Sensoriamento remoto e a diversificação do crédito agrícola

Com a ajuda da tecnologia o agronegócio vem passando de um setor quase desconhecido e se tornando cada vez mais familiar aos agentes do mercado financeiro.

Com uma estimativa de demanda de recursos da ordem de R$ 800 bilhões para custear a safra 2021/22, estamos presenciando uma diversidade na distribuição de crédito agrícola que difere das décadas passadas. O governo destinou mais de R$ 230 bilhões aos produtores, o que representa cerca de um terço do total de recursos. O restante está distribuído entre bancos, cooperativas, revendas, empresas de insumos e tradings, além de capital do próprio produtor.

Tradicionalmente, o setor financeiro avaliava as operações de crédito agrícola como algo complexo, que demandava conhecimento específico e com alto risco. Por isso, não operava no setor agro ou então elevava o nível de risco, inserindo alta taxas de juros. Porém, o cenário mudou.

Com a acelerada digitalização de diversos setores e a capacidade de operar risco com dados robustos e acurácia, utilizando, por exemplo, os dados de sensoriamento remoto por meio de satélites e outras tecnologias de ponta envolvidas, o agronegócio vem passando de um setor quase desconhecido e se tornando cada vez mais familiar aos agentes do mercado financeiro.

Esta ponte está sendo construída de forma rápida e o produtor só tem a ganhar, uma vez que poderá ter acesso a maior diversidade de fontes de recursos com taxas mais atrativas. Porém, é necessária muita atenção na construção dessa ponte, já que algumas poucas operações de crédito malsucedidas podem contaminar uma carteira inteira e gerar resultados bastante negativos aos operadores de crédito. Perde o produtor e perde a Faria Lima.

Hoje vemos uma multiplicação de fintechs ligadas ao agro com propostas de valor das mais diversas, mas todas convergem para pelo menos dois pontos comuns: facilidade e segurança nas operações. A facilidade vem da sistematização dos processos burocráticos por escritórios ou startups especializados no assunto, e a segurança, de uma criteriosa análise de cada uma das operações.

Como segurança é um assunto com o qual não se brinca, o setor vem se organizando de tal modo a ter modelos robustos de quantificação de riscos associados ao clima, comportamento, histórico, mercado, entre outros, de modo que cada operação seja individualizada e ofereça um risco sempre bem calculado.

Mesmo para quem está acostumado com este mercado, todo ano aparece algo novo, especialmente no Brasil. Em países de clima temperado o sistema produtivo é um pouco mais simples quando comparado ao que temos no Brasil. Por lá, a janela de plantio é bem definida, assim como o desenvolvimento de uma cultura (que pode até ser previsto com boa confiabilidade antes de ser semeada), sua senescência e há possibilidade de alguma cultura de cobertura antes do início do inverno. Por aqui temos um sistema muito dinâmico: onde antes fazíamos uma safra por ano com cultivo convencional, hoje fazemos duas safras com plantio direto, para citar um exemplo muito conhecido.

Além disso, em outras áreas do país, após a segunda safra temos ainda o desenvolvimento de uma cultura de cobertura até o início de um novo ciclo da cultura principal. Áreas com baixa aptidão que tradicionalmente eram de pecuária estão cada vez mais migrando para agricultura, com ganhos expressivos em produtividade por hectare.

Temos áreas com incidência de veranicos acentuados e solos arenosos – ou até cascalhentos – produzindo, o que era impensável e inviável há poucos anos. Temos também tecnologia para plantio de milho antes da colheita da soja, aproveitando muito mais a água e a energia solar disponíveis em abundância no nosso território.

Toda essa complexidade e constante evolução tornam nosso agronegócio cada vez mais produtivo e competitivo, e os algoritmos que modelam o risco para estas diversas condições precisam cada vez mais de aperfeiçoamento. Conhecimento de campo é essencial para que estes modelos sejam capazes de traduzir de forma fiel o que ocorre na realidade das lavouras, afinal, um modelo é sempre uma simplificação da realidade.

Fonte: Globo Rural

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