o algodão posto na Ásia fique muito mais caro, especialmente para os chineses”, diz Martins.
Na sexta-feira, a moeda americana recuou após o jornal “The Wall Street Journal” noticiar que cresceram as apostas em um alívio no aperto monetário no país. O Federal Reserve, o banco central dos EUA, fez sucessivos aumentos de 0,75 ponto percentual nos juros, e agora, segundo a publicação, ganhou força no mercado a projeção de aumento 0,5 ponto percentual na reunião de dezembro do Fed.
Júlio César Busato, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), diz que existe um temor de que a demanda vá se retrair, mas que o mercado ainda não sabe quanto. “Por causa desse medo de recessão, as lojas já estão diminuindo os pedidos para a indústria. Elas querem evitar a formação de estoques”, afirmou ele ao Valor.
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Busato realça que as cotações da pluma têm caído a despeito da série de cortes nas estimativas de produção global em 2022/23, consequência da seca no Texas, principal Estado produtor americano, e das enchentes no Paquistão e na índia, dois dos maiores produtores do mundo. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que projetava colheita de 26,17 milhões de toneladas em abril, agora prevê 25,7 milhões de toneladas.
Na contramão dos preços do algodão, os custos de produção subiram, em média, 50% neste ano. Os fertilizantes lideraram o aumento – o cloreto de potássio subiu 400% e o fósforo, 300%. “O que nos resta é nos agarrarmos à nossa produtividade, que já é a maior do mundo em áreas não-irrigadas”, afirma o dirigente.
Um exemplo dos esforços para o aumento de produtividade é o do Grupo Leal, de Alagoas. A empresa está investindo em um sistema de irrigação alimentado com energia fotovoltaica para garantir bom rendimento de suas lavouras da pluma em Formosa do Rio Preto, no oeste da Bahia.
João Toledo de Albuquerque, responsável pelo negócio, diz que a volatilidade faz parte do mercado de commodities e que os produtores precisam avaliar quais são as variáveis sobre as quais eles podem agir para diminuir os riscos. “Em outros países o setor é protegido com subsídios. No Brasil, a gente tem que se virar. Talvez isso tenha nos feitos mais fortes”, pondera, tentando ver o lado meio-cheio do copo.
Mesmo com as incertezas, o cultivo de algodão tem crescido no país. Segundo levantamento da Abrapa sobre intenção de plantio, a área de produção vai aumentar l,5%em2022/23, para l,66milhão de hectares. Com um salto de 16,4% na produtividade média, estima-se uma colheita de 2,95 milhões de toneladas, ou 18,1% maior que a da safra passada.
Fonte: Valor Econômico
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