Sem contêineres, agro perde, no mínimo, US$ 500 milhões

O Brasil está com dificuldade para exportar vários produtos do agronegócios pela falta de contêineres e o alto custo do frete. Confira!

Por causa da pandemia, as empresas de transporte marítimo mudaram rotas e cancelaram escalas de navios. A recuperação econômica de forma desigual no mundo também está interferindo na movimentação de contêineres e no preço do frete marítimo. Um levantamento recente feito com 128 empresas mostra que, dependendo da rota, o preço do transporte nos portos subiu 5 vezes, de US$ 2 mil para US$ 10 mil por contêiner.

É um problema global. Navios estão ficando parados em quarentena para evitar a transmissão da Covid-19. Outros aguardam a vez para atracar em portos, principalmente da Ásia.

O diretor executivo das Agências de Navegação do Estado de São Paulo explicou que a movimentação de cargas aumentou muito nas rotas entre a Ásia, Estados Unidos e a Europa, e isso ajuda a explicar o desequilíbrio da oferta de contêineres no Brasil.

A falta de contêineres a nível mundial acende um alerta para o agronegócio brasileiro. Com cenário desfavorável para a logística nacional, a situação a escassez desse tipo de estrutura só deverá ser solucionada no segundo semestre de 2022, segundo Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa que atua na assessoria de comércio internacional.

Com a competição a nível global por serviços de transportes, as empresas do ramo dão preferência para países que possuem maior participação no comércio internacional. Mesmo com grande capacidade, o Brasil corresponde apenas a 1% dos contêineres movimentados no mundo e está fora das principais rotas de navegação, o que causa uma enorme dificuldade em obter ganhos logísticos nesse período de pandemia”, explica Pizzamiglio.

A falta de contêineres é motivada, principalmente, pela alta demanda nos grandes portos exportadores, como Ásia, Estados Unidos e a Europa, que atraem os armadores por serem mais rentáveis comparado a outros países, como o Brasil.

No entanto, a alta do preço do frete também já pesa no bolso dos brasileiros que negociam com o comércio exterior. “Antes da pandemia, o frete de importação da China ao Brasil estava na casa dos US$ 2 mil. Atualmente esse valor é de US$ 12 mil, e em alguns casos pode chegar até a US$ 20 mil”, destaca Pizzamiglio.

porto com navio atracado carregando containes
Foto: Divulgação / Wilson Sons

Mais tempo no porto

A escassez de contêineres também é motivada, em menor grau, pelas medidas sanitárias contra a Covid-19, que podem gerar a retenção das embarcações por até 15 dias quando um caso é identificado entre a tripulação.Essa contenção também ocorre quando há acidentes/imprevistos no geral, como do Canal de Suez.

Navio Ever Given atravessa o Canal de Suez novamente, 150 dias após encalhar no caminho, “Tudo isso vai tirando a capacidade de transporte e por isso está faltando espaço nos contêineres e nas embarcações”, diz Souza.

Duas consequências seguem estes problemas: o frete fica caro e grandes filas de navios se formam nos portos mais movimentados, que atraíram a contratação dos contêineres. Confira abaixo:

Veja o tempo de espera nos portos mais movimentados do mundo

Em busca do tempo perdido

A alta da demanda teve início quando os governos no mundo todo criaram programas de transferência de renda, como o auxílio emergencial aqui no Brasil, para reaquecer o mercado e ajudar as pessoas que se encontravam desempregadas, explica o professor do grupo de pesquisa e extensão em logística da Esalq-USP, Thiago Pera.

No primeiro semestre de 2021, na comparação com o mesmo período de 2020, houve um aumento de 17% na movimentação de contêineres no Brasil, segundo o professor.Em contrapartida, houve uma queda de 5% na proporção de contêineres cheios chegando aos portos do país, o que leva a um segundo problema: com a maior demanda, os navios, quando em portos importadores, retornam sem estarem completos para tentarem atender aos prazos acordados com os clientes.

“Um produto que usa contêiner, ele precisa de contêiner vazio, então tem logística para trazer ele vazio. O que tem observado, têm navios que não esperam todo o tempo para fazer esse carregamento de contêiner vazio, preferem já sair para melhorar a sua produtividade em decorrência dos atrasos e congestionamentos que têm acontecido nos portos”, explica.

Isso gera o que a ABTTC chama de “bookings fantasmas”, embarcações viajando sem atenderem sua capacidade total.

“Esse desequilíbrio está também muito associado aos preços de fretes marítimos muito atrativos para os navios, os quais optam muitas vezes por girar mais o navio do que ficar parado esperando contêineres vazios para carregamento”, explica Pera.

Sem contêineres, agro perde, no mínimo, US$ 500 milhões

Segundo Fábio Pizzamiglio, os setores do agronegócio mais afetados pela falta de contêineres no mundo são aqueles que utilizam estruturas refrigeradas, como o de carnes. No entanto, diante dos problemas logísticos, o setor de café deixou de vender ao exterior 3,5 milhões de sacas nos últimos meses, perdendo uma receita de US$ 500 milhões, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Até o momento, não há relatos de perdas nas exportações de carnes pela falta de infraestrutura adequada, porém, as exportações brasileiras de arroz no primeiro semestre deste ano foram afetadas pela falta de contêineres, conforme relato da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz).

Diante do cenário preocupante para o agro, no final de agosto, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), enviou um ofício ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, solicitando uma reunião para debater a falta de contêineres.

No documento, a FPA disse que uma medida a curto prazo para amenizar os problemas logísticos seria a criação de um plano de contingência, que deve ser elaborado pelo ministério com conjunto com armadores do país.

Segundo informações da FPA, até o momento, o governo ainda não deu retorno sobre o ofício, que foi assinado por 13 entidades do setor produtivo.

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