A carne que não é carne é uma alternativa para a produção agropecuária, responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil.
Parece carne, mas não é.
Essa é a lógica do bife bioimpresso, um projeto desenvolvido por pesquisadores de Gestão e Tecnologia Industrial do Senai Cimatec, em Salvador. A carne que não é carne é uma alternativa para a produção agropecuária, responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil.
Funciona assim: 15 profissionais trabalham em testes feitos a partir de células tronco extraídas da carne bovina. Eles estão nos laboratórios do Instituto Senai de Tecnologia em Alimentos e Bebidas e Instituto Senai de Sistemas Avançados de Saúde.
Ali, desenvolvem células em uma estrutura morfológica similar à carne, que recebem nutrientes e se multiplicam. O bife de laboratório é impresso em 3D em uma bioimpressora. E dá certo: ele tem a aparência e textura de carne.
A missão, agora, é torná-lo tão saboroso quanto uma picanha – a diferença é que não virá do animal, mas a partir de proteína cultivada. “As células são combinadas com biomateriais comestíveis que formam a parte sólida da carne de laboratório”, explicou Josiane Dantas, coordenadora do mestrado em Gestão e Tecnologia Industrial do Senai Cimatec, ao site Portal da Indústria.
Segundo a pesquisadora, os cientistas usam um produto à base de quitosana, suplemento natural extraído da casca do camarão. O vermelho que imita a cor da carne vem de corantes naturais – os mesmos já usados pela indústria para consumo humano.
“As fazendas do futuro não terão somente pastos”, afirmou. “Elas serão formadas, também, por grandes tonéis de concentração e reprodução de células tronco”.
Nos mercados a partir de 2027
O bife bioimpresso ainda precisa passar por etapas regulatórias para o produto entrar no mercado brasileiro – como acontece com todos os produtos comercializados no país. Mas os pesquisadores estimam que o alimento chegará às prateleiras dos supermercados a partir de 2027.
Hoje só Singapura comercializa esse tipo de carne. Em breve, Israel e Japão deverão fazer o mesmo. Os dois países estão avançados no processo de regulação para venda e consumo de carne bioimpressa.
O projeto do Senai tem referências da tecnologia já desenvolvida por startups dos EUA e Israel. Ainda assim, o rol da equipe é vasto e muitas das soluções necessárias para produzir a carne vêm de pesquisadores brasileiros.
Carne sem dano ao meio ambiente
O bife bioimpresso é uma das soluções para cortar as emissões globais de gases de efeito estufa pela metade até 2030. Mas, além disso, pode servir no combate à insegurança alimentar no Brasil e no mundo. E, claro, tem potencial econômico.
“É uma oportunidade de negócio para a indústria alimentícia”, disse a engenheira de alimentos do Senai Cimatec, Tatiana Nery. O objetivo não é substituir a carne de verdade, em especial a bovina, mas oferecer uma alternativa extra para o mercado.
Segundo o diretor de Tecnologia e Inovação do Senai Cimatec, Leone Andrade, a equipe de trabalho buscou empresas e indústrias para auxiliar nas etapas finais de desenvolvimento mesmo que a tecnologia ainda não esteja 100% dominada. “Logo em seguida, nossos parceiros devem colocar os produtos no mercado”, afirmou.
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Enquanto isso, os testes continuam. “Estamos caminhando para acelerar essas etapas iniciais e, para isso, é fundamental ter insumos e investimentos”, disse Nery.
Fonte: Gizmodo