Proibição de carne cultivada está sendo considerada, seguindo o exemplo da Itália; parlamento italiano proibiu carne cultivada em laboratório
A Itália tornou-se no primeiro país da União Europeia a proibir a carne cultivada em laboratório. A lei, votada no Parlamento em Roma, cita potenciais preocupações sanitárias e a necessidade de proteger os criadores de gado. Bruxelas considera este tipo de produto um “novo alimento” e, como tal, ainda não autorizou a sua venda no bloco comunitário. Mas a carne cultivada já foi aprovada para consumo nos EUA e em Singapura.
A proibição também tem sido objeto de debate interno na Itália, com defensores do livre mercado em conflito com aqueles que desejam proibir a produção de carne cultivada no país. Os defensores da carne de laboratório afirmam que é uma solução viável para problemas éticos e ambientais.
A lei proíbe alimentos sintéticos produzidos a partir de células animais sem abatimento do animal e restringe o uso de termos relacionados à carne nos rótulos de proteínas vegetais.
Seguindo o exemplo dos italianos, o Ministro da Agricultura da Hungria, Nagy István, reuniu-se nesta semana com Ettore Prandini, presidente da Coldiretti, a Associação de Agricultores da Itália, sobre a proibição da carne cultivada em laboratório e a proteção dos valores rurais tradicionais.
Segundo um comunicado, o ministro afirmou que a Itália proibiu a produção e comercialização de carne cultivada, que “está a ser estudada pela Hungria e é considerada um exemplo a seguir”. A questão da regulamentação também está na agenda da presidência húngara da União Européia, pois pretendem ter um amplo diálogo sobre o tema.
O ministro lembrou da importância do trabalho dos produtores rurais, que têm os dois pés no chão, devem ser respeitados. Algumas pessoas distanciaram-se da natureza, “criando um pseudo-romantismo sobre os animais”.
“A maioria da sociedade precisa compreender que sem produtores rurais não há alimentos nem futuro”, destacou o ministro, acrescentando que estão trabalhando para restaurar o reconhecimento dos produtores frente a sociedade.
Carne feita em laboratório pode ser até 25 vezes pior para o clima, diz estudo
A possibilidade de consumir carne sem ter que matar ou ferir animais está no horizonte, graças ao desenvolvimento da tecnologia da cultivar carne “em laboratório”, ou seja, a partir de células de origem animal que se reproduzem sozinhas. É um plano atrativo por razões morais, de saúde e ambientais. Mas um novo estudo excluiu as razões ambientais da equação: a carne produzida por cultivo de células pode emitir de quatro até 25 vezes mais gases de carbono por quilograma que aquela obtida do gado de corte.
Evidentemente para quem acredita que é antiético criar e matar animais para comer, o método da produção de carne via cultura de células continua imbatível comparado com a pecuária tradicional, especialmente a intensiva. Contudo, é importante lembrar que o meio de cultura utilizado vem do soro sanguíneo de animais, que ainda não é possível produzir completamente em laboratório.
Os autores concluem que, antes que os biorreatores de produção de carne cultivada sejam elevados à escala industrial, os problemas apresentados devem ser resolvidos com a inovação, por exemplo substituindo a base de soro animal por uma derivada de plantas, superando o problema das endotoxinas e desenvolvendo linhagens celulares mais resilientes. No momento, a “carne de laboratório” que existe é produzida com perda econômica.
JBS constrói a maior fábrica do mundo de carne cultivada
Contrariando essa tendência de proibição, a gigante do setor de alimentos JBS anunciou recentemente o início da construção da primeira fábrica em escala comercial de carne cultivada da BioTech Foods, na qual a companhia brasileira é sócia majoritária, na Espanha. Segundo a JBS, a unidade será a maior do mundo em produção de carne cultivada em laboratório. A previsão é que, até meados de 2024, a fábrica seja capaz de produzir mais de mil toneladas de proteína cultivada por ano, podendo expandir sua capacidade para 4 mil toneladas anuais a médio prazo.
A JBS planeja expandir gradualmente a capacidade produtiva da BioTech Foods para atender à crescente demanda dos consumidores em mercados-chave, como Austrália, Brasil, União Europeia, Japão, Cingapura e Estados Unidos. Com essa iniciativa, a empresa reafirma seu compromisso com a produção sustentável e busca impulsionar a segurança alimentar global, oferecendo opções de proteínas inovadoras e alinhadas com as demandas dos consumidores.
Além do empreendimento na Espanha, a JBS vai construir um centro de última geração para pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia e proteína cultivada em Florianópolis, com investimento de estimado US$ 60 milhões.
Deputado quer proibir carne cultivada em laboratório no Brasil
O Deputado Federal Tião Medeiros (PP-PR) protocolou na Câmara um projeto o PL 4616/2023 onde, se aprovado, fica proibida a pesquisa privada, produção, reprodução, importação, exportação, transporte e comercialização de carne animal cultivada em laboratório sob qualquer técnica e seus subprodutos. Para fins desta Lei, entende-se por “carne animal cultivada” qualquer produto alimentício de origem animal obtido através de técnicas de cultura celular ou sintética, sem o abate do animal. De acordo com o parlamentar, a medida é necessária para “proteger a indústria pecuária nacional”.
Segundo o parlamentar, países como o Brasil, que tem uma grande quantidade de gado, podem ser ameaçados pelo desenvolvimento desse tipo de carne. Em 2022, o rebanho bovino cresceu pelo quarto ano consecutivo e alcançou novo recorde da série histórica, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), divulgada pelo IBGE. O crescimento de 4,3% fez o número de cabeças chegar a 234,4 milhões, quantidade superior ao da população humana no país.
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