Seleção genômica: acelere o melhoramento genético de touros e vacas

A genômica será, em breve, uma realidade viável para o melhoramento genético de bovinos leiteiros. Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Gado de Leite, debatidas durante um evento científico que discutiu os avanços da seleção genômica, indicam que é possível dobrar a velocidade da seleção dos rebanhos leiteiros, com custos menores, utilizando as informações geradas a partir do DNA dos animais. Esse avanço deriva do sequenciamento genético bovino, que foi anunciado pela revista Science em 2009, com diversos desdobramentos para as pesquisas realizadas no Brasil.

A partir da divulgação do sequenciamento divulgado pela Science, do qual participaram pesquisadores brasileiros, os estudos tiveram continuidade no Brasil. O objetivo foi identificar diferenças entre os genomas das raças de origem europeia (Bos taurus taurus) e as raças zebuínas, de origem indiana (Bos taurus indicus), de maior interesse econômico para a o País, devido à rusticidade e adaptabilidade às condições tropicais. Em 2012, foram divulgados os primeiros resultados das pesquisas do DNA das raças zebuínas.

“Identificamos mais de cinco milhões de SNPs específicos para as raças zebuínas”, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marcos Vinicius G. B. da Silva. SNP é um tipo de marcador molecular, cuja sigla traduzida para o português significa “polimorfismo de um único nucleotídeo”. Silva explica que o DNA é uma sequência de nucleotídeos e são esses polimorfismos que diferenciam um indivíduo do outro, determinando se um animal será mais ou menos susceptível a alguma doença, por exemplo. Estima-se que o bovino tenha cerca de seis milhões de marcadores moleculares do tipo SNP.

As pesquisas coordenadas por Silva, apresentadas no workshop, tiveram como objetivo identificar os SNPs vinculados às características de interesse econômico para a pecuária de leite: tolerância a parasitas e ao estresse térmico; produção de sólidos (proteína, gordura e lactose); persistência da lactação etc. Isso reduziu o número de SNPs a serem analisados para cerca de 30 mil, tornando mais objetivos os procedimentos de seleção. O passo seguinte foi desenvolver equações de predição que permitissem identificar os efeitos dos SNPs dos indivíduos e selecioná-los de acordo com os interesses econômicos.

Genômica na prática

A Embrapa Gado de Leite e as associações de criadores de gado estão acertando os últimos detalhes para que essa tecnologia esteja, em breve, ao alcance dos produtores. A expectativa é que os testes de progênie dos programas de melhoramento em gado leiteiro passem a usar o valor genômico de touros e vacas. Quando a tecnologia estiver disponível, o procedimento para a seleção genômica do bovino ocorrerá da seguinte forma: o produtor retira amostra de tecido biológico do animal (amostra de sangue ou pelo) e a enviada aos laboratórios comerciais credenciados que irão extrair o DNA e realizar a genotipagem para os marcadores de SNP. Com os genótipos em mãos, a equipe da Embrapa Gado de Leite irá proceder às avaliações genômicas. Na sequência, o produtor recebe um relatório com o perfil genético do animal. Com base nesse perfil, ele tomará decisões sobre as estratégias de cruzamento e decidirá se utiliza ou não um touro jovem em programas de teste de progênie, por exemplo.

“A seleção genômica irá racionalizar o processo de melhoramento genético, tornando-o menos arriscado ao produtor”, diz o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Marco Antônio Machado. Supondo que o criador tenha vários tourinhos com o mesmo grau de parentesco (irmãos completos), caso o criador só possua recursos para inscrever apenas um indivíduo para o teste de progênie, a comparação do genótipo de cada um deles definirá o mais adequado para o programa. Marco Antônio Machado conclui que a seleção genômica vai democratizar as oportunidades do melhoramento genético, na medida em que reduz os custos do processo. O mesmo trabalho que levaria sete anos pode ser feito em apenas dois com maior grau de certeza (veja quadro no fim do texto).

A genética molecular também permite que a seleção seja feita antes de o animal nascer. É possível retirar uma pequena amostra (dez células) de um embrião após sete dias da fecundação in vitro (fecundação realizada no laboratório) e analisar o genoma do embrião, por meio dessas poucas células. Caso o embrião possua as características desejáveis, ele será transferido para a vaca (barriga de aluguel) que irá completar a gestação. Esse procedimento também economiza tempo e otimiza as barrigas de aluguel, pois a vaca passará a gerar somente os embriões que foram selecionados como os melhores. Na Embrapa Gado de Leite, o pesquisador Luiz Sérgio Camargo realizou vários estudos para confirmar que o procedimento não prejudica a gestação.

A seleção genômica embrionária vem atender um importante nicho de mercado. O Brasil é o maior produtor de embriões bovinos do mundo (cerca de 400 mil embriões por ano). Esse contingente ainda não é selecionado pelo valor genômico. Quando isso ocorrer, haverá maior confiabilidade dos produtos, acarretando em maior velocidade do melhoramento genético dos rebanhos. Aliás, velocidade é a nova tônica no processo de seleção genética. Pelo método tradicional, Silva estima que o ganho com o processo de melhoramento seja de até 2% por ano. A revolução que a genética molecular implementou, associada à evolução dos métodos estatísticos e à introdução de modelos computacionais ao processo, irá mais do que dobrar esse ganho.


Por Rubens Neiva em Embrapa Gado de Leite

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